A Morningstar reuniu numa mesa redonda os responsáveis do DWS Concept Kaldermorgen, do Nordea 1 – Stable Return e do Carmignac Patrimoine para compartilharem a forma como estão a gerir as suas respetivas estratégias.
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A Morningstar reuniu numa mesa redonda os responsáveis de três estratégias mistas: Klaus Kaldermorgen (DWS Concept Kaldermorgen), Asbjorn Trolle Hansen (Nordea 1 – Stable Return) e Didier Saint Georges (Carmignac Patrimoine). No encontro, os especialistas partilharam a sua visão de mercado e o modo como estão a gerir as suas respetivas estratégias. Todos eles concordam que os mercados estão muito difíceis, mas diferem no posicionamento e estratégia.
Didier Saint-Georges considera que o os mercados estão ainda a começar a mostrar uma mudança de regime. “A enorme participação dos bancos centrais a partir de 2009 oferecia aos investidores maiores rentabilidades com baixa volatilidade, ao qual se acostumaram. Agora, estamos num momento em que os bancos centrais chegaram aos seus limites na prestação de apoio às economias e aos investidores. O BCE está a pôr em risco a sua credibilidade. Isto é muito arriscado se tivermos em consideração que Draghi não atinge o objetivo de inflação há vários anos. A inflação mundial, ou melhor, a falta dela, está relacionada com o excesso de capacidade da China e da produção mundial. É algo que não está nas suas mãos, pelo que, com o tempo, a credibilidade dos bancos centrais estará sob escrutínio. Tudo isto ocorre num contexto em que as economias estão altamente alavancadas. Esta mudança de regime aumenta os riscos”.
Asbjorn Trolle Hansen está de acordo. “Durante o verão de 2015, os investidores acreditaram que o problema era a China. Mas também o era da economia dos EUA. Perante as quedas de agosto, não havia muitas esperanças que a Fed subisse as taxas de juro. Depois de o fazer os mercados caíram. Existem sinais preocupantes de que a indústria se está a debilitar. Isto terá um impacto no crescimento dos lucros”. Em abril, Hansen ajustou a sua posição em ações ao mostrar-se preocupado com a evolução da economia, bem com pelas implicações negativas que esta teria nos lucros das empresas em 2015 e 2016. “No segundo trimestre também reduzimos significativamente a nossa exposição ao dólar e comprámos yenes. A nossa proposta de valor passa pela diversificação e uma baixa correlação entre as estratégias em carteira”. Recentemente reduziram o beta da carteira para 0,15.
No Carmignac Patrimoine também reduziram drasticamente o risco em carteira, se bem que foi algo que fizeram depois das quedas de agosto. Baixaram a exposição a ações até aos 16% atuais (chegou a baixar para 2% no fecho de 2015), alargaram as durações e reduziram a exposição ao dólar. Tudo isso para criar uma carteira mais defensiva perante a expectativa de que se produziriam novos episódio de tensão nos mercados, como acabou ocorrendo. “Todavia, verifica-se uma grande complacência nos mercados”, assinala Saint Georges. Kaldermorgen considera que quando se vê o copo meio vazio é altura de entrar e quando se vê meio cheio é altura de sair. “Os mercados estão difíceis e vão continuar assim. Agora mantenho uma exposição de 24% às ações. Aprecio riscos, o que nos fez reduzir a exposição, mas de um modo mais otimista que Carmignac”. Como gestores multi-ativos, os três também prestam especial atenção a outras classes de ativos, como as obrigações.
Para Kaldemorgen, a dívida pública oferece muito risco e quase nenhum retorno. O crédito corporativo, em contraste com esta visão, gera retornos. “As obrigações voltaram aos níveis de 2011 e vemos oportunidades em emissores high yield, que compensam claramente o risco assumido. Apenas compro empresas que utilizaram ações como segundo instrumento de financiamento. Isto significa que as obrigações estão protegidas. No pior dos cenários, reduzem-se dividendos, caiem ações, mas as obrigações prevalecem. A maior parte da high yield que compramos está denominada em dólares, mas cobrimos uma parte do risco cambial”. Segundo Hansem, as bunds e outros ativos refúgio foram, tradicionalmente, um excelente diversificador, mas este tem deixado de funcionar.
“Quanto mais recuperarem os futuros sobre o bund, mais questionável será o a hipótese do bund alemão experimentar um rally. Se quer diversificar de verdade, deveria fazer algo mais do que analisar as correlações históricas. A high yield tão pouco serve para ‘jogar’, porque foi tão afetada pela queda dos mercados como as ações. Ambos os mercados estão deprimidos por causa das expectativas de default e da revisão dos lucros. Todos estes ativos são baseados nos mesmos factores, embora com valorizações diferentes”. Em traços gerais, o gestor mostra-se convencido de que os retornos que se vão gerar no mercado vão ser inferiores. “O rally das obrigações irá chegar ao fim e então será evidente a necessidade de ser flexível”, assegura.
Kaldemorgen também baixa as suas expectativas. “Provavelmente as rendibilidade de dois dígitos não serão possíveis no futuro. Mas, qual é a alternativa? Investir em liquidez? Claramente que não”. A diversificação também se tornou mais difícil. “Recordo que houve um tempo em que o dólar era uma boa cobertura para as ações. Isso já não funciona. Atualmente, o euro é uma divisa refúgio”. Segundo Saint Georges, é necessário ser tático, mas se quiseres obter alfa e mitigar os riscos, tens de cobrir o beta. “A melhor maneira de gerir a exposição tática é manter os nossos investimentos inalteráveis, mas cobrindo os riscos de mercado. Olhando para o futuro, este é um desafio global para os gestores de carteira, porque tendem a gerir o risco de beta e gerar alfa ao mesmo tempo. Este é o melhor ambiente para quem quer ser capaz de justificar as comissões de gestão que cobra”.