O primeiro leilão desde que se instalou a crise política conseguiu os objectivos propostos mas reflectiu o impasse vivido em Portugal.
O leilão da dívida pública portuguesa conseguiu aquilo que estava proposto obtendo a totalidade dos 1.500 milhões de euros, 300 milhões na emissão a 5 meses e 1.200 milhões a 12 meses.
Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa, refere que “os leilões correram com normalidade, com as taxas a saírem dentro daquilo que tem estado a ser praticado no mercado”.
A taxa do muito curto prazo, ou seja, a 5 meses, manteve-se praticamente igual à praticada há um mês, sendo de1,045%. No entanto Filipe Silva salienta que “neste leilão a procura foi elevada mas só 20% do montante colocado foi dirigido para esta maturidade”.
Já no leilão a 12 meses, comparando com o mês passado, a taxa de juro subiu bastante, de 1,232% para os 1,72%. Ricardo Arroja, da Pedro Arroja SA, considera mesmo que “a emissão a 12 meses desta semana foi a mais onerosa do ano, consequência da crise política das últimas semanas, que está a conduzir à inversão da curva de rendimentos entre os 2 e os 10 anos”.
Filipe Silva faz uma análise semelhante considerando que “o impasse político interno pode ter pesado um pouco nesta taxa a 12 meses. Mas os leilões foram um não-acontecimento.”
Esta operação liquidará a 19 de Julho coincidindo com o vencimento de perto de 2 milhões de euros de outra emissão, o que para Vasco Teles da ESAF “implica que o montante bruto de financiamento do Estado diminuirá 500 milhões de euros, o que poderá estar não só relacionado com o aumento do custo, como também com o facto do Tesouro ter conseguido criar uma folga de liquidez de curto prazo confortável ao longo dos últimos meses.”
A título de exemplo do impacto da crise política, Filipe Silva fala do caso da Alemanha que “a 5 anos, financia-se a um custo de 0,8%. Portugal, a 1 ano, financia-se a 1,72%. “. Ricardo Arroja prevê que” na ausência de uma definição política, estável e duradoura, é de esperar que as próximas emissões de bilhetes do Tesouro com vencimento a partir de 2014 continuem a resultar em condições de financiamento mais onerosas para a República Portuguesa.”