As tecnológicas sofrem correções, enquanto os setores defensivos, como saúde e defesa, mostram resiliência. Na China, a rotação direciona-se para o consumo e o setor financeiro. Nas obrigações, devem prevalecer durações médias e ativos de qualidade.
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Os mercados globais enfrentam um período de ajustes e mudanças no sentimento dos investidores. Enquanto as ações europeias mantêm a sua resiliência, os EUA registam maior volatilidade devido à política comercial e à incerteza no setor tecnológico. Dados económicos recentes impactaram os mercados de ações. Nos EUA, o consumo registou, em janeiro, a sua maior queda em quase quatro anos, aumentando os receios de estagflação.
Além disso, a Reserva Federal de Atlanta reduziu a sua previsão de crescimento do PIB para o primeiro trimestre para 1,5%, muito abaixo das estimativas anteriores de 2,3%. Neste contexto, o S&P 500 e o Nasdaq caíram 3,7% e 6,8%, respetivamente (desde os máximos de fevereiro de 2025). Enquanto isso, na Europa, as ações demonstraram maior resiliência graças a dados económicos mais favoráveis.
Correção nos mercados: ajuste ou tendência de queda?
Mathieu Racheter, diretor de Análise e Estratégia de Mercados da Julius Baer, considera que a recente correção do mercado não marca o início de uma tendência de queda prolongada, mas uma recalibração do otimismo dos investidores. "Embora o sentimento tenha ficado marcadamente negativo, os dados de posicionamento sugerem que os investidores ainda não reduziram significativamente o risco", explica. Recomenda prudência antes de comprar em movimentos de queda. Além disso, destaca que os investidores podem começar a elaborar listas de compras para quando o mercado estabilizar.
Racheter também observa que o índice VIX, que mede a volatilidade do mercado, ultrapassou o limiar dos 20 pontos, refletindo um aumento da incerteza. Além disso, o mais recente inquérito a gestores de fundos globais revela que as alocações a liquidez caíram para 3,5%, o nível mais baixo desde 2010. Isto indica que o posicionamento dos investidores continua complacente, apesar da onda de vendas.
Por sua vez, Ronald Temple, estratega-chefe de mercados da Lazard AM, alerta para a possibilidade de um aumento na taxa de desemprego nos EUA. Esse crescimento poderá afetar a confiança do mercado. "A fraqueza nas taxas de contratação e de demissões pode indicar um efeito retardado da acumulação de mão de obra durante a recuperação. Isso pode resultar num aumento inesperado do desemprego", afirma. Temple também destaca que os recentes dados da inflação, embora alinhados com as expetativas, refletem um menor consumo, o que pode aumentar as preocupações com uma desaceleração económica mais acentuada.
Europa: resiliência no meio das tensões
Apesar da volatilidade global, os mercados europeus demonstraram relativa robustez. Um relatório recente da Edmond de Rothschild destaca que as ações europeias resistiram melhor às incertezas comerciais em comparação com Wall Street, que recuou cerca de 4%. O otimismo europeu sustenta-se em dados macroeconómicos favoráveis, como o crescimento das vendas a retalho na Alemanha e a inflação em França, que atingiu o nível mais baixo dos últimos quatro anos (+0,9%). Além disso, a possibilidade de um acordo de paz na Ucrânia poderá impulsionar uma maior flexibilização fiscal na zona euro. Adicionalmente, a expetativa de um maior investimento em defesa na Europa pode contribuir para a flexibilização das restrições fiscais.
China: expetativas de crescimento e rotação setorial
Richard Tang, analista de Investigação de Mercados na Ásia da Julius Baer, destaca que o sentimento dos investidores na China melhorou face a setembro passado, impulsionado pela recuperação do setor tecnológico e pela entrada de capital estrangeiro. "Prevemos uma rotação da liderança para setores que ficaram para trás, como o consumo e, em menor grau, o setor financeiro", comenta Tang.
Contudo, Temple alerta que, sem reformas estruturais significativas, o crescimento da China poderá continuar a enfrentar desafios. A Assembleia Popular Nacional poderá anunciar um objetivo de crescimento do PIB de 5% e medidas de estímulo fiscal para apoiar a economia.
Além disso, a estabilidade dos fluxos de investimento estrangeiro continua a ser fundamental para consolidar a recuperação dos mercados chineses, que receberam mais de 1.000 milhões de dólares por dia em entradas de capital nos primeiros meses de 2025.
De acordo com a inquérito anual a analistas da Fidelity International, as iniciativas de estímulo do governo devem ajudar a reduzir a pressão negativa sobre a economia e melhorar as perspetivas de lucro em vários setores. No entanto, cerca de 70% dos investidores acreditam que o risco geopolítico terá um impacto moderadamente negativo, enquanto 12% esperam um impacto significativamente negativo.

Estados Unidos: volatilidade devido à política comercial e tecnologia
O mercado norte-americano tem sido um dos mais afetados pela incerteza em torno das tarifas aduaneiras. A administração de Donald Trump aumentou em 10% as tarifas sobre as importações chinesas, gerando nervosismo nos mercados acionistas.
As tecnológicas também sofreram correções. Apesar dos bons resultados da Nvidia, as expetativas do mercado não foram atingidas, provocando uma queda de aproximadamente 11% na semana passada. No setor de software, Salesforce e eBay apresentaram previsões dececionantes, refletindo a incerteza em relação à economia dos EUA.
Por outro lado, os setores defensivos, como saúde e defesa, mostraram um desempenho superior. Empresas como Heico (+12,8% no mesmo período que a Nvidia) e Kratos Defense (+7,7%) beneficiaram da crescente procura no setor aeroespacial e militar. O setor farmacêutico também tem sido um refúgio para os investidores. Empresas como a Bristol Myers (+5,4%) e a Merck (+3,3%) beneficiaram da rotação de capitais para ativos defensivos.
Obrigações: uma oportunidade no meio da incerteza
Dan Ivascyn, CIO da PIMCO, destaca que a volatilidade em todas as curvas de yields "abre oportunidades em ativos líquidos de alta qualidade e segmentos sensíveis ao crédito". Acrescenta que, historicamente, as obrigações são atrativas, especialmente em carteiras de duração média, sem necessidade de assumir riscos excessivos com taxas de juro. Relativamente ao mercado de crédito, alerta que os spreads estão ajustados e recomenda evitar ativos de menor qualidade, priorizando aqueles com melhores fundamentais económicos.