Itália desafia a Europa com o seu orçamento: reações do mercado

4548759453_f4ff31e0e9_z
Giorgio Montersino, Flickr, Creative Commons

O primeiro orçamento da coligação italiana entre o Movimento 5 Estrelas e a Liga Norte já está sobre a mesa. O país fixou o seu objetivo do déficit nos 2,4% do PIB para 2019, com fundos adicionais em preparação para certas promessas eleitorais. Com isto, a Itália enfrenta as exigências da Comissão Europeia e até o objetivo de 1,6% proposto pelo seu próprio Ministro das Finanças. A informação foi uma fonte de preocupação para os investidores, que castigaram as bolsas europeias nos últimos meses perante as ameaças italianas de uma despesa fiscal elevada.

A primeira reação do mercado não foi positiva. O FTSE MIB baixou na sexta-feira cerca de 3,5%, mais do dobro do que a média dos restantes índices europeus. A dívida italiana também sofreu. A yield das obrigações italianas a 10 anos subiu para mais de 3% nesse dia.

A Itália caminha agora para uma colisão com a Comissão Europeia, que irá avaliar todos os orçamentos dos países membros a partir do dia 15 de outubro”, analisa Azad Zangana, economista europeu senior da Schroders. Na sua opinião, é provável que a Comissão dê instruções a Itália para reduzir o seu objetivo, embora tenha pouco poder para obrigar o país a fazê-lo. Como lembra o especialista, a França também planeia ultrapassar o seu objetivo anterior do déficit para 2019, precisamente de 2,4% também.

Para Patrice Gautry, economista chefe da Union Bancaire Privée (UBP), isto possibilita quatro cenários: um debate feroz com a União Europeia, um aumento sustentável do custo de capital para as empresas italianas, incluindo os bancos, uma possível redução da classificação da dívida italiana em outubro por parte das agências de rating ou o aumento da instabilidade política, arriscando-se que o Ministro das Finanças abandone a coligação.

Não é um desastre

Com tudo em mente, a proposta do novo governo italiano está longe do desastre que os mercados deduziam numa primeira análise, quando se formou em primeiro lugar, a coligação política. Adrian Hilton, diretor de taxas mundiais e divisas e obrigações da Columbia Threadneedle, acredita até que irão conseguir passar os limites de Maastricht.

No curto prazo, isto poderá significar um maior otimismo do mercado com a Itália. “A rentabilidade das obrigações italianas é difícil de ignorar, especialmente quando os investidores europeus têm poucos sítios para gerar um rendimento decente”, prevê Zangana.

Mas no médio-prazo? “A nossa principal preocupação é o panorama económico que piora à medida que tanto o sentimento doméstico como a exigência estrangeira enfraquecem”, afirma Hilton. Para Hilton e para Paolo Pizzoli, economista senior da ING, também terá de se vigiar as decisões das agências de rating. Tanto a Moody’s como a S&P irão emitir as suas avaliações nos finais de outubro. E, após a proposta apresentada na quinta-feira, “o risco de uma ressurreição dos temores acerca da sustentabilidade da sua dívida a médio prazo aumentaram, assim como uma possível diminuição no seu rating”, comenta Pizzoli. Uma diminuição que Andrea Iannelli, diretor de investimentos de obrigações da Fidelity, também prevê.

“O governo italiano não se tornou de repente numa coligação de conservadores liberais”, recorda Zangana, que prevê que a história se irá repetir daqui a 12 meses, com o orçamento de 2020.