Na sua passagem recente por Lisboa, Hervé Dejonghe, CFA, gestor de carteiras na Allianz GI, contextualizou o estado atual do investimento neste instrumento “verde” e expôs a filosofia de investimento que aplica na gestão de fundos.
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É evidente que um dos temas no universo da gestão de ativos que mais marca os últimos tempos é a crescente tentativa de conciliar, nos investimentos, retorno financeiro e ‘retorno ambiental’. Observamos um crescente aparecimento de fundos e estratégias orientadas para investimento socialmente responsável (ISR), mas aquilo que identificamos agora como tendência é, na verdade, um mercado já com muitos anos, como explicou Hervé Dejonghe, CFA, na sua recente passagem por Lisboa.
“O mercado de green bonds nasceu, em 2007, com uma emissão do European Investment Bank”, indica, utilizando o instrumento no qual é especialista como exemplo dos primórdios do ISR. O gestor de carteiras da Allianz GI contextualiza o crescente investimento neste instrumento “verde” referindo que “o número de emissões tem duplicado de ano para ano desde 2015”, e que, em 2019, “teremos um ano recorde com emissões superiores a 215 mil milhões de dólares”. “O mercado de green bonds já não é um mercado de nicho”, conclui.
Mas o que é ao certo uma green bond? O conceito geralmente aceite é que uma green bond é um instrumento idêntico a uma vulgar obrigação, mas cujos proveitos se destinam a financiar projetos verdes, tais como edifícios sustentáveis ou projetos de transição energética. Hervé Dejonghe enumera os benefícios associados a estas obrigações, como a “transparência adicional trazida aos investidores e a possibilidade de alocar património a projetos de cariz ambiental específicos”, mas também a expectativa de uma empresa se tornar “mais competitiva no futuro ao investir hoje na adaptação do seu modelo de negócio a um mundo low-carbon”.
Ao contrário das obrigações standard, estas obrigações carecem de uma definição regulatória definida, o que impõe algumas dificuldades em distinguir uma green bond de uma non-green. O gestor de carteiras explica que, dada a omissão dessa definição, os “emitentes e investidores geralmente concordam num conjunto de práticas amplamente aceites baseadas nos Green Bond Principles”, desenvolvidas pela International Markets Association. Já no que diz respeito à definição de uma atividade “verde”, a referência comum é a taxonomia dos projetos “verdes” definida pela Climate Bond Initiative. Perspetiva-se que “seja implementado um novo set de guidelines em 2020, desenvolvido pela União Europeia, para definir uma nova Green Bond Standart”.
Este conjunto de orientações é tido muito em conta na seleção de títulos do fundo gerido por Hervé Dejonghe. “O nosso processo de investimento é fundamental, bottom-up e ativo”, explica, onde são considerados os Green Bond Principles, a taxonomia da Climate Bonds Initiative e a estratégia climática do emissor para avaliar a estrutura de cada obrigação e os projetos financiados. “Além desta «análise verde», procedemos a uma análise fundamental de crédito e de valor relativo”, esclarece.
Os frutos desta abordagem são evidentes no desempenho atual do fundo. De momento o fundo tem uma yield de 0.6% para uma duration de oito anos e regista uma rendibilidade de cerca de 8% (YTD). No que toca à alocação propriamente dita, existe uma maior exposição a green bonds emitidas em França (o principal emitente global destes títulos), e uma preferência por obrigações de emissores corporativos, estratégia essa que, nas palavras do gestor, tem “o objetivo de encorajar o sector privado numa transição no sentido de uma economia low-carbon”.
Investimento sustentável, retornos sustentáveis
Sobre a transição para o investimento sustentável, e o que ela pode impactar nos resultados obtidos, Hervé Dejonghe é perentório: “investir de forma sustentável não implica comprometer os retornos”. “Um estilo de gestão ativa, em conjugação com uma seleção cuidada de emissores e projetos, são cruciais para alcançar o desempenho pretendido e evitar greenwashing”, justifica. Além disso, o especialista realça que “não se registam diferenças significativas no pricing entre obrigações standard e green do mesmo emissor”, o que implicitamente indica que não existem custos acrescidos em alocar à opção “verde”.
Por fim, o gestor indica que ainda “serão necessários biliões de dólares em investimentos para mitigar os efeitos do aquecimento global”, pelo que ainda se encontra vigente a oportunidade associada ao investimento verde. “Espera-se que o crescimento no mercado de green bonds continue nos próximos anos, com potenciais efeitos de larga escala provenientes de melhoramentos na regulação e estandardização”, sentencia.