Ingmar Przewlocka (Schroders): “Vemos uma Europa muito atrativa”

Ingmar Przewlocka
Ingmar Przewlocka, Créditos: Cedida

Vivemos anos em que tudo acontece cada vez mais depressa. O mercado financeiro não foge a esta dinâmica, e desde o início da pandemia assistimos a movimentos bruscos nas principais classes de ativos. Após um ano de 2022 complicado, Ingmar Przewlocka, gestor de Carteiras de Multiativos da Schroders, veio à conferência anual da gestora, em Lisboa, trazer algum positivismo nas suas perspetivas. Em entrevista à FundsPeople começou precisamente com esse tom, ao afirmar: “Em 2023 encontramos muitas oportunidades interessantes”.

Para o gestor “estamos num cenário extraordinário, especialmente para os multiativos”. Segundo diz, no passado havia uma exposição muito concentrada a ações, e as obrigações rendiam pouco. “Hoje em dia encontramos algum valor nas obrigações, e na nossa perspetiva está na altura de voltar a entrar no mercado e ter alguma exposição a crédito e a duration”, diz.

Um dos principais catalisadores para a mudança de sentimento foi a inversão na política monetária dos principais bancos centrais. O gestor vê agora oportunidades ótimas na dívida governamental europeia, uma classe até agora muito fatigada. “Os países da periferia não conseguem suportar mais um aumento de taxas, é preciso ter cautela. No entanto, encontramos muito valor em países como a Itália e a Grécia, onde, sem nos afastarmos muito na curva, conseguimos encontrar yields superiores a 4%”, explica Ingmar Przewlocka. O gestor está assim confiante que os tempos agora diferem de outros períodos de recessão, pois a dívida destes países “está concentrada no setor público, e não no setor privado, garantindo alguma flexibilidade acrescida”.

A mudança de paradigma não foi, todavia, transversal a todos os setores. “No início do ano anterior estávamos sobreexpostos a ações tecnológicas americanas, e durante o ano procedemos a uma redução deste setor, pois não encontrávamos as valorizações das empresas a níveis que consideramos atrativos”, revela Ingmar Przewlocka. Em 2023 mantém esta perspetiva. O gestor evita investir nos “setores fancy, como o tecnológico americano, onde o downside continua a ser significativo, especialmente com os novos níveis de taxas de juro e as constantes subidas”.

Também no setor das matérias-primas o plano traçado mantém-se. Apesar de um início forte em 2022, o especialista revela que ao longo do ano foi reduzindo exposição à classe de ativos. “É uma classe onde podem ocorrer alguns drawbacks, onde os níveis elevados de valorização estão muito suscetíveis a notícias positivas”, explica o especialista da Schroders. No entanto, destaca que ainda existem algumas matérias-primas que merecem a sua atenção, em particular “recursos naturais relacionadas com a produção de energia”.

Em suma, o tom positivo do gestor está em concordância com as perspetivas mais otimistas traçadas para 2023. Deixa, porém, um aviso: “Temos que ser flexíveis, o outlook atual é positivo, mas tem que ser revisto regularmente, não pode ficar escrito na pedra durante os próximos 12 meses”. Apesar das diferentes oportunidades ao longo das várias classes, existem alguns cenários que podem inverter a tendência. Fala-se de temas como “o agravar do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia ou a possibilidade de uma correção excessiva das taxas de juro por parte dos bancos centrais que impacte a economia de uma forma muito mais acentuada do que a que vemos agora”.

E onde fica o ESG?

Para o gestor da Schroders não há dúvidas: o ESG faz parte do processo. “No ano passado assistimos a setores com grande preponderância ESG a obter retornos inferiores a outros, porém, este não é motivo para abandonar a aposta há muito feita”, afirma Ingmar Przewlocka. Há equipas de gestão que abandonam o tema da sustentabilidade quando as rentabilidades dos seus portefólios começam a cair. Para a equipa da Schroders, este é um cenário que não está, de todo, em cima da mesa: “Não especulamos no ESG, não olhamos especificamente para os temas quentes ou para os temas que já passaram de moda”.

A metodologia sustentável está tão enraizada na instituição, que “por vezes é impercetível, embora estejam sempre presentes tanto no processo de decisão como na gestão do risco do portefólio”. O ESG está em constante mudança e é preciso as instituições adaptarem-se às mesmas. Recorrendo à  apresentação concretizada no mesmo evento, o gestor finaliza com uma frase: “O ESG é uma estrada, tem que ser percorrida um passo de cada vez e sempre com atenção às novidades”: