Marcus Watson (Morgan Stanley IM): “Existem muitas razões para estarmos preocupados com os lucros do mercado”

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Marcus Watson. Créditos: Cedida (Morgan Stanley IM)

Nove meses passados de 2022 e o índice MSCI World corrigia em mais de 25%. Entretanto recuperou uma parte dessas perdas, mas ainda se encontra em território negativo. Surpreendentemente, isto resultou numa situação de de-rating (queda dos preços ao invés da queda dos lucros), em vez de alterações nas estimativas de lucros. “Isto faz sentido dado o múltiplo extremo em que o mercado negociava no início do ano, negociando a um múltiplo de 19 vezes. 36% acima da média de 2003-19, período durante o qual o múltiplo nunca chegou a 17 vezes. O múltiplo agora está abaixo de 14 vezes, aliviando os nossos receios de contração do múltiplo e transferindo a nossa preocupação para os lucros”, sublinha Marcus Watson, membro da equipa de gestão do Morgan Stanley Global Brands, fundo com Rating FundsPeople+ 2022

Para Watson, “existem muitas razões para estarmos preocupados com os lucros do mercado”. Na sua opinião, a principal ameaça a curto prazo é a perspetiva de uma desaceleração económica. “Os bancos centrais estão a tentar contrariar a inflação através de taxas de juro mais elevadas e alguns prognósticos económicos sugerem que uma aterragem suave é possível. A longo prazo, poderá haver mais pressões sobre os lucros devido ao aumento dos custos de financiamento, à necessidade de investimento em cadeias de abastecimento mais resilientes, ou a taxas fiscais potencialmente mais altas à medida que os governos procuram reparar os seus balanços”.

Na sua opinião, o problema é que os números do consenso claramente não antecipam uma desaceleração significativa dos lucros e muito menos uma recessão grave. “Espera-se que os lucros aumentem mais de 5% durante o próximo ano. Dado o contexto macroeconómico incerto, existe o risco de queda dos lucros. Se estes riscos se tornarem realidade, as empresas com capacidade para aumentar os seus lucros irão tornar-se numa fonte ainda mais importante de resiliência”, afirma.

Do ponto de vista do investimento, valorizam o poder de fixação de preços - a capacidade de transferir os custos para os consumidores - e as receitas recorrentes - consumo repetitivo -, seja devido a contratos a longo prazo ou à força do hábito dos consumidores, apoiados por marcas fortes.

“A combinação destes fatores significa que tanto as margens como as receitas seriam sólidas numa desaceleração, protegendo os lucros. No entanto, neste momento, o poder de fixação de preços parece bastante universal dada a escassez da oferta, que alimentou a inflação (preços galopantes), a shrinkflation (redução da dimensão dos produtos) e a temida skimpflation (a deterioração da qualidade dos serviços que todos temos sofrido), o que significa que o poder de fixação de preços não proporciona uma vantagem neste momento”, explica.

A situação é possivelmente pior para algumas empresas. “Os contratos a longo prazo evitam que os fornecedores aproveitem as subidas de preços e também podem causar problemas a curto prazo ao repercutir aumentos dos custos de inflação, pelo menos até à expiração dos contratos, quando o poder de fixação de preços permite que a empresa recupere o atraso”. 

A equipa continua a considerar o poder de fixação de preços e as receitas recorrentes fatores-chave para a revalorização do capital a longo prazo. Na sua opinião, os bons momentos atuais para a maioria das empresas podem transformar-se em tempos difíceis nos próximos trimestres, com qualquer desaceleração ou recessão a ameaçar as suas margens corporativas recorde, visto que o atual excesso de procura se pode transformar num potencial excesso de oferta.

“Preocupa-nos menos a vulnerabilidade dos lucros do Global Brands, uma vez que os dois fatores da carteira devem oferecer proteção, como se viu na resiliência dos ganhos durante a COVID-19, quando os lucros da carteira caíram 6% face a 21% do índice MSCI World e durante a crise financeira global, que registou uma queda de 12% relativamente a 41% do índice. No passado, as quedas nos lucros do mercado foram acompanhadas por um retorno relativamente superior da carteira”.

Atual posicionamento do fundo

O fundo permanece muito concentrado, com apenas 32 ações e o top 10 a representar mais de 50% da carteira. “O nosso foco na qualidade e na valorização dificulta a elegibilidade de uma ação para entrar na carteira. Durante os últimos nove meses, o peso em nomes dentro do consumo estável, consumo discricionário e indústria foi reduzido. Trata-se de uma inversão do padrão 2018-2021, onde a valorização foi uma preocupação importante, uma vez que o extremo das empresas mais growth da carteira teve um bom comportamento”.

Segundo Watson, é mais claro observar a mudança comparando a atividade em função da taxa de crescimento das empresas. “Durante quatro anos, vendemos cerca de 1.800 pontos base em ações com taxas de crescimento acima dos 6%, em favor de empresas com crescimentos menores, enquanto até agora houve um movimento de cerca de 500 pontos base na direção contrária, uma vez que o prémio de crescimento para as ações growth em relação às ações mais estáveis na carteira foi reduzido significativamente”.

Últimas alterações na carteira

O MS Global Brands tem um horizonte de investimento a longo prazo e as empresas de alta qualidade nas quais investe são veículos naturais para potenciar o património dos acionistas. “A nossa abordagem a longo prazo permite aos investidores beneficiar da criação de valor inerente a estas empresas. No geral, reduziremos exposição ou iremos desinvestir numa ação se esta atingir o seu objetivo de valor razoável e se o seu retorno de fluxo de caixa livre deixar de ser atrativo em relação a outras ideias. Também sairemos de uma posição quando virmos provas de desgaste da marca. Como resultado, não há normalmente grandes alterações na carteira e a rotação é relativamente baixa. A rotação da carteira na estratégia é de aproximadamente 20-25% anual. Até agora tem sido de 11,5%”.

Recentemente, abriram uma posição num dos líderes da indústria de elevadores. “A manutenção recorrente representa 50% das receitas e 73% dos lucros, ajudando a impulsionar um retorno de 300% do capital operacional. Historicamente, a empresa não foi gerida adequadamente, mas a nova direção impulsionou uma mudança de rumo, ganhando participação nas instalações, o que deve ser positivo para futuras receitas de manutenção", justifica.

Também acrescentaram uma posição numa das três empresas dominantes no atrativo negócio de notação de crédito. “A empresa foi castigada severamente em 2017 por uma violação massiva de dados. Desde então, a sua equipa de gestão foi substituída e gastaram mais de 1.500 milhões de dólares na reconstrução da sua tecnologia. Além de melhorar a segurança, a nova configuração da sua tecnologia baseia-se na cloud e permite um desenvolvimento de produto mais rápido. Além disso, a empresa tem uma posição dominante em soluções de recursos humanos, onde verifica a informação de emprego”, explica Watson.

Além disso, a forte compressão na valorização dos nomes mais growth este ano também lhes deu a oportunidade de algumas compras para a carteira, que financiaram através de ações que aguentaram melhor até agora, incluindo nomes do consumo estável. Acrescentaram também alocação a uma empresa francesa de bebidas que já possuíam, uma vez que o negócio asiático (40% das vendas) está bem posicionado para crescer à medida que a COVID vai diminuindo na China. A Índia vê-se favorecida pelo fim das pressões fiscais e pela possível redução das tarifas sobre o whisky escocês. “Além disso, a debilidade do euro deve proporcionar um impulso significativo às estimativas”, conclui.