Ken Stuzin (Brown Advisory): “Quem comparar a correção atual com a de 2008 está a delirar”

Ken Stuzin Brown Advisory
Ken Stuzin. Créditos: Cedida (Brown Advisory)

Desde máximos até agora, os principais índices de ações registam quedas de dois dígitos. Uma correção prolongada que não víamos desde o pior dia da pandemia em 2020. Sem dúvida uma situação dolorosa para o investidor, mas na opinião de Ken Stuzin, gestor do Brown Advisory US Equity Growth, as comparações com a Grande Crise Financeira são incorretas. “Quem comparar a atual correção com a de 2008, está a delirar”. Para Stuzin, não estamos numa situação sem precedentes, nem num cenário aterrador.

O gestor sublinha que não é nem se considera um economista. Dito isto, tem uma visão muito clara sobre o sentimento atual do mercado. “As yields do Tesouro dos EUA passaram de 0 para 3% e qualquer um diria que estamos perante o fim do mundo. Mas a realidade é que as taxas tinham de subir”, acrescenta. E insiste: é uma coisa boa. “A inflação atingiu a Reserva Federal de frente. Estão atrás da curva, por isso é um bom sinal que as taxas de juro estejam a normalizar”. 

Duas ideias aproveitando o ruído atual

O Brown Advisory US Equity Growth tem Rating FundsPeople 2022.  De facto, é um dos fundos mais votados pelos selecionadores do Sul da Europa. Um reconhecimento que é muito bem entendido: o fundo está localizado no primeiro quartil da sua categoria a três e cinco anos. Mas o fundo não escapou à correção generalizada e acima de tudo nos setores classificados como growth. 

Mas, na opinião de Stuzin, é apenas isso, uma correção. “Não estamos numa espiral de morte. Já experienciei isso”, insiste. Na verdade, estão a aproveitar as quedas para entrar em negócios de qualidade com avaliações muito atrativas.

Duas ideias recentes são a Nvidia e a Aligntech. No caso da Nvidia, é uma nova oportunidade. O gestor reconhece que se têm mantido afastados do setor dos semicondutores em geral devido às elevadas avaliações. Também pela exposição da indústria às criptomoedas. “A Nvidia tem uma posição de liderança nos centros de dados. E acreditamos que ainda estamos na fase inicial da adoção de outsourcing de dados”, explica Stuzin. A Aligntech é a produtora de ortodontia invisível Invisalign. “A vaidade humana é algo que não vai desaparecer por mais crise que haja e apesar de tentar emergir nova concorrência, a Invisalign tem uma posição dominante”, destaca.

Filosofia do Brown Advisory US Equity Growth

Stuzin define a equipa de gestão como investidores em modelos de negócio em vez de selecionadores de ações. É uma filosofia que se reflete no tempo médio de uma ideia no portefólio: cinco anos. A paciência é uma qualidade intrínseca do seu processo de investimento. “Não precisamos de satisfação instantânea. Isto permite-nos manter a calma em momentos de volatilidade e ruído”, explica.

Claro que, para estar no portefólio do Brown Advisory US Equity Growth, uma empresa deve cumprir um critério rigoroso. Procuram um crescimento de earnings per share de 14% ao longo de um ciclo económico. Não é um número aleatório. É exatamente o dobro do crescimento médio dos ganhos do mercado historicamente. Por outras palavras, é assim que a gestora define o seu estilo growth.

Este filtro implica que a principal preocupação da equipa de gestão seja a vantagem competitiva. E a equipa passa tanto tempo a estudar os fundamentais da empresa em que investe, como o seu panorama competitivo. “Pode levar cerca de três meses só para ter a visão inicial de uma ideia”, diz Stuzin. Esta parte é mais o trabalho da equipa de cerca de 40 analistas especializados em ações. “O meu papel é ser o Dr. No”. É um processo exaustivo, mas necessário. "Num portefólio concentrado como o nosso, um erro pode ser letal”, sentencia.

E uma característica final do fundo é a sua política de uma ideia dentro e de uma ideia fora. O gestor vê-a como uma condição necessária para não pecar por sobrediversificação. “No final, o investidor escolhe-nos para gerar alfa e uma elevada participação ativa”, insiste.