Nesta entrevista com a FundsPeople, o CEO da Morningstar reflete sobre a evolução do investimento sustentável, as mais recentes aquisições da empresa e as tendências na gestão de ativos.
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Passaram-se quatro anos desde a última reunião presencial entre a FundsPeople e Kunal Kapoor, CEO da Morningstar. Este período tem sido marcado pelo crescimento e expansão da empresa. A Pitchbook (dados de capital de risco) juntou-se à agência de classificação de dívida DBRS. Houve ainda a aquisição total da Sustainalytics (fornecedora de dados de sustentabilidade), da qual a Morningstar já tinha uma participação de 40%. Nesta entrevista, Kapoor reflete sobre a evolução do investimento sustentável, as mais recentes aquisições e tendências da empresa na gestão de ativos.
Regulação da sustentabilidade
Começámos a entrevista a falar de sustentabilidade, para saber como a Morningstar está a enfrentar um mercado cada vez mais dependente de dados e constantemente a adaptar-se às novas regras. “Nos últimos cinco anos assistimos a uma mudança muito significativa na forma como a sustentabilidade é encarada e o seu papel no mundo dos investimentos. Houve uma explosão de dados, informação e análise em torno desta intersecção entre investimento e sustentabilidade”, sublinha Kapoor.
Na sua opinião, o facto de existirem muitas soluções diferentes no mercado “é positivo e também característico de um mercado ainda jovem em que há muita inovação”.
Neste cenário, considera que o risco seria que o regulador se apressasse muito a homogeneizar todas estas opções. “Nesse caso, o resultado seria algo com o qual as pessoas pudessem estar confortáveis, mas essa não era necessariamente a melhor solução”. No seu ponto de vista, espera-se que as empresas façam mais e melhor em termos de divulgação. Mas “a regulação não deve ser uma forma de conformação. Os próprios investidores devem ser quem dá o sinal de que já estão satisfeitos com a informação divulgada face a um modelo baseado em referências marcadas pelo regulador”.
Heterogeneidade
Voltando à questão da heterogeneidade dos dados e das classificações de sustentabilidade dos diferentes fornecedores, o CEO da Morningstar não considera a diversidade de ratings uma coisa negativa. Para Kapoor, o importante é que se compreenda o processo por trás de cada um. “As classificações devem ser tidas como ponto de partida da análise. O pressuposto de que devem ser homogeneizadas pode implicar que sejam interpretadas como o ponto final. A Morningstar baseia-se na convicção de que os investidores são inteligentes e muito capazes de discernir. Portanto, tanto pessoalmente, como consumidor e investidor, como profissionalmente, não me parece que a normalização seja a solução mais satisfatória”, refere.
Na sua opinião, cada empresa deve poder escolher o que é importante para a empresa e para as pessoas que serve. “Não tentamos ser iguais aos outros, tentamos refletir aquilo em que os investidores podem estar interessados e tentar representá-lo”, esclarece. Agora, dentro dessa diversidade, estima que “talvez, tal como nos relatórios financeiros, não seria mau ter alguns pontos de referência comuns e comparáveis entre todas as empresas, embora, no final, os ratings estejam a expressar uma certa ideia e penso que os investidores são muito capazes de distinguir entre elas. A nossa missão é dar-lhes a informação para que possam decidir como querem usá-la”, acrescenta.
Crescimento e tendências
Além da sustentabilidade, há outras áreas a que a Morningstar está a prestar especial atenção. Kapoor destaca o crescimento da agência de classificação de crédito DBRS Morningstar. “Escolhemos Madrid para que seja um dos principais hubs da Europa. Já temos uma equipa de 40 pessoas aqui e vai continuar a crescer. Acreditamos que também no mundo da classificação de crédito podemos criar um produto melhor para emitentes e investidores. É um projeto muito importante para nós”, explica.
Outra questão a que estão a prestar muita atenção é a evolução das carteiras de investimento. “Há alguns anos, as carteiras tinham alguma liquidez, algumas obrigações, talvez ações e, ocasionalmente, algum produto estruturado. Isto mudou. Temos assistido ao aumento de ativos privados, sustentáveis de capital de risco. Os ativos que anteriormente só estavam disponíveis para o investidor institucional estão gradualmente a chegar a mais investidores”, afirma. Todas estas mudanças fazem-no pensar que “a personalização é uma das grandes tendências do futuro. Se antes era necessário ter uma certa quantidade de dinheiro para ter um certo grau de personalização nas carteiras e aceder a certos produtos, acreditamos que este montante será reduzido consideravelmente. Pensamos que esta é uma tendência clara, pelo menos nos países onde o legislador já o permite”.
Ativos ilíquidos
Em consonância com esta maior diversidade de ativos nas carteiras, Kapoor salienta que no mundo do capital de risco e do venture capital já têm a Pitchbook, um fornecedor de dados líder. “Para a questão dos produtos estruturados estamos a pensar em fazer parcerias para poder incorporar essa informação. Para outros ativos ilíquidos estamos a fazer um grande esforço da nossa parte no que concerne os dados, o que é sem dúvida um desafio em comparação com outros tipos de ativos”.
Existem muitos produtos alternativos ilíquidos projetados para um determinado portefólio e pode ser muito mais difícil identificá-los e valorizá-los. “Ainda hoje, qualquer fundo de rendimento fixo não só tem obrigações, como exposições a determinados eventos, através de derivados e estruturados. Como fornecedor de dados, isso é certamente um desafio”, explica.
Europa e EUA
Como fornecedor global, quisemos também perguntar a Kapoor as diferenças que podem existir entre os mercados americano e europeu. “Uma é, claro, a questão que mencionei sobre a personalização. Trata-se de uma tendência clara e real e penso que também chegará à Europa, porque talvez muitas empresas que começaram como robot advisors possam estar a repensar os seus modelos de negócio, que em muitos casos não funcionam, mas talvez possam personalizar carteiras a um custo razoável.”.
Além disso, surpreende-o porque o baixo custo é uma tendência que ainda não chegou à Europa. “Embora as comissões já tenham caído na Europa, não o fizeram tanto como noutros países. Agora, a Europa está claramente à frente na sustentabilidade e aí teremos de ver se não só pode funcionar como um instrumento de investimento para o investidor institucional, mas também chegar a assessores e investidores privados”, conclui.