Apesar do seu baixo tracking error, o fundo emblemático da Eleva Capital gera alfa com um estilo muito tático, de alta rotação da carteira e active share, com o qual obteu, este ano, Rating FundsPeople+.
O Eleva European Selection é definido como um fundo de ações core. Ou seja, ao contrário dos vários homólogos da sua categoria, o estilo de gestão é completamente agnóstico. O fundo emblemático de Eric Bendahan, gestor da estratégia e fundador da Eleva Capital, não tem o clássico viés estrutural para o stock picking (nem growth, nem value). Além disso, combina macro e micro no momento de construir a carteira, o que o torna bastante tático e adaptável a contextos de mercado em mudança.
A sua seleção de empresas baseia-se unicamente em quatro critérios: serem empresas familiares, estarem em pleno processo de reestruturação, haver divergência entre o seu equity e a sua dívida, ou terem um múltiplo de crescimento melhor do que a sua indústria, negociando com desconto. Para um título entrar na carteira, deve cumprir pelo menos um destes quatro critérios.
Estilo muito tático
Esta filosofia permitiu-lhe ter sempre empresas disponíveis para investir, dependendo do perfil que pretende dar à carteira. Um estilo muito tático que tem funcionado a longo prazo e em mercados muito distintos, e pelo qual lhe foi atribuído, este ano, a máxima distinção: o Rating FundsPeople+.
2023 é um bom exemplo em que a maioria dos fundos core não superou o mercado, mas no qual a estratégia terminou o ano com +17,09% face aos 15,8% do seu índice, graças ao facto de ter começado o ano com um peso de 52% em setores cíclicos (principalmente consumo discricionário e setor financeiro), para depois proteger a carteira perante o declínio macro no segundo/terceiro trimestre do ano (baixando o value em 30% e aumentando o peso de setores mais defensivos, como a farmacêutica e o consumo básico) e aproveitar, novamente, o otimismo no final do ano, voltando a níveis de 54% value e 67% cíclicos (principalmente materiais e industriais). Por outro lado, se a sua carteira, no primeiro trimestre, se tivesse mantido igual durante todo o ano, o retorno teria sido de aproximadamente menos 400 pontos base.
Também não se observam vieses por capitalização na carteira do Eleva European Selection. Ao contrário de muitos dos seus homólogos, o fundo não está enviesado para large caps, pelo que pode investir em empresas de todo o tipo de capitalização, sendo outra fonte de geração de valor/diversificação face ao seu índice. Por exemplo, dado o mau comportamento das small e mid caps nos últimos anos, a carteira protegeu-se centrando-se em large caps, mas, desde o último trimestre do ano passado, a equipa tem começado a incorporar algumas mid caps (Akema, GN Store, Edenred), perante uma melhoria na perspetiva das mesmas.
Curiosamente, sendo um fundo core, tem um tracking error limitado (inferior a 5%), mas esse beta, próximo de 1, não limita a sua capacidade de gerar alfa. Dada a sua tática (turnover superior a 85% e active share >70%), foram capazes de conseguir alfa acima dos 3% desde o seu lançamento.
Últimos movimentos no Eleva European Selection
Quanto à visão de mercado, o gestor apresenta uma construtiva com a situação atual na Europa. Por um lado, acredita que a força da procura se vai manter, visto que os salários aumentaram mais do que a inflação, e as poupanças restantes geradas após a COVID, que, atualmente, proporcionam rendimentos no banco, fazem com que haja, pela primeira vez em muito tempo, uma sensação de aumento patrimonial nas famílias.
Quanto às empresas, estas demonstraram que podem crescer a taxas próximas do PIB nominal (que se poderá aproximar dos 4-4,5% este ano). Desta forma, o ciclo de excesso de stocks parece esgotado, pelo que a produção industrial deverá recuperar, e, além disso, a política de recompra de ações, muito difundida nos EUA, mas não tanto na Europa, está a estabelecer-se cada vez mais aqui. Tudo isto faz Eric Bendahan acreditar que tal pode contribuir para que assistamos a crescimentos de lucros próximos de 5%.