Fund Manager Survey: a recessão converteu-se em consenso e as carteiras rodam para defensivos

Créditos: Paul Skorupskas (Unsplash)

O mais recente Fund Manager Survey do BofA pinta uma imagem bastante pessimista do sentimento entre os investidores profissionais. As expetativas para o crescimento global e os lucros empresariais estão em mínimos. Os níveis de liquidez voltaram a subir e estão em níveis superiores ao histórico marcado durante a queda da Lehman Brothers. A marcar os 6,1%, o nível de liquidez dos gestores está no seu ponto mais alto desde outubro de 2001.

No plano macroeconómico também se continuam a perder as esperanças. Na verdade, já é opinião de consenso que existirá uma recessão económica nos próximos 12 meses. É a antecipação de uma recessão mais elevada desde maio de 2020. Com o seguinte gráfico percebe-se bem o quão histórica é esta previsão pessimista. É um pico de negatividade que rivaliza com a Grande Crise Financeira e com as piores semanas da pandemia quando ainda nem se vislumbravam as vacinas.

É que o otimismo com o crescimento global está em mínimos históricos. De volta a níveis de outubro de 2008. E o ponto-chave é que está a afetar o posicionamento em ativos de risco. Porque a percentagem de gestores que reconhecem estar sobreponderados em ações está a cair a pique. Também se move em mínimos históricos (desde outubro de 2008) a sobreponderação a ações face a liquidez.

Achatamento da curva e ponto de inflexão?

Mas há uma mudança muito relevante neste último Fund Manager Survey que é o que permite ao BofA pensar num possível ponto de capitulação. Uma elevada percentagem de gestores acredita que a inflação vai ser mais baixa no próximo ano. A um nível que não víamos já desde a Grande Crise Financeira. E como bem recordam do banco norte-americano, uma menor expetativa de inflação significa menores taxas de juro.

Isto é especialmente relevante porque os gestores acreditam que será a inflação o que vai ditar o caminho da Reserva Federal. O que fará com que a Fed gire a sua normalização em 2022? A causa mais provável que veem os inquiridos é uma inflação norte-americana abaixo de 4%.

E é algo que começa a entrar nos planos dos gestores profissionais. Rodou fortemente a percentagem de especialistas que já não vislumbram yields mais elevadas. Na verdade, a expetativa de taxas a longo prazo está em mínimos de três anos. O que o BofA define como a antecipação de um achatamento bullish da curva.

Posicionamento: longos em liquidez e defensivos

Este último Fund Manager Survey vem com a alocação de ativos mais defensiva desde maio de 2020. As carteiras continuam a girar com o ciclo económico. Estão a passar da fase final a território de recessão. Isto vemo-lo com as saídas de ativos cíclicos, como bancos e materiais, que caem para o seu nível mais baixo desde novembro de 2020.

Na mudança mensal das carteiras vemos claramente essa rápida rotação para defensivos. Algo que não tínhamos visto nos últimos meses apesar da deterioração das previsões económicas. Nas últimas quatro semanas os gestores aumentaram posições em obrigações e setores defensivos como consumo básico, utilities e setor de saúde. Pelo contrário, venderam ações e nichos value como a banca, energia, matérias-primas, etc.

E em comparação com a última década, é um posicionamento historicamente defensivo. Relativamente aos anteriores 10 anos, os gestores estão muito longos em liquidez e em setores defensivos, e muito subponderados em financeiras, zona euro e tecnologia.