Eleições europeias: as gestoras de fundos analisam o impacto dos resultados

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sledzik1984, Flickr, Creative Commons

Já se conhecem os resultados das eleições para o Parlamento Europeu e, por isso, todas as incógnitas que pendiam sobre o resultado das eleições terminaram. O Partido Popular europeu ganhou as eleições (212 eurodeputados), à frente dos Socialistas Europeus (S&D), que se mantêm como a segunda força política (conseguiram 185 lugares). Os liberais converteram-se na terceira força política a nível europeu, com 71 assentos, e os Verdes na quarta (55). Confirmada ficou também a ascensão dos partidos eurocéticos, graças ao avanço que experimentaram na França, Reino Unido e Itália. Ainda assim, o seu peso continua a ser minoritário. Os especialistas asseguram que, com estes resultados, a conclusão é clara: por um lado existem maiores dificuldades para alcançar alianças que resultem de um governo estável fora da fórmula PPE-PS. Por outro lado,  o peso dos países pró-europeus continua a ser maioritário. 

No que concerne à gestão da crise feita pelos líderes políticos da zona euro. Será o resultado das eleições para o Parlamento Europeu uma ameaça para a Europa? À priori tudo parece indicar que não. As gestoras internacionais já tinham feito uma avaliação do desenlace destas eleições, que demonstraram ser um teste à cidadania. Christian Von Engelbrechten, gestor do FF Germany Fund, prevê que as eleições deixem poucas marcas. “Embora os mercados possam reagir com algum nervosismo perante o número de eurocéticos, o gestor da Fidelity Worldwide Investment assegura que “após a eleição, espera que a importância do populismo de direita se vá reduzindo gradualmente à medida que as economias europeias melhorem”.

A sua visão sobre a recuperação económica na zona euro é positiva: “Tendo em conta que a periferia está a registar superavits por conta corrente e que a Europa voltou ao caminho do crescimento, acredito que os números do emprego vão começar a dar “alegrias”. As intenções de contratações das empresas na Europa estão a aumentar, enquanto o desemprego em Espanha já está a começar a descer”, indica. Também sublinha o crescimento das exportações em Espanha, que estão a ganhar competitividade depois das fortes reformas, que segundo a sua opinião “evidenciam que os fortes ajustes aplicados estão a funcionar, tendo dado também frutos as duras reformas aplicadas na Alemanha”. 

Apesar da sua postura otimista, o gestor lança uma advertência: “É importante que os países e as empresas não “adormeçam à sombra da bananeira” por causa destes primeiros resultados positivos, e que continuem a preservar a competitividade do continente em relação a outras regiões”. 

Os três factores que marcaram estas eleições

Os especialistas do Deutsche Asset & Wealth Management analisam com mais profundidade as implicações deste processo eleitoral destacando três processos chave e elaborando um cenário de risco a partir deles. O primeiro ponto é a constatação da ascensão de formações políticas eurocéticas. Até domingo o parlamento europeu era formado por 34% de cristãos-democráticos, cerca de 24% de socialistas, 11% de liberais e 7% dos Verdes. Em contrapartida as sondagens deste ano já evidenciavam o claro avanço dos partidos políticos críticos em relação à União Europeia. No entanto, da DeAWM descartam que “este trunfo se traduza numa clara influência, já que os eurocéticos contam com poucos aliados com os quais possam formar uma coligação”, pelo que consideram que o seu impacto no mercado vai ser limitado e de curta duração. 

O segundo factor importante é o elevado nível de absentismo, que tem sido uma tendência crescente desde a constituição da UE: embora as primeiras eleições que se celebraram tenham contado com uma participação de 62%, atualmente a taxa é de 43%. “Algumas das razões para estes números de diminuição da participação são a emigração, o excesso de burocracia, uma democracia debilitada, e a dúvida acerca da importância das instituições europeias”, constatam da gestora. 

O terceiro factor tem a ver com os sentimentos divergentes sobre a UE: apesar do sentimento da Alemanha perante a Zona Euro se ter vindo a deteriorar com o tempo, na Grã-Bretanha abriu-se caminho ao seu habitual antieuropeísmo. “As eleições europeias foram vistas no país como um referendo prévio à saída da UE”, indicam os responsáveis pela análise. Entretanto também tem ganhado peso o sentimento negativo perante a UE em França, devido às preocupações sobre o alto nível de desemprego, e os eurocéticos são os que mais estão a beneficiar das lutas internas entre os partidos políticos franceses. Uma situação parecida vive-se também em Itália, onde o desemprego também é a maior preocupação da população. “Em Espanha, no entanto, as melhorias ao nível macroeconómico – melhoria do PIB, taxas estão em mínimos históricos, e o crescimento apoia-se numa melhoria leve do consumo doméstico – fizeram com que a imagem da UE se tenha fortalecido”, afirmam do DeAWM. 

Mais do que nas eleições ao parlamento europeu, a gestora vê um maior risco potencial na Grécia, caso o país tenha que voltar a realizar novas eleições, devido ao facto dos países de esquerda poderem ter um grande avanço. “Se este cenário ganhar forma, voltaria a estar sobre a mesa o debate sobre as políticas de austeridade, mas também sobre a presença do país na UE”, explicam. Outro risco possível, a seu ver, é que possa ocorrer um distanciamento entre o Parlamento Europeu e o Conselho: “Se os chefes de estado do Conselho Europeu decidirem eleger um presidente diferente daquele que é sugerido pela Comissão Europeia - Martin Schulz e Jean-Claude Juncker – isto poderia conduzir a um conflito político. No que diz respeito aos mercados, os investidores poderiam interpretar isto como uma prova de falta de equilíbrio na política europeia, o que se traduz num aumento do risco.