ETF: A réplica física deixou magoada a réplica sintética... mas não destruída

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O crescimento acentuado registado pela indústria de ETF durante a última década não esteve isento de importantes debates que foram acontecendo em torno da estrutura destes produtos de gestão passiva. Um dos mais relevantes foi a guerra entre os provedores de produtos de réplica física e os de réplica sintética, especialmente focados na idoneidade da estrutura destes últimos. Esta discussão ficou resolvida quando a ESMA se pronunciou, referindo que não vê problema algum nestes veículos e descartou fazer distinções por tipo de réplica, mas também com o veredicto dos fluxos, que começaram a dirigir-se para os ETF que fazem réplica direta.

Os maiores receios dos investidores relativamente aos produtos de réplica sintética deixaram este tipo de ETF muito magoados no que respeita à perceção que os investidores tinham do produto. Segundo dados da Morningstar, há dez anos, cerca de 60% do património em fundos cotados estava em produtos físicos, o que compara com 40% que acumulavam os sintéticos. Isto acontecia tanto em ETF de ações como de obrigações. Hoje, esta divisão está em 80/20 para os produtos que replicam índices de ações, e em 90/10 para os que replicam o comportamento dos índices de obrigações.

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Isto obrigou a que os provedores que tinham apostado em estruturas sintéticas migrassem parte das suas gamas para modelos que fazem uma réplica direta dos índices, sem que estivesse pelo meio qualquer instrumento swap. “A diminuição dos ativos em ETF sintéticos deve-se à preferência dos investidores pela simplicidade e ao menor risco de que se apercebem na réplica física. Provedores como a DWS, Lyxor e Amundi, que nos primeiros anos adotaram uma linha de produto exclusivamente sintética, passaram para um modelo híbrido, mudando muitos dos seus ETF para um modelo físico, bem como lançando novos fundos cotados de réplica física”, assinalam da empresa de análise.

No entanto, esta reconfiguração da oferta foi parcial, não total. Ou seja, afetou uma grande parte das gamas das gestoras que até então mantinham uma aposta nos sintéticos, mas não a toda ela. Alguns produtos mantiveram a sua estrutura em categorias tão importantes como as ações americanas (concretamente as estratégias que replicam o S&P 500) perante a convicção de que a estrutura via swap era mais eficiente, introduzindo em alguns casos, modificações na estrutura que permitem esvaziar as dúvidas dos investidores sobre estes produtos.

No caso dos ETF sobre o S&P 500, foram constatados esses melhores resultados relativos dos ETF sintéticos em comparação com os físicos. Neste sentido, não parece casual que os quatro fundos cotados que mostram um melhor retorno neste período sejam produtos que fazem réplica via swap, enquanto os quatro que apresentam rentabilidade mais baixa são de réplica direta. “Isto deve-se principalmente ao facto de os ETF sintéticos evitarem o pagamento de impostos correspondentes à retenção que se pratica no pagamento de dividendos em ações de empresas norte-americanas, enquanto que os físicos não podem fazê-lo (a retenção é de 15% para os fundos domiciliados na Irlanda e de 30% para os que têm o seu domicílio no Luxemburgo)”, explicam da Morningstar.

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“Durante muito tempo, a replicação sintética esteve carregada de conotações negativas, com preocupações expressas sobre a complexidade da estrutura e o risco de contraparte do swap. Estes são argumentos válidos, mas muitos investidores sentem-se cómodos com a estrutura sintética. Valorizam o facto de que fazem um acompanhamento mais consistente do índice, medido pelo tracking error, e no caso de certas exposições de mercado, a sua rentabilidade relativamente superior ao modelo físico de réplica”, sublinham da Morningstar.

“A réplica física é a rainha, mas a sintética tem o seu lugar. Nos últimos anos, muitos investidores têm-se dado conta que o modelo sintético oferece uma vantagem de rentabilidade considerável em relação aos ETF físicos, no que se refere a recolher o comportamento de índices como o S&P 500 ou o MSCI USA, já que os produtos sintéticos evitam o pagamento da retenção de impostos sobre os dividendos. Os provedores que comercializam ETF sobre o S&P 500, tanto físicos como sintéticos, confirmaram um crescente interesse pelos segundos, tanto por parte de novos investidores, como dos que investiam já em produtos físicos”, destacam da empresa de análise.