Fundos vs Investimento direto: a história e o duelo em cada segmento
Temos vindo a comprovar, ano após ano, que o veículo fundo, seja ele no seu formato tradicional seja em ETF, vive um momento muito bom em Portugal. Por um lado, vemos os fundos domésticos, em particular os mobiliários, a subir patamares progressivos de ativos sob gestão, com estes últimos a aproximar-se rapidamente dos 20.000 milhões de euros. Por outro, e apesar de uma pausa na escalada desde a pandemia, os fundos internacionais distribuídos em Portugal trilharam um caminho de crescimento e fecharam o ano de 2023 acima dos 43 mil milhões de euros, segundo as estimativas detalhadas da FundsPeople. Destes, estimamos que cerca de 17,01 mil milhões de euros sejam ETF.
As vantagens destas estruturas são evidentes, como a fiscalidade mais atrativa em algumas situações, ou a flexibilidade no acesso a carteiras diversificadas para construir as carteiras, mas a verdade é que o investimento direto continua a ser rei, pelo menos no que diz respeito aos diferentes segmentos investidores institucionais.
Analisando os dados disponibilizados pelo Banco de Portugal e pelo Banco Central Europeu que proporcionam algum detalhe e histórico, observamos que, em Portugal, o investimento nas categorias de ativos de risco consideradas - ações cotadas, títulos de dívida e fundos de investimento - tem crescido de forma relevante na última década e ultrapassou os 400 mil milhões de euros no ano de 2020.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento em Portugal - milhões de euros
Deste total, apenas uma pequena parte é canalizada por fundos de investimento, nomeadamente 18,1%, no final de março de 2024, percentagem que seria muito menor se fosse considerado o volume em depósitos. Segundo o Banco de Portugal, estes ascendiam a 182,2 mil milhões de euros e 63 mil milhões de euros das famílias e empresas não financeiras, respetivamente e à data de análise, representando volumes relativos menores na grande parte dos segmentos investidores desagregados nesta análise.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento em Portugal, a final de março de 2024 (%)
Os investidores particulares
Desagregando os números em dois grandes agregados - particulares e institucionais - podemos observar que na última década as famílias portuguesas têm vindo a abraçar o investimento em fundos em detrimento daquele que era o grande bloco de 2013, os títulos de dívida.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento das famílias em Portugal - milhões de euros
É certo que há dez anos, ainda no contexto da crise financeira europeia, o mercado de rendimento fixo, em especial o nacional, mostrava retornos potenciais que tornavam atrativo o investimento. Desde então essa tem sido uma categoria de ativos que tem reduzido o seu peso nos portefólios das famílias em favor do investimento em fundos que abarca 71% dos ativos de risco considerados.
O viés para o investimento em ações domésticas era grande em 2013 - cerca de três quartos do total -, mas mantém-se na atualidade, embora com um pouco menos de expressão (63%). Nos títulos de dívida, por seu lado, o peso dos emitentes nacionais decresceu, de mais de metade para cerca de um terço. Cerca de dois terços do investimento em fundos é feito em fundos domésticos quando em 2013 o peso era de 80%.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento das famílias em Portugal, no final de março 2024 (%)
Os investidores institucionais
No que diz respeito ao investimento institucional, a escala do investimento nos ativos de risco considerados é significativamente maior - 363,65 mil milhões de euros - mas o peso dos fundos de investimento é muito menor, 12,1%. Falamos, neste segmento, de empresas seguradoras, fundos de pensões ou outros fundos de investimento, que historicamente têm privilegiado o investimento direto na construção das suas carteiras.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento dos investidores institucionais em Portugal - milhões de euros
O peso dos fundos de investimento na alocação dos ativos de risco considerados na análise, que ascende aos 12% atualmente, era de 9,4% no final de 2013. É uma variação positiva, não obstante marginal. Os títulos de dívida dominam as carteiras institucionais.
Distribuição do investimento em ativos financeiros líquidos e fundos de investimento dos investidores institucionais em Portugal, no final de março 2024 (%)
Todos os segmentos individuais ao detalhe
Finalmente, detalhamos no gráfico a alocação à data de análise de todos os segmentos analisados. Fica evidente, como já referido, que é o investimento dos particulares que move a indústria de fundos nacionais, mas também fica clara a força que tem nos fundos internacionais, com mais de 10 mil milhões de euros. O setor segurador é o segmento institucional que mais consome a gestão de ativos internacional, seguido do governo e administrações públicas. Apenas o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social investia, ao final de 2023, 6,8 mil milhões de euros em fundos de investimento, na sua totalidade em ETF e fundos tradicionais passivos.
No que se refere ao investimento em títulos de dívida, as instituições monetárias (inclui fundos do mercado monetário) rebentam com a escala e absorvem mais de 144 mil milhões de euros em ativos nacionais e 67 mil milhões internacionais. As entidades seguradoras seguem-se no investimento em títulos internacionais, mas é novamente o governo e administrações públicas que se seguem no ranking do investimento em dívida nacional.
Olhando para o investimento em ações cotadas, as empresas não financeiras lideram no investimento em ações nacionais, seguidas das famílias. Nas ações internacionais, são os fundos de investimento nacionais que agarram a maior fatia, seguidos, novamente, pelas famílias portuguesas.