ESG na componente de crédito: do processo de seleção às green bonds

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André Braz, Luis Alvarenga, Rui Martins, Cristina Carvalho. Créditos: Vítor Duarte

A FundsPeople, em conjunto com a Amundi, reuniu no início de fevereiro, quatro profissionais de investimento num pequeno-almoço/discussão, onde se debateu o papel da sustentabilidade na gestão de obrigações. A opinião é consensual: os critérios ESG fazem parte do dia a dia da gestão de ativos. Na verdade, estes estão presentes há longos anos, agora apenas é preciso documentar a informação.

Este é o mote lançado por Cristina Carvalho, diretora para o mercado Institucional Ibérico e responsável pelo Mercado Português, da Amundi Iberia. “De certa forma, este tipo de informação sempre esteve presente nos processos de tomada de decisão de todas as entidades, atualmente dispomos de mais indicadores e de mais relatórios para corroborar as decisões tomadas”, afirma a profissional da Amundi. Luís Alvarenga, gestor de carteiras na BPI Gestão de Ativos, concorda: “Recordo-me desde sempre de ver empresas impactadas por temas ESG, mas não existia o enquadramento legal e regulatório, nem as ferramentas tecnológicas, para avaliar e gerir estes riscos”. O gestor destaca que atualmente existem várias ferramentas para aceder a informação e, como investidores profissionais, “seria irresponsável não olhar para elas”.

Olhos postos no futuro, não há dúvidas que o ESG veio para ficar. Mas qual é o caminho que nos espera? Apesar de haver concordância, discutem-se prioridades. Para Rui Martins, responsável de Alocação de Ativos na Caixa Gestão de Ativos, é necessário “focar esforços em formar os agentes tomadores de decisão e os investidores”. É preciso haver alterações na regulação para esclarecer dúvidas que se mantêm, em particular, nos inquéritos a ser feitos aos investidores. “É preciso tocar nestes assuntos de forma inteligente. As decisões tomadas não podem dificultar a gestão das carteiras”. André Braz, gestor de carteiras na Santander Asset Management, partilha da preocupação em definir critérios de sustentabilidade menos subjetivos, mas coerentes com o processo de gestão de ativos que temos atualmente. Deixa uma possibilidade no ar: “Talvez esteja na altura de falar de setores que em tempos se cortaram na totalidade. Porque não falar em armamento sustentável e responsável?”.

Importância das green bonds

Um tópico cada vez mais popular entre os investidores são as green bonds. Este tipo de ativo pode desempenhar um papel importante na gestão de ativos de uma entidade e beneficiam pela sua transparência e facilidade de acesso, segundo indica Cristina Carvalho

Luís Alvarenga explica: “Num enquadramento de sustentabilidade, a utilização deste instrumento está dependente do tipo de fundo em questão, do cliente e da política de investimento. Nos fundos em que existem objetivos de impacto claramente definidos, estas obrigações permitem de uma forma simples, transparente e standardizada, dar evidência de impacto. Adicionalmente, esta informação é revista e auditada o que assegura um elevado nível de escrutínio”.

Apesar de toda a utilidade que lhes é atribuída, estes instrumentos podem, porém, apresentar um binómio risco/retorno menos interessante. André Braz finaliza a discussão com esse mesmo alerta: “Com toda a pressão canalizada neste tipo de metodologia, é necessário ter cautela e garantir que o investimento para além de sustentável também é rentável”.