Bond vigilantes: quem são e qual é a sua função

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Créditos: Marjanblan (Unsplash)

Era uma vez um mercado que vivia aterrorizado por um fenómeno chamado inflação. No momento em que se ouviam rumores da sua chegada, todos os ativos começavam a tremer. No entanto, nasceu uma nova figura que vinha controlar as pressões inflacionistas que podem fazer tremer a economia. São os chamados bond vigilantes. Este poderia ser o começo de uma das comics da Marvel, mas é na verdade a economia a ser ela própria, nas suas múltiplas facetas. A inflação e tudo o que ela implica. Se noutros artigos tínhamos falado do rufar de tambores do taper tantrum, agora também se escuta o regresso dos bond vigilantes: quem são e que função desempenham? Explicamo-lo no Glossário da FundsPeople.

O termo bond vigilantes foi celebrizado pelo economista Edward Yardeni na década de 80. Tal como explica a agência de títulos Portocolom AV, viriam a ser os vigilantes da economia e servir de referência aos investidores em obrigações. “Comentava-se que, se as autoridades monetárias e fiscais não regulavam corretamente a economia, os investidores em obrigações iriam fazê-lo. De tal forma que se um banco central, por exemplo, ficava para trás nas suas políticas monetárias, os vigilantes obrigavam-no a atuar através de pressões nos preços de mercados das obrigações”.

O conceito foi imortalizado mais tarde por James Carville, um assessor do presidente Bill Clinton, que em 1994 lamentou não poder reencarnar-se no mercado de obrigações para poder “intimidar toda a gente”.

No entanto, a crise financeira de 2008 e as atuações dos bancos centrais através de políticas de flexibilização quantitativas fizeram com que as yields das obrigações caíssem numa letargia com uma inflação irrelevante. Em 2018 o economista Ramana Ramaswamy falava dos vigilantes de mercado de obrigações como uma espécie em vias de extinção. No entanto, perante a presença de uma inflação em crescimento voltaram a ressurgir.

Voltaram os bond vigilantes?

“Os investidores começaram a tomar consciência de que os baixos níveis de taxas de juro e de inflação não poderão ser para sempre”, explicam a partir da Portocolom.

Perante a subida nas expetativas de inflação, aspeto que poderá considerar-se positivo já que estaríamos perante um crescimento da economia, o comportamento do mercado poderá mostrar o contrário. “A sua interpretação dependerá da intensidade do aumento, da sua duração e da atitude dos bancos centrais”.

É neste contexto que o papel dos bond vigilantes volta a ganhar importância. Voltarão os bond vigilantes perante a atitude dos bancos centrais e dos governos perante o aumento da inflação?

Se olharmos em perspetiva, as taxas de juro continuam em mínimos históricos, ou próximo deles, e a agressiva política dos bancos centrais continua a distorcer muitos mercados de dívida pública e corporativa. No entanto, Edward Yardeni, em declarações ao Financial Times, comenta que é neste contexto de excesso de política fiscal e monetária onde os bond vigilantes prosperam. “O seu trabalho consiste em devolver a lei e ordem à economia quando os bancos centrais e as autoridades fiscais não respeitem a lei. E poderá dizer-se que isso é o que se está a ver”, argumenta.

Os bons bond vigilantes deveriam identificar as tendências de deterioração no comportamento tanto dos seus governos como de empresas. Assim explica a M&G no seu blog, cujo nome é precisamente este termo.

Por enquanto, parece que embora a inflação se acelere em 2021, não é um fenómeno que represente um desafio sério a longo prazo para os mercados de obrigações. Embora recentemente se tenha observado volatilidade, as yields das obrigações continuam a ser historicamente baixas.