O abrandamento da inflação permite aos bancos centrais baixar as taxas de juro. Mas a descida de taxas poderá ser mais lenta do que o esperado, com um cenário de taxas mais elevadas durante mais tempo, o que poderá provocar episódios de volatilidade nos mercados. Com este contexto, Manoj Patel, codiretor de Infrastructure Securities da DWS, assinala que as infraestruturas cotadas podem ser uma opção atrativa para os investidores contornarem a atual incerteza.
“As infraestruturas cotadas representam ativos reais”, alerta o especialista. “Estes ativos têm uma longa vida útil e, no geral, uma procura inelástica, o que significa que, em muitos casos, não existem alternativas nem substitutos. Isto significa que os modelos de receitas têm pouco, ou nenhum, risco, visto que os preços costumam ser fixos, contratuais ou regulados”, explica.
As taxas de juro e de desconto podem variar, mas os fluxos de caixa gerados por estas empresas são constantes e previsíveis, "e os investidores valorizam a previsibilidade, porque significa menos volatilidade", explica Manoj Patel.
Além disso, segundo o especialista, os preços são mais eficientes e transparentes do que os do mercado privado de infraestruturas, e, em muitos casos, as infraestruturas cotadas são negociadas com desconto em relação aos ativos privados do mesmo tipo e da mesma qualidade. “As infraestruturas cotadas também podem proporcionar um fluxo de receitas constante e previsível através da distribuição de dividendos, e, em muitos casos, os retornos são superiores aos dos que podem ser obtidos a partir do mercado de ações mais amplo”, e acrescenta que “acreditamos que empresas de infraestruturas cotadas, devido aos fluxos de caixa constantes e previsíveis que recebem e aos dividendos que distribuem, são valiosas para os investidores quando acrescentadas à sua carteira global. Também acreditamos que os investidores vão apreciar a baixa correlação que as infraestruturas cotadas têm com outras classes de ativos”, afirma.
Megatendências e infraestruturas
“A inteligência artificial tem estado na moda, e, embora as infraestruturas referidas não apareçam em tantos títulos como a IA, são uma componente fundamental para torná-la realidade”, explica Manoj Patel. Os centros de dados, onde residem os computadores que tornam a IA possível, consomem enormes quantidades de eletricidade. "De facto, sem as infraestruturas necessárias de geração e transmissão de eletricidade, a IA não seria possível", afirma.
Por isso, o codiretor espera que, no futuro, seja investido bastante capital para se aumentar a quantidade de eletricidade gerada e transmiti-la para onde for necessário. Além disso, isto não só está relacionado com a inteligência artificial, mas também, em geral, com as tendências de eletrificação. "Os veículos elétricos (VE) vão requerer mais geração de eletricidade, e serão necessárias infraestruturas para garantir que as estações de carregamento são colocadas onde for necessário", prossegue. Além disso, as redes terão de ser reforçadas e tornadas mais resistentes devido à necessidade de sistemas de distribuição de eletricidade mais resistentes. E como se produz toda esta eletricidade? "A médio prazo, serão necessários gasodutos ou terminais GNL para se transportar o gás natural, o que implicará capital adicional, mas a longo prazo, esperamos assistir a mais investimentos em eletricidade gerada a partir de fontes renováveis", afirma.
Estratégias da gestora
A gestora investe em infraestruturas cotadas através das estratégias DWS Invest Global Infrastructure (fundo com Rating FundsPeople em 2024) e DWS Invest ESG Next Generation. Esta última é uma extensão natural da primeira: investe mais em ativos vinculados a tendências estruturais como a digitalização e a transição energética do que em ativos de infraestruturas mais tradicionais.
“Embora os tipos de ativos de infraestruturas em que o fundo ESG Next Generation investe se limitem àqueles em que observamos estas tendências estruturais, o alcance também abrange outros ativos, como centros de dados, redes de fibra ótica, instalações logísticas relacionadas com o comércio eletrónico ou infraestruturas sociais, como instalações de investigação médica, todos os quais acreditamos que vão crescer com força e ser necessários no futuro”, afirma. “Além disso, embora ambas as estratégias incluam a análise ESG como parte do processo de investimento, no ESG Next Generation, há um maior foco nos fatores ESG”, acrescenta.
Infraestruturas cotadas face às privadas
“As infraestruturas cotadas podem ter baixas correlações com outras classes de ativos, um dos fatores a ter em conta no momento de construir uma carteira diversificada e eficiente”, afirma o especialista da DWS. “A principal vantagem das infraestruturas cotadas face às privadas é a liquidez. As infraestruturas cotadas podem ser compradas ou vendidas a qualquer momento em que as bolsas estão abertas, ou seja, com liquidez diária. Não há filas para solicitar capital nem períodos de bloqueio para os investidores”, assinala Manoj Patel.
“Se os objetivos ou a tolerância ao risco de um investidor mudarem, este pode facilmente realocar o capital como considerar oportuno, o que nem sempre acontece com os ativos privados”, acrescenta. “Além disso, a nossa investigação demonstrou que duas das vantagens que costumam ser enumeradas para os ativos de infraestruturas privadas, a saber, a menor volatilidade e o prémio de iliquidez, são falaciosas”.
"Dependendo dos índices considerados, os retornos das infraestruturas cotadas e privadas podem ser bastante semelhantes a longo prazo, e os métodos estatísticos podem mostrar que a volatilidade dos retornos das infraestruturas privadas está provavelmente subestimada", afirma. “Em geral, acreditamos que as baixas correlações com outras classes de ativos, os fluxos de caixa previsíveis e constantes, os retornos competitivos a longo prazo, a rentabilidade por dividendos superior à média e a liquidez diária são as principais vantagens de incluir infraestruturas cotadas numa carteira”, conclui.