Geraldine Sundstrom (PIMCO): “É hora de ser humilde, de recuar taticamente”

Geraldine Sundstrom, PIMCO
Geraldine Sundstrom, PIMCO. Créditos: Cedida

Não é altura para correr grandes riscos. A falta de clareza é inevitável no investimento, mas há poucos momentos mais incertos do que o atual. Os bancos centrais têm colocado em suspenso o seu mandato de preservação do crescimento económico a favor da luta contra os níveis históricos de inflação. A isso acrescenta-se um cisne negro, como o início de uma guerra, onde as consequências ainda estão por determinar. “É hora de ser humilde. Para ser estrategicamente cauteloso e recuar taticamente”, insiste Geraldine Sundstrom, responsável de Alocação de Ativos da PIMCO.

A especialista defende que se deve guardar alguma pólvora seca nas carteiras no momento. Não porque o seu cenário base seja o de uma recessão, mas porque também não a podemos descartar. Ou seja, estamos num ponto de viragem em que as consequências não são lineares. “Em 2020 conseguimos ver na perfeição como uma pequena perturbação na cadeia de abastecimento pode trazer ventos contrários. Não podemos ter a certeza, mas já há empresas que tiveram de parar a sua produção por falta de peças, semicondutores ou preços elevados de energia”, ressalta Sundstrom.

Ligeira subponderação em ações

E isto coloca-nos num ponto complexo a nível macro. O relógio do ciclo empresarial moveu-se, acelerado pelo surgimento da guerra na Ucrânia. Na opinião da especialista, estamos numa fase tardia do ciclo económico. Um ponto de maior inflação, juntamente com menos crescimento; uma combinação desfavorável para os ativos de risco. Assim, na expetativa de uma economia mais fraca, as carteiras multiativos da PIMCO reduziram a sua alocação a ações.

Por duas razões. Em primeiro lugar, porque as subidas das taxas significam que a taxa livre de risco do mercado tem de ser aumentada e, por conseguinte, as valuations são mais exigentes. Em segundo lugar, porque essa pressão de inflação pode começar a apertar as margens das empresas. E neste cenário, a gestora dará prioridade às empresas de qualidade.

A equipa multiativos da PIMCO começou a reduzir a ciclicidade das carteiras. “São setores muito sensíveis à economia e à medida que o crescimento arrefece o mercado começará a questionar este tipo de negócio”, explica. Pelo contrário, estão a virar-se para setores como a saúde ou os produtos farmacêuticos. Dois setores que Geraldine Sundstrom destaca pelas suas valuations atrativas, quer relativas, quer históricas.

Obrigações aproximam-se de valuations justas

Numa questão de dois anos e meio, o mercado passou praticamente por todo um ciclo económico. Desde a queda acentuada no início de 2020, passando pela recuperação igualmente rápida, e agora um ambiente de abrandamento do crescimento. E as carteiras tiveram de se adaptar e tornar-se ainda mais flexíveis ao depararem-se com a mudança. As carteiras da PIMCO também o fizeram. “Reavaliámos as nossas previsões de subida de taxas, reduzimos a nossa estimativa de crescimento do PIB global para este ano em 1%, e revimos as nossas expetativas de inflação em alta”, disse Sundstrom. “Como a toda a gente, os aumentos de preços surpreenderam-nos. Agora nem sequer descartamos uma subida de taxas na Europa este ano”.

Mas, ao mesmo tempo, temos de encarar este cenário do ponto de vista do investidor. Isto é, tendo em conta as valuations. E na opinião da gestora, as obrigações já refletem um número considerável de aumentos de taxas em 2022. Digeriram grande parte dos bancos centrais mais agressivos. “Foi doloroso ter obrigações no nosso portefólio, e estamos subponderados há algum tempo, mas a verdade é que as obrigações estão a aproximar-se daquilo que pensamos ser avaliações justas”, afirma Sundstrom.

Onde há oportunidade

Se é cautelosa em ações e obrigações, onde está a adicionar risco? Na opinião da gestora, há uma janela interessante nas divisas. Os modelos internos da PIMCO sugerem que algumas moedas de países emergentes são bastante baratas em relação à sua média histórica. Isto não é uma bola de cristal, mas normalmente estes níveis são normalmente um bom sinal tático. Além disso, como sublinha Sundstrom, há países emergentes que já aumentaram as taxas de forma agressiva em 2021. A gestora pensa em regiões como o Brasil, Chile ou Peru. Além disso, os países que exportam petróleo bruto e matérias-primas como o lítio, o cobre ou os cereais, beneficiam do aumento dos preços.

Também estão a apostar em tendências seculares.  Especificamente, em energias renováveis (energia solar, eólica, hidrogénio), semicondutores, robótica e automação, etc.  O que chamam de cíclica 2.0. “Independentemente do resultado da guerra, da subida das taxas ou se entraremos em recessão ou não, a transição energética acelerará”, prevê o especialista.