Jim Cielinski (Janus Henderson): “Assumir que a inflação é má para as obrigações é uma simplificação”

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Jim Cielinski. Créditos: Cedida (Janus Henderson Investors)

Os investidores estão preocupados com o impacto que a inflação pode ter nas suas carteiras de obrigações. Que a inflação é má para o mercado obrigacionista é uma ideia generalizada. Mas, de acordo com Jim Cielinski, responsável global de obrigações da Janus Henderson Investors, assumir isto é uma simplificação. “Não há dúvida de que as obrigações com um cupão fixo verão o valor real desse cupão cair. Mas se isso se traduzir num retorno total positivo ou negativo para o investidor dependerá de outros fatores”, assegura.

Entre esses outros fatores, cita, por exemplo, questões como qual é o retorno atual, qual a duração das obrigações ou que retornos oferecem outros investimentos alternativos. “Mas, acima de tudo, a inflação torna-se uma preocupação quando obriga os banqueiros centrais a reagirem muito seriamente. A pressão da política monetária é normalmente o principal gatilho para uma mudança de ciclo”, recorda.

No entanto, na sua opinião, os elevados níveis de inflação e de retornos reais não precisam de ser maus para o crédito. “São tipicamente indicativos da expansão económica. Um ambiente de crédito melhorado, compatível com uma contração nos spreads, pode funcionar como um tampão contra a pressão ascendente sobre os retornos”.

Estudo

Para defender a sua teoria, baseia-se numa análise feita pela Morgan Stanley. Compara a rendibilidade excedentária no investment grade dos EUA e no segmento de high yield em condições diferentes.

Em suma: O aumento dos níveis de inflação é tipicamente positivo para a rentabilidade, ao mesmo tempo que produz resultados mais ambíguos sobre os retornos reais.

Rentabilidade do crédito nos diferentes regimes

Além disso, o impacto que a inflação pode ter nos agentes económicos também não deve ser negligenciado. De facto, os preços mais elevados já estão a começar a afetar os consumidores. Estes estão a começar a ver aumentos de preços com um prisma negativo em termos de intenção de compra.

Bons momentos para comprar (preços baixos) menos maus momentos para comprar (preços altos)

Fonte: Universidade do Michigan. Inquérito a consumidores. Razões para as opiniões sobre as condições de compra de veículos. Razões para as opiniões de compra de casa (preços relativos), de maior de 1979 a julho de 2021.

“A inflação pode ser prejudicial se pesar na procura ou levar os decisores políticos a reagirem de forma agressiva para a combater. Os mercados veem a recuperação da inflação como transitória e parecem estar a ver o gradualismo da resposta dos bancos centrais (reduções de PEPP pelo BCE, tapering do Banco Federal da Austrália e da Reserva Federal) como uma reação adequada a uma economia em melhoria. Isto representa uma viragem abismal do discurso que normalmente provoca taper-tantrums nos mercados”, conclui.