O responsável pela Península Ibérica aconselha os clientes a pensarem num novo manual de investimento, a reinventarem a tradicional carteira 60-40 e a sobreponderar o que chamam megaforças.
Um novo regime de mercado exige novas ideias. As fórmulas que tão bem funcionaram no passado já não são válidas se pensarmos em investir no futuro. “Temos de ser mais criativos com a construção das carteiras, ter um novo manual de investimentos”, afirma Javier García Diaz, responsável pela Península Ibérica na BlackRock.
A mensagem lançada pela gestora norte-americana não é uma revisão anual às perspetivas macro. Na sua opinião, o período de inflação controlada e dos bancos centrais acomodatícios que temos visto nos últimos 40 anos ficaram para trás. O novo regime em que estamos a entrar, descrevem, estará caracterizado por uma limitação estrutural da oferta, taxas positivas e acima da média recente e, consequentemente, pressão sobre os ativos de risco. “Isso exigirá que os investidores sejam mais táticos, mais granulares”, acrescenta Javier García Diaz.
Ao contrário do consenso de mercado, a BlackRock acredita que a dinâmica de preços mais elevados não será passageira como consequência de uma série de forças. A transição energética, as tensões geopolíticas, o envelhecimento da população que limita o mercado de trabalho… são fatores com implicações negativas, mas também positivas para certos setores e indústrias.
O novo papel dos bancos centrais também é fundamental, segundo prevê a BlackRock. A gestora defende que, ao contrário das anteriores crises, já não veremos as instituições monetárias a virem em auxílio.
O novo manual de investimentos da BlackRock
Quando a gestora fala de mudança de regime e de se ser mais criativo, fala verdadeiramente de uma rutura com os esquemas tradicionais. “A tradicional carteira 60-40 não vai proporcionar os retornos reais do passado se a inflação se mantiver em níveis elevados. Em termos nominais, a perspetiva é que proporcionem 7% em média, mas se subtrairmos o breakeven da inflação, o retorno real ajusta-se para 3,5% anualizado”, explica Javier García Diaz.
Uma das alterações propostas é integrar novas classes de ativos, como os mercados privados. Concretamente, destaca o crédito privado, private equity e infraestruturas, sobretudo a relacionada com a transição energética.
Esta mudança de regime prevista pela BlackRock tem implicações negativas, mas também positivas. Javier García Diaz resume em três pontos principais as linhas do seu novo manual de investimentos:
- Estar consciente da postura restritiva dos bancos centrais;
- Virar-se para novas oportunidades;
- Aproveitar as megaforças (a revolução digital e a inteligência artificial, a desglobalização, a transição energética, o envelhecimento da população e o futuro das finanças).
Posicionamento tático
Mas esse é o manual da BlackRock para o longo prazo. Recordemos que Javier García Diaz insistiu, desde o início, que este novo regime exige investidores mais ágeis e táticos. Assim, a gestora norte-americana deteta certas oportunidades para os próximos seis a 12 meses.
Em ações estão sobreponderados em emergentes em comparação com os países desenvolvidos, principalmente na Ásia. Por estilo, qualidade e setores, aqueles que beneficiam das megaforças antes mencionadas. Em obrigações também observam mais valor em dívida emergente em divisa local, enquanto estão neutros em crédito (onde preferem investment grade) e seletivos em governamentais (priorizando a parte curta da curva).