A dimensão do mercado de fundos estrangeiros em Portugal em 2022

Com dados do final de 2020, a FundsPeople começou a estimar anualmente o valor do mercado português de fundos estrangeiros com base em informações dos supervisores dos cinco grandes blocos de investimento institucional em Portugal - Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) -, bem como pela Associação Portuguesa de Fundos, Pensões e Patrimónios (APFIPP). Esta estimativa cobre as carteiras de investimento dos fundos de investimento domésticos, fundos de pensões e seguradoras, mas também a distribuição direta de fundos estrangeiros, reportada pela CMVM. A partir deste momento, adicionamos um segmento adicional, como veremos adiante.

Na altura da primeira estimativa, o montante global ascendia a 26,29 mil milhões de euros, valor que ascendeu aos 40,92 mil milhões em 2021. Claro que dificilmente esta estimativa não seria impactada pelas quedas dos mercados em 2022, que resultaram em desvalorizações e outflows em muitos dos segmentos investidores institucionais nacionais. O ano foi marcado por uma queda de 12,38%, o que, mantendo a metodologia, levaria a estimativa para os 35,85 mil milhões de euros em 2022 se os segmentos considerados se mantivessem inalterados.

Um segmento adicional 

Este ano decidimos incorporar na estimativa os ativos sob gestão em fundos estrangeiros num outro segmento institucional que não se reflete nos restantes, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS). Este último, na nossa mais recente análise, com dados de 2021, tinha 4,98 mil milhões de euros alocados a fundos internacionais, o que lhe confere uma posição demasiado relevante no mercado para ser ignorada. Segundo as informações providenciadas pelo Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social (IGFCSS) à FundsPeople, esta carteira incluía 4,34 mil milhões de euros em fundos estrangeiros no final de 2022. Com este elemento adicional, o mercado em 2022 ascende aos 40,19 mil milhões de euros, o que compara com os 45,9 mil milhões de 2021 (uma quebra de 12,44%), caso tivéssemos considerado esta carteira de investimentos pública então.

No esquema, detalhamos a desagregação deste montante pelos seus diferentes segmentos que comentamos mais adiante. O valor ajustado diz respeito ao valor bruto - a alocação a unidades de participação de fundos de investimento indicado nas respetivas rubricas -, corrigido pelos valores investidos em fundos domésticos e fundos imobiliários. O valor líquido, por seu lado, considera as duplicação nos ativos reportados em diferentes segmentos do mercado.

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Importante realçar que esta é uma estimativa relativamente conservadora da dimensão da atividade de entidades gestoras internacionais no nosso país. Não são considerados dados de mandatos de investimento direto, bem como das maiores fundações - que representam também alguns dos maiores asset owners nacionais -, visto que têm o seu património gerido no exterior e um reduzido reflexo nestes números. Segundo a APFIPP e para ilustrar a relevância, as fundações representavam pouco mais de 50 milhões de euros no universo de ativos geridos pela gestão de patrimónios nacional.

Os diferentes segmentos

No final de 2022, a gestão de patrimónios acumulava um total de 32,82 mil milhões de euros em ativos geridos, sendo que 12,79 mil milhões de euros diziam respeito a unidades de participação de fundos de investimento. Estimamos que pelo menos 11,93 mil milhões de euros desses fundos sejam de investimento mobiliário estrangeiro nas carteiras desse segmento investidor. No que diz respeito aos fundos mobiliários domésticos, no final de 2022, as carteiras acumulavam 17,3 mil milhões de euros, sendo que o valor alocado a fundos fechou o ano nos 5,99 mil milhões de euros, uma quebra de 17,1% face ao ano anterior. Já a distribuição direta de fundos estrangeiros recuou 19,59% para os 6,09 mil milhões de euros

No caso do FEFSS, como referido anteriormente, terá sofrido uma quebra de 12,85% no conjunto dos ativos alocados a fundos (principalmente ETF e fundos passivos) na sua carteira, tendo fechado o ano nos 4,34 mil milhões de euros.

Seguradoras, Fundos de Pensões e os devidos ajustamentos

Por fim, os dois segmentos supervisionados pela ASF, o setor segurador e o dos fundos de pensões. O primeiro, que acumula carteiras na ordem dos 50,24 mil milhões de euros, viu os seus ativos totais alocados a fundos de investimento recuar dos 11,2 mil milhões de euros em 2021 para os 10,11 mil milhões de 2022. Destes últimos, apenas 9,3 mil milhões de euros digam respeito, segundo as nossas estimativas, a fundos mobiliários internacionais. A alocação dos fundos de pensões (carteiras de 21,32 mil milhões no final de 2022) a fundos de investimento recuou dos 8,68 mil milhões de euros totais brutos, para os 7,99 mil milhões. Destes últimos, estimamos que 6,66 mil milhões estejam em fundos mobiliários estrangeiros

Os dados da APFIPP mostram-nos que uma parte relevante de ambos os anteriores segmentos são geridos pelas gestoras de patrimónios nacionais, pelo que há que ajustar para esta duplicação. Segundo os dados de final de ano, 22% dos ativos das seguradoras e 31% dos ativos dos fundos de pensões enquadram-se nesta situação. Ajustando, chegamos a um total líquido de 7,25 e 4,59 mil milhões de euros, respetivamente, para estes segmentos. 

Todos estes passos e estimativas resultam no total de 40,19 mil milhões de euros indicados anteriormente. Um valor inferior ao de 2021, pelas condições de mercado, não obstante, um valor absoluto impressionante. O veículo fundo e mais precisamente o fundo mobiliário estrangeiro (e ETF) tem-se consolidado de forma relevante como uma ferramenta importante da gestão de ativos nacional. Uma consolidação que tem atraído cada vez mais entidades gestoras estrangeiras, na tentativa de agarrar uma fatia deste nosso mercado. Mais do que concorrência de entidades gestoras internacionais, falamos de parceiros de negócios que alavancam as competências dos construtores de carteiras nacionais e o leque de opções dos investidores, imprimindo uma maior dinâmica ao mercado português.

Os fundos individuais

O pilar Blockbuster do Rating FundsPeople procura capturar a vertente de sucesso das estratégias individuais no mercado nacional por via do volume distribuído entre investidores portugueses. No Insights Rating pode ser consultada a metodologia e alguns dos fundos mais bem sucedidos no mercado nacional, enquanto a lista completa dos fundos que obtiveram Rating FundsPeople 2023 por esta via pode ser consultada na ferramenta de pesquisa de fundos no website da FundsPeople.