A situação da Grécia foi o ponto central da reunião de ontem do Ecofin, um dia depois de o Eurogrupo ter concedido mais dois anos ao país para o cumprimento das metas orçamentais, num encontro que deixou evidente a falta de entendimento sobre o problema da dívida grega.
A notícia de que a Grécia irá ter até 2016 para atingir os objectivos é uma positiva, mas já esperada, refere a Patris Gestão de Activos, da mesma forma que, não houve uma decisão final sobre a próxima parcela do empréstimo àquele país (de cerca de 31,5 mil milhões de euros). “Apesar de já ser esperado é um aspecto negativo porque mantém a incerteza nos mercados”, adianta, à Funds People Portugal. Uma decisão final é esperada na próxima semana, quando os 17 ministros das Finanças da Zona Euro se reunirem (dia 20).
Além disso, refere a sociedade gestora, “surgiram sinais de discórdia entre a Comissão Europeia e o FMI relativamente à sustentabilidade da dívida da Grécia”, aos quais “também poder-se-á atribuir um carácter negativo”, apesar de os mercados considerarem já a dívida pública grega “como sendo insustentável e necessitando, muito provavelmente, de uma nova reestruturação”.
Ricardo Arroja, economista do grupo financeiro Pedro Arroja, salienta que o principal ponto de discussão sobre a mesa “prende-se com a pressão que o FMI tem vindo a colocar sobre os Estados membros da Zona Euro, no sentido de um novo perdão da dívida à Grécia”. Para já, acrescenta, os governos credores da região, assim como o BCE, “têm manifestado discordância em relação a esta possibilidade”, preferindo, em alternativa, “relaxar no tempo as metas previstas para a consolidação orçamental e para a estabilização da dívida pública grega em percentagem do PIB”.
O economista considera que um perdão da dívida, “como aquele defendido pelo FMI, embora politicamente intragável, seria o cenário historicamente mais provável, a fim de devolver as finanças públicas gregas a um caminho de sustentabilidade”. Inviabilizada esta solução, só vê outros dois cenários, “mais dinheiro para a Grécia ou a sua saída do euro”, considerando que, “de uma forma ou de outra, os credores da Zona Euro estão colocados entre a espada e a parede”.
União bancária e Taxa ‘Tobin’
Além a Grécia, a reunião dos últimos dois dias teve outro temas em cima da mesa, nomeadamente o da união bancária e da taxa sobre transacções financeiras.
A Patris Gestão de Activos considera que há aspectos negativos nas duas questões.
No caso da união bancária, “o progresso deverá ser lento”, com o mercado a considerar que deverá ser necessário mais tempo do que o previsto (data de arranque definida para 1 de Janeiro de 2013), sendo que “continua a haver bastante divergência para a concretização deste importante passo na integração dos países da Zona Euro”.
Quanto ao imposto sobre transacções financeiras, a gestora de activos considera que “a sua aprovação teria um carácter negativo, tendo em conta que este tipo de impostos provoca geralmente uma redução de liquidez em mercado secundário”.
Entretanto, numa declaração na reunião do Conselho, Algirdas Šemeta, comissário europeu da Fiscalidade, afirmou que “é importante avançar rapidamente neste dossier, dados os benefícios que a taxa sobre transacções financeiras oferece”.
Sublinhou que é “perfeitamente justificável” avançar através do mecanismo de cooperação reforçada” e que, da análise feita, este “não irá enfraquecer o Mercado Interno”, mas, pelo contrário, irá “reduzir significativamente a fragamentação e reforça-lo”.
O comissário disse ainda ser “importante compreender que a alternativa à cooperação reforçada não é a ausência de tributação do sector financeiro. É a implementação de 11 diferentes formas nacionais da taxa sobre transacções financeiras em vez de uma única”.
De referir que Portugal está entre estes 11 países que pretendem implementar esta taxa, sendo os restantes Alemanha, França, Bélgica, Áustria, Eslovénia, Grécia, Itália, Espanha, Estónia e Eslovénia.