Emília Vieira (Casa de Investimentos): “Não queremos que um cliente novo seja um cliente para um mês, seis meses ou mesmo para um ano”

Emilia Vieira Casa de Investimentos
Emília Vieira. Créditos: Cedida (Casa de Investimentos)

A Casa de Investimentos tem vindo a reforçar significativamente a sua posição no mercado nacional de fundos de investimento. Mais reforçada ainda está a sua posição desde que decidiu canalizar a sua filosofia de gestão de patrimónios num fundo de investimento mobiliário PPR. A prova disso é que num ano negativo como o foi 2022, o fundo da casa conseguiu quase duplicar os seus ativos, com mais de 24 milhões de euros em dinheiro novo. Para perceber o caminho recente e o que poderá estar ao virar da esquina em termos de negócio, Emília Vieira, a CEO da Casa de Investimentos, sentou-se com a FundsPeople e partilhou as suas decisões estratégicas e opiniões sobre a indústria de gestão de ativos. 

Desde o princípio que a Casa de Investimentos opera de forma totalmente independente. Não só é a única entidade gestora independente dos dois grandes centros urbanos do país - sediada em Braga -, como distribui diretamente o seu fundo, bem como a sua gestão discricionária, e isso não vai mudar. Têm, hoje em dia, cerca de 4.000 clientes, e a ambição de duplicar o número este ano, mas não envolvendo entidades distribuidoras nesse caminho. “Não queremos que um cliente novo seja um cliente para um mês, seis meses ou mesmo para um ano. Gostamos de explicar o que fazemos e que os clientes tenham connosco um compromisso para o longo prazo”, explica. Já ao nível institucional e internacional, embora não seja o foco do negócio, encontram-se em processo de due dilligence para fundos de fundos e family offices espanhóis. 

No que se refere ao fundo PPR e à sua concorrência, a CEO lança uma crítica. “Os PPR foram vendidos no passado para usufruir da dedução à coleta e não tanto como instrumentos de capitalização a longo prazo, como deveriam ser. Não devemos desprezar as centenas de euros possíveis de economia fiscal, mas a verdade é que muita gente nem qualifica sequer para esse benefício fiscal”, introduz. “Aquilo que realmente importa é criar um produto, neste caso o PPR, que tem uma fiscalidade tremendamente vantajosa para acumular riqueza a longo-prazo. E qualquer governo, de qualquer país que quer ser desenvolvido, deve permitir aos seus cidadãos que trabalham, se esforçam e têm capacidade de poupar, a possibilidade de acumularem riqueza”, alerta a CEO.

PPR para empresas

O canal de desenvolvimento de negócio na via empresarial tem sido, segundo Emília Vieira, um canal de sucesso. “Começámos com a Outsystems e temos já, hoje em dia, 81 empresas entre os nossos clientes”, aponta. Como indica, os pacotes de retribuição oferecem, normalmente, “apenas opções nas quais os trabalhadores podem gastar o seu dinheiro, e nenhum veículo através do qual possam poupar. No PPR têm uma solução de poupança com a flexibilidade, pois podem levá-lo consigo se mudarem de emprego”, explica. 

A relação com o regulador

Para Emília Vieira, a relação com a CMVM tem sido “excelente”. Segundo diz, “os processos são lentos, mas a atitude é muito construtiva e educativa, sempre com um grande esforço pela segurança”. Contudo, considera que a definição de segurança e risco nem sempre vai ao encontro da sua. “Não concordo com a classificação de risco atribuída aos fundos. Como é que um fundo PPR que investe em matérias-primas, ou fundos com ativos como papel comercial ou private equity, sem liquidez, são considerados menos arriscado que um PPR 100% de ações?”, questiona.

Por outro lado, a CEO da Casa de Investimentos vê também como limitativa a forma como se desenvolve a custódia e depósito de fundos em Portugal. “Porque é que um fundo português tem que ter um custodiante nacional? Estamos na Europa, não deveria ser assim”, destaca. E vai mais além. “A maior parte das instituições financeiras em Portugal não quer fazer a custódia de fundos alheios. Para nós foi um processo difícil arranjar um provedor”, lembra. Na sua opinião, “por uma questão de diversificação de risco, nenhuma instituição deveria ser custodiante dos seus próprios fundos”, alerta. 

A sustentabilidade e o ESG

Segundo conta Emília Vieira, a ambição da Casa de Investimentos não passa por converter o fundo em artigo 8º da SFDR, muito embora a sustentabilidade seja considerada de forma indireta no seu processo de investimento. “As empresas e marcas mundiais em que investimos têm uma forte preocupação com as questões ambientais e sociais. Qualquer proposta que vai a comité de investimentos é batalhada na vertente ESG”, aponta. 

Já sobre a tendência que estas temáticas representam na indústria, a CEO mostra-se crítica. “A indústria aproveita qualquer razão para vender coisas novas e cobrar as suas comissões. Ao contrário de outras indústrias, na indústria financeira as pessoas não deveriam ir atrás da inovação”, atesta. Para a profissional, muito do movimento ESG é puro marketing. “É o maná para empresas como a Moody’s ou S&P, bem como para a indústria em geral. Obriga a criar ratings para tudo e mais alguma coisa e são lançados fundos que captam muito dinheiro independentemente da rentabilidade. É um manancial de comissões”, exclama.