Fed prepara-se para normalizar... mais cedo do que o esperado

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Rafael Chamorro, Flickr Creative Commons

Na última comunicação efetuada por Janet Yellen no encontro da Federal Open Market Committee (FOMC), foram dadas duas notícias importantes e que podem influenciar os mercados: o corte de 10 mil milhões de dólares no programa de compra mensal de ativos e ainda o facto das taxas de juro de referência norte-americanas irem aumentar na próxima primavera, cerca de seis meses após o fim do programa de compra de ativos.

Sobre as declarações da presidente da FED, Azad Zangana, economista europeu da Schroders, afirma que estas parecem ter confundido o mercado. “A FED manteve as taxas de juro e continua a diminuir o seu programa (Quantitive Easing) de forma equivalente (5 mil milhões do Tesouro e os restantes em “Mortgage Backed Securities”).

Ainda assim, a “taxa de desemprego está a atingir o que era proposto pela FED (6,5%), e o FOMC vai olhar para os indicadores e fazer a sua avaliação sobre a economia”, afirma.  Segundo o especialista o “O FOMC está a dizer que "provavelmente será adequado manter a meta atual para a taxa dos fundos federais por um tempo considerável depois do programa terminar, especialmente se a inflação projetada continua a funcionar abaixo dos 2%”

"A confusão surgiu da trajectória projectada dos membros do FOMC para a taxa dos fundos da FED. A previsão para as taxas no final de 2015 é de 1%, que é mais agressivo do que os investidores esperavam. A reação imediata do mercado tem sido negativa para as ações e para os títulos do Tesouro”, afirma o especialista.

No entanto, as declarações de Janet Yellen “ajudaram a acalmar os receios com uma avaliação bastante prudente. Yellen reconheceu as melhorias na economia , mas ficou claro na comunicação a sua intenção de manter a política monetária acomodatícia enquanto a inflação está abaixo do objectivo a longo prazo da Fed”, continua Azad Zangana.

Yellen sugeriu que as taxas de juros estavam propensas a permanecer nos valores atuais de 0-0,25% até que houvesse evidências claras de que os EUA estariam perto de atingir o pleno”, termina.

"O ponto principal é que a FED acredita que a debilidade em janeiro e fevereiro foi temporária, devido às condições adversas ", observa Philippe Waechter , economista-chefe do NAM, uma subsidiária do Natixis Global AM. Agora, a previsão de crescimento do PIB dos EUA é de 3,1% para 2014 , abaixo dos 3,2% em dezembro. "Se há uma debilidade no primeiro trimestre, significa que a recuperação nos próximos trimestres será forte", prevê Waechter . O especialista acrescenta que uma consequência imediata é que a taxa de desemprego continuará a cair, que seria de 5,75% em 2015, comparado a 6,7% hoje.

Outra mensagem de Janet Yellen , disse o especialista, é que "a FED acredita que os riscos para o crescimento e a inflação estão amplamente equilibrados”. "Isso significa que o risco não é específico e imediato e que induzem a política monetária acomodatícia. A FED vai estar lá para orientar a trajetória de convergência para o pleno emprego”, conclui.

Waechter é de opinião que as taxas vão continuar em mínimos históricos ainda por muito tempo. Baseia-se na afirmação de Yellen de que irá passar algum tempo antes que comece o aumento do preço do dinheiro.

Para Waechter, o que mudou na política monetária do banco central é a eliminação da política de comunicação antecipada: "O desaparecimento da forward guidance sugere que a FED não quer as mãos amarradas com um compromisso que pode limitar a sua capacidade para cumprir o seu mandato duplo de crescimento e de inflação", diz o economista.

"O que devemos ter em mente é que a taxa de juro de referência para o longo prazo é de 4%. Noutras palavras, numa economia com bom desempenho , as taxas de juro da FED deveria estar nos 4%, e não na faixa atual entre 0% e 0,25 % em vez do nível esperado em 2016 de 2,25%" diz o especialista. "Em qualquer caso, qualquer que seja o contexto, Janet Yellen quer, claramente, manter a curva das taxas baixa. É uma necessidade para alimentar a recuperação", diz ele. "Para Yelle, o forward guidance não era bom. Queria ter mais autonomia para dizer  em que momento é que as taxas de juro vão mover-se de forma ascendente”, diz o economista-chefe da Natixis AM .