Passam hoje dois anos do estabelecimento do estado de emergência em Portugal devido à COVID-19. Este é o primeiro de uma série de quatro artigos em que analisamos os setores que os gestores portugueses preferiram neste período.
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Passaram dois anos desde que o governo português decretou o estado de emergência em Portugal. Os motivos todos sabemos: a pandemia de COVID-19 crescia e o confinamento da população era a única solução à vista.
Por seu lado, os desafios e as oportunidades que os gestores de ativos enfrentaram na gestão dos seus portefólios foram abundantes. O mercado acionista europeu foi um dos mais afetados e as ações europeias ressentiram-se no período, com maior incidência nos primeiros tempos de pandemia.
Apresentamos agora uma evolução da exposição setorial dos fundos nacionais de ações europeias, segundo a base de dados da Morningstar, referente ao período compreendido entre janeiro de 2020 e janeiro de 2022. Este é apenas o primeiro artigo de uma sequência de análise que iremos fazer, cada um focado numa respetiva região.
Para esta análise, foram considerados os produtos inseridos na categoria Morningstar European Equity Large Cap, que no total são seis. Trata-se do BPI Euro Grandes Capitalizações e do BPI Europa, geridos pela BPI Gestão de Ativos, do Caixa Ações Europa Socialmente Responsável, sob responsabilidade da Caixa Gestão de Ativos, do IMGA European Equities, sob gestão da IM Gestão de Ativos, do Montepio Acções Europa, da Montepio Gestão de Activos, e por fim, do Santander Acções Europa, gerido pela Santander Asset Management.
Detalhes da carteira
Em primeiro lugar, há que deixar algumas notas. Dos seis fundos em análise, o Montepio Acções Europa é o fundo com maior número de ações em carteira: 102 ações. De seguida vem o IMGA European Equities com 90, o BPI Europa com 81, o BPI Euro Grandes Capitalizações com 56 ações, o Caixa Ações Europa Socialmente Responsável com 50 e o Santander Acções Europa com 46.
Destes, o fundo com maior percentagem de ativos alocados nas 10 primeiras posições da carteira é o Santander Acções Europa, com 42%. Contrastando com este número aparece o BPI Europa em que o grau de concentração de exposição no Top 10 é 25%, o mínimo dos seis produtos em análise.
Evolução da exposição setorial
Materiais básicos
Iniciando a análise pelo setor dos materiais básicos, podemos ver pelo gráfico acima que o produto que apresenta atualmente a maior exposição é o Santander Acções Europa, com cerca de 12,2%. Este valor representa quase o dobro da exposição que o fundo registava no início de 2020 (7%). De facto, tem sido um setor que este produto tem vindo a aumentar consecutivamente a sua exposição, cuja maior posição corresponde atualmente à mesma empresa que correspondia em 2020: a Linde.
Contudo, ao longo dos últimos dois anos, o fundo que registou a exposição máxima a este setor foi o BPI Europa, em abril de 2021, quando verificou uma alocação de 11%, momento em que a Rio Tinto era a maior aposta da equipa de gestão. No entanto, a partir desse momento, a sua exposição tem vindo a ser continuadamente reduzida até chegar aos 7,3% em janeiro de 2022, altura em que a CRH é a empresa com maior peso em carteira deste setor.
De notar que, em março de 2020, registaram-se algumas variações significativas na exposição a este setor, nomeadamente por parte do BPI Europa, que aumentou consideravelmente a alocação, o que contrasta com a decisão de alocação do IMGA European Equities, que diminui a exposição nesse mesmo período. À data mais recente em análise, o produto nacional com menor exposição ao setor dos materiais básicos é o BPI Euro Grandes Capitalizações, com 4,1% de exposição.
Serviços de comunicação
O setor dos serviços de comunicação já tem mais preponderância em alguns portefólios, ainda que a exposição dos seis fundos não ultrapasse os 8,71%, valor que corresponde à alocação do BPI Euro Grandes Capitalizações. De facto, o seu parente BPI Europa apresenta uma alocação muito semelhante a este setor. Foi este mesmo fundo que apresentou o valor mais elevado em alocação durante os últimos dois anos. Verificou 18,3% de exposição em janeiro de 2020, mas a partir desse mês, a tendência de alocação foi decrescente, sendo que, de abril para maio desse ano, verificou uma notável alteração da exposição.
Já, atualmente, o produto com menor exposição a este setor é o Montepio Acções Europa, com apenas 3,7% da carteira alocada a empresas deste setor.
Serviços financeiros
No que toca ao setor dos serviços financeiros, é de notar ser um setor com uma elevada preponderância nos portefólios dos fundos de ações europeias. Interessante observar que, em março de 2020, o BPI Europa aumentou significativamente a exposição ao mesmo, o que contrasta com as decisões de alocação dos restantes fundos, que diminuíram. Efetivamente, a aposta nessa altura por parte do fundo foi na Intesa Sanpaolo e no BNP Paribas.
Atualmente, todos os fundos apresentam uma semelhante percentagem de alocação a este setor.
Saúde
O setor da saúde foi um dos mais investigados e investidos nos últimos anos, pelas razões que todos sabemos. Um movimento que se nota pela maior preponderância que este setor tem nas carteiras dos produtos, face aos setores já mencionados.
Atualmente, é o IMGA European Equities que alcança a maior alocação a este setor, com 15,1%. Mas, logo de seguida, com valores muito próximos, estão o Montepio Acções Europa e o BPI Europa. Na verdade, desde janeiro de 2020 a janeiro de 2022, destes seis produtos em análise, foi o produto da IMGA que registou o valor máximo de exposição. Aconteceu exatamente quando eclodiu a pandemia a nível mundial (março de 2020), com uma exposição de 20,1%. Nessa mesma altura, também o BPI Europa registou uma significativa variação positiva na alocação a este setor.
Estes são valores que contrastam com a alocação do Santander Acções Europa, o produto com o valor mais baixo de alocação a este setor: 4,8% em janeiro de 2022.
Indústria
Relativamente ao setor indústria, todos os fundos mencionados obtêm uma exposição superior a 11%. Aquele com menor exposição é o BPI Euro Grandes Capitalizações, com 11,2%. Por outro lado, é o fundo gerido pela Santander Asset Management que verifica a maior alocação a este setor, com 16%.
De notar que a maior variação de alocação foi registada de janeiro a fevereiro de 2020, momento em que o BPI Europa aumentou a sua exposição em quase 10 pontos percentuais. O Montepio Acções Europa, que também constava com uma alocação relativamente menor do que os restantes produtos, aumentou a sua exposição em fevereiro de 2021 e a sua alocação a este setor ficou relativamente igual ao dos restantes fundos em análise.
Tecnológico
Passamos agora ao setor tecnológico que, tal como o setor da saúde, foi um dos mais cobiçados nos últimos anos. O que se pode observar é que todos os fundos foram aumentando, na generalidade, a sua exposição ao mesmo, principalmente no primeiro semestre de 2020.
No entanto, já no último mês de análise, todos diminuíram a sua alocação, principalmente o Santander Acções Europa que era o produto com mais exposição a este setor. Ainda assim, atualmente, o fundo com maior exposição ao setor tecnológico na europa é o BPI Euro Grandes Capitalizações com 14% da carteira alocada ao mesmo.
Energia
A energia é um setor que não tem uma elevada preponderância nestes fundos, aliás, no que toca ao fundo da Caixa GA, a exposição é mesmo 0%. Ao longo de 2020 a alocação manteve-se constate por parte de todos os fundos, sendo que, em 2021, aumentaram ligeiramente a alocação, mas por um breve período de tempo.
Atualmente, o fundo com maior exposição ao setor é o Santander Acções Europa, com mais de 7% de alocação. A TotalEnergies é aposta clara desta equipa de gestão.
Consumo cíclico
Já encontrar alguma tendência na exposição ao setor do consumo cíclico é mais difícil. Isto porque para além do Santander Acções Europa, que é o fundo com maior exposição a este setor, não se destaca mais nenhum fundo. Há muitas oscilações no nível de exposição a este setor e, no último mês, enquanto uns aumentaram a alocação ao mesmo, outros diminuíram.
Consumo defensivo
No geral, os seis fundos nacionais de ações europeias diminuíram a sua alocação ao setor do consumo defensivo nos últimos dois anos.
O Caixa Ações Europa Socialmente Responsável, que detinha a maior alocação em janeiro de 2020, continua a verificar a mesma posição em janeiro de 2022. De facto, a alocação a este setor por parte deste fundo continua a ser superior a 15%. O mesmo comportamento acontece com o Santander Acções Europa, em termos de menor exposição, verificando agora 1,4% de exposição.
Utilities
Por fim, o setor das utilities. Na região europeia, este setor chegou a ter uma preponderância significativa no último trimestre de 2020, mais precisamente no BPI Euro Grandes Capitalizações, chegando a deter um peso de quase 12% na carteira. De facto, esse foi um movimento semelhante registado ao nível do BPI Europa e do fundo da Montepio GA. A partir desse momento, o setor tem vindo a perder peso nas carteiras destes fundos.
Adicionalmente, de notar, no início de 2020, a grande reviravolta que houve ao nível da alocação do BPI Euro Grandes Capitalizações. O fundo passou de uma exposição de 2% para 8,7% em apenas dois meses. Atualmente, deste universo, este é o produto em que este setor tem um maior peso na carteira, registando 5,7%.