Euforia de vendas: a indústria de fundos europeia regista o melhor primeiro trimestre da história

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2011 Team Lotus photo archive, Flickr, Creative Commons

A indústria europeia de fundos acelera o seu crescimento. E de que maneira. As entradas líquidas registadas no sector a nível europeu no primeiro trimestre do ano superaram os 150.000 milhões de euros, segundo dados da Broadridge. É o número de captações mais elevado da história, que mostra um espetacular interesse dos investidores pelos fundos de investimento.  “No primeiro trimestre de 2016 falávamos de saídas de dinheiro para a indústria e hoje estamos a ver o melhor trimestre de que há memória”, afirma Diana Mackay. A CEO de Mackay Williams e Mark McFee, editor financeiro na consultora, classificam-no como um período em que temos visto “uma explosão de vendas e grandes surpresas no que diz respeito ao comportamento dos investidores”. Dizem-no pelo tipo de produtos nos quais tem entrado dinheiro.

Todas as categorias (ações, obrigações, mistos e alternativos) registaram captações líquidas, se bem que foram os fundos de obrigações os que levaram a melhor, ao absorverem 50% das entradas de dinheiro. “Até agora, o recorde de captações estava no primeiro trimestre de 2006. Vínhamos de um mercado de ações que em média oferecia em 2005 uma rentabilidade de 20% e que fez com que a indústria crescesse no primeiro trimestre de 2006 graças às entradas que registaram os produtos que investiram nessa classe de ativos. Foi uma resposta ao bull market de 2005. Contudo, o que vimos no arranque de 2017 é uma fotografia muito diferente do sentimento dos investidores. O interesse pelos títulos de obrigações disparou apesar dos sobressaltos que deu o mercado obrigacionista em 2016 e o facto de esta categoria de produtos oferecer uma rentabilidade que em média não supera os 5%”, sublinha Mackay.

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Além de tudo isto, está o facto de que o cenário não se apresenta nada fácil para os títulos de dívida, sobretudo tendo em conta que estamos num ambiente de subida da inflação e de aumento de taxas. “Parece que este comportamento do investidor não tem qualquer sentido”, afirma a responsável da consultora. O que está claro é que não se deve confundir o facto de a indústria estar a captar muito dinheiro com o investidor estar decidido a assumir mais risco. Nem pouco mais ou menos. Aliás, é o contrário. Continua a mostrar uma grande aversão ao risco, como demonstra o facto de, dos quase 160.000 milhões que captou (a indústria) no primeiro trimestre, 80.000 tenham ido para monetários, fundos de obrigações de curto prazo ou produtos de baixo risco. “A menor atividade que existe na contratação de fundos de ações mostra a aversão ao risco que existe nestes momentos”, aponta Mackay.

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Ao falar do mercado acionista, no primeiro trimestre voltou a verificar-se uma tendência que se está a consolidar: as entradas em produtos de gestão passiva e saídas em estratégias de gestão ativa. “Isto é em parte por causa da regulação e da pressão no preço, mas também por questões de liquidez, dada a possibilidade que oferecem os ETFs para construir ou desfazer rapidamente posições. O caso mais chamativo é o das ações americanas, onde no primeiro trimestre temos visto uma transferência de fundos de gestão ativa para passiva. É principalmente dinheiro de investidores sofisticados”, assinala a CEO. As previsões da consultora sobre a evolução dos fluxos para este ano são positivas. “A menos que se produza um grande choque no mercado que resulte em fortes reembolsos, o ano deve ser positivo para a indústria. Geralmente o é, quando o primeiro trimestre foi bom”.