A CEO explica a aquisição da La Financière de l’Échiquier e a sua fusão com a Tocqueville Finance, bem como a sua visão sobre as tendências na indústria de gestão de ativos.
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Vivemos tempos de concentração no setor da gestão de ativos. “E haverá mais, sobretudo em França, mas também além-fronteiras”, afirma Emmanuelle Mourey, CEO da La Banque Postale AM (doravante LBP AM) numa entrevista concedida à FundsPeople. “Em Espanha houve mais concentração, mas não tanto em França, onde atualmente existem cerca de 650 gestoras”, acrescenta.
Aquisição da La Financière de l'Échiquier (LFDE)
A LBP AM é o braço da gestão de ativos da La Banque Postale, banco público que pertence à Caisse des Dépôts. A LBP tem uma participação de 75% na gestora, enquanto os restantes 25% pertencem à holandesa Aegon desde 2015. “Temos uma estrutura com um acionista maioritário e um minoritário que estão muito interessados em que continuemos a crescer, o que explica em parte a aquisição da La Financière de l’Échiquier (LFDE) em 2023”.
O volume total sob gestão após a aquisição ultrapassa os 72.000 milhões de dólares. “Pode não parecer muito, mas é porque na nossa oferta não há nenhum produto plain vanilla de obrigações, nem monetários, são atividades que vendemos a outra gestora francesa no final de 2020. Mantemo-nos naquilo a que chamamos soluções de elevada margem e convicção para enfrentar os desafios do futuro e dar um melhor serviço aos nossos clientes”, explica.
O que está por detrás da aquisição da LFDE
Emmanuelle Mourey continua a explicar a razão da aquisição: “A LBP AM tem origem como gestora institucional. Se olharmos para a LFDE, o modelo é muito diferente: começaram por se dirigir a consultores financeiros independentes e depois passaram para o mercado grossista e, finalmente, para o institucional. Além disso, internacionalizaram-se, abrangendo cerca de oito países. Assim, se olharmos para o grupo, temos, por um lado, uma plataforma institucional muito forte, que beneficia de pertencer a um grupo grande como o LBP e, por outro, a LFDE, que nos oferece novos canais de distribuição”.
Com esta aquisição podem chegar a mais tipos de clientes. “Quando compramos a LFDE, geriam 12.000 milhões de euros, pelo que decidimos fundi-la com a Tocqueville Finance – na LBP desde 2018 – que gere cerca de 15.000 milhões. Desta forma, criamos uma gestora com um património de 27.000 milhões, especializa em gestão ativa de ações com elevada convicção. Acreditamos que agora é uma gestora muito mais sólida e atrativa. Temos uma dimensão que nos dá credibilidade, o que nos ajudará a continuar a crescer”, afirma.
Novas operações
Sobre se continuarão a crescer através de aquisições, a CEO responde que estão sempre a avaliar oportunidades: “O grupo já o faz há algum tempo. Adquirimos a CNP, uma grande seguradora, e desenvolvemos a banca privada com o Louvre Private Bank, para diversificar para além do retalho puro. Por sua vez, a LBP AM, nos últimos cinco anos, fez várias operações, como a compra da Tocqueville em 2018”. No entanto, após a fusão da Tocqueville com a LFDE, Emmanuelle Mourey considera que, por enquanto, não haverá mais operações no âmbito da gestão ativa, embora possam estar a procurar crescer mais em outras áreas como a dos mercados privados.
Como explica a aposta na gestão ativa num momento de extrema pujança do investimento passivo? “Os ETF são, sem dúvida, um grande sucesso na Europa, mas não vão dominar todo o mercado, continuará a ser necessário diversificar e qualquer investidor institucional razoável nunca colocará todos os ovos no mesmo cesto, continuarão a ser necessárias alternativas”, responde.
Emmanuelle Mourey acrescenta que “os ETF têm de ser grandes, o que significa que muitos clientes institucionais não veem as suas necessidades mais específicas satisfeitas, e isso é o que nós podemos fazer, oferecendo soluções personalizadas como smart beta, multiativos, ativos privados ou com a nossa ferramenta ESG. Podemos fazer uma oferta muito completa. Além disso, há segmentos do mercado em que os ETF não estão presentes, como nas obrigações alternativas ou mais especializadas, porque as margens não são tão elevadas”.
Tecnologia, IA, criptoativos
Outra das tendências presentes na indústria de gestão de ativos são as diversas manifestações da revolução tecnológica. “Acreditamos que continuará a haver um crescimento dos criptoativos. Trump parece apoiá-los. Não estamos lá, mas achamos, por exemplo, os ETF ativos muito interessantes. Estão no radar, porque achamos que é uma tendência que está a ganhar força. Também pensamos que, nos ativos privados, a tokenização chegará, embora não neste momento”, afirma.
Sobre a utilização da IA na gestão de ativos, acredita que a sua influência será, ao mesmo tempo, enorme e modesta. “É enorme no sentido em que a podemos utilizar para tratar a documentação, o reporting ou a inteligência de mercado de forma muito mais eficiente. Já temos vários proof concepts em marcha”. Ao mesmo tempo, considera que o seu efeito será mais modesto se for esperada uma revisão total da forma de trabalhar: “É preciso ter em conta que pode ser muito caro. Além disso, há ferramentas específicas muito úteis, mas ainda não existe nenhuma que possa funcionar como a inteligência humana, movendo-se através de diferentes espetros”.
Sustentabilidade
A LBP AM desenvolveu uma ferramenta muito poderosa para avaliar a sustentabilidade. “É uma base de dados onde se encontram 60 indicadores que podem ser agrupados em 13 temas como reciclagem, utilização da água, direitos humanos, diversidade, etc., para chegar a uma pontuação final para mais de 10.000 emitentes. É alimentada com dados de cerca de 14 provedores. O seu objetivo é obter dados, processá-los, dar-lhes sentido e articulá-los de forma a permitir comparações entre setores e empresas com essa pontuação final”.
No entanto, além desta ferramenta quantitativa, Emmanuelle Mourey destaca que “os gestores são quem melhor conhecem as suas empresas, pelo que também temos especialistas setoriais em diversas áreas como a biodiversidade, os direitos humanos e outras questões, que nos ajudam a entender como podemos traduzir as grandes políticas macro em matéria de sustentabilidade em políticas de gestão e engagement”.
Apesar dos contratempos, a CEO confessa-se apaixonada pela sustentabilidade. “Estamos a assistir ao aquecimento global e os efeitos das catástrofes naturais, e já há muitas empresas, como as seguradoras, que têm isto muito claro. Haverá altos e baixos no âmbito político, mas como investidores a longo prazo pensamos que um gestor não deve ignorar os riscos ESG que podem ameaçar os modelos de negócio. Temos de nos assegurar de que o investimento privado é uma ajuda nos processos de descarbonização e transição”. Para concluir, sublinha que os investimentos cross over, com uma parte líquida e outra ilíquida podem fazer parte dessa solução.