O que é o tom hawkish e qual é a sua implicação na política monetária?

falcão hawk
Créditos: Martin Adams (Unsplash)

Na reunião de junho, a Fed surpreendeu com um tom mais hawkish. Voltou-se então a entoar este termo em todas as tertúlias económicas, mas o que significa o tom hawkish? E que implicações tem para a economia? Primeiro de tudo, o argot financeiro está cheio de anglicismos, e um deles é o termo hawkish, que vem da palavra hawk, que significa falcão. Explicamos o conceito no Glossário da FundsPeople.

Quem é classificado como falcão?

Na política monetária, o controlo da inflação é um ponto-chave para manter o bem-estar de uma economia. Mas o controlo de expectativas é mais, sobretudo, para manter a calma nos mercados. Por isso, os responsáveis dos bancos centrais utilizam o seu discurso como indicador adiantado do que está para vir nas suas políticas. Voltemos à inflação.

Se há uns meses esta brilhava pela sua ausência, nos últimos tempos, -e ao calor de uma recuperação económica ligada, sobretudo, ao ansiado regresso à normalidade depois da crise sofrida pela COVID-19-, o seu aumento foi notório. Ainda que um recente Fund Manager Survey da BoFa, preveja uma inflação transitória, o cenário inflacionista fez com que se voltasse a falar do termo hawkish.

Utiliza-se o termo hawkish quando os bancos centrais se mostram dispostos a começar uma política mais restritiva. Uma recente reunião do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC, sigla em inglês) da Reserva Federal dos EUA pôs sobre a mesa esta possibilidade ao falar de uma subida de taxas pela primeira vez desde o rebentar da pandemia, em contraposição à política acomodatícia dos últimos anos.

Os partidários de uma política mais hawkish são os que se preocupam principalmente com o potencial impacto das taxas de juro em relação à política fiscal. Por isso, os falcões estão mais predispostos a permitir que as taxas de juro subam para manter a inflação sob controlo.

Características próprias de um falcão

O seu objetivo é manter a inflação sob controlo e para o conseguir costumam estar a favor de taxas de juro relativamente altas. Isto é, preocupam-se menos com o crescimento económico e focam a sua inquietude na possível pressão recessiva que provocarão altas taxas de inflação.

Que consequências tem um tom hawkish?

Perante um cenário de altas taxas de juro, os empréstimos tornam-se menos atrativos, à medida que as condições para o consumidor se tornam mais restritivas. Portanto, é menos provável que façam grandes compras ou peçam empréstimos. Falta de gastos equivale a menor procura, o que ajuda a manter os preços estáveis ​​e a evitar a inflação.

Da mesma forma, estando num contexto em que os empréstimos são mais caros devido às altas taxas de juro, a taxa de poupança das empresas e das famílias aumenta. Pelo contrário, os bancos são mais propensos a emprestar dinheiro, uma vez que os retornos que geram são mais atrativos do que num cenário de taxas de juro baixas.

Uma economia com altas taxas de juro também faz com que a moeda dessa economia se valorize. Nesse sentido, o comércio internacional também é afetado. Se os seus parceiros comerciais não seguirem nessa direção, a economia com taxas elevadas terá importações mais baratas.

Identificamos as personagens com posturas mais hawkish na política monetária

Embora os responsáveis ​​pela execução da política monetária possam ter opiniões diferentes dependendo do contexto em que nos encontramos, existem personalidades que se identificam claramente com uma posição hawkish como, por exemplo:

  • Paul A. Volcker, economista norte-americano, que presidiu a Reserva Federal dos EUA entre 1979 e 1987. Volcker adotou uma decidida política anti-inflacionária que teve sérios efeitos depressivos sobre a economia americana.
  • Em 1987, Alan Greenspan substituiu Paul Volcker. Greenspan foi partidário de manter os níveis de preços estáveis mesmo que isso representasse prejudicar o crescimento económico. Durante o seu mandato anunciou diversos aumentos das taxas de juro, ainda que com o tempo a sua postura se tenha tornado mais branda.
  • Se olharmos para o Velho Continente, no imaginário coletivo com certeza que ainda está gravada a subida de taxas por parte de Jean Claude Trichet em plena crise das subprime em 2008. Trichet sucedeu a Wim Duisenberg, primeiro presidente do BCE, em 2001, e esteve no cargo até 2011.