As consultoras para investimento saúdam a entrada em vigor de uma diretiva que coloca a tónica na independência, enquanto que as gestoras de patrimónios mostram as principais nuances que tiveram de executar para estar “compliance”. O unbundling research não fica de fora.
Depois de lhe termos mostrado como é que a banca privada e as plataformas de fundos de investimento encaram a entrada em vigor de MiFID II, hoje debruçamo-nos sobre outros dois segmentos de mercado, e sobre um tema que é transversal a toda a indústria: o unbundling research.
Sociedades consultoras para investimento
No âmbito do segmento de consultoria para investimento os inputs são ligeiramente distintos dos mencionados no âmbito da banca privada e das plataformas que distribuem fundos de investimento estrangeiros. As SCIs com quem a Funds People se tem “sentado à mesa” fazem bandeira da sua independência e, muitas delas, dizem já ter nascido preparadas para o desafio que MiFID II representa, o que pressupõem que algumas das SCIs funcionarão num regime de independência no aconselhamento que prestam. Contudo, como reportado no pequeno-almoço organizado pela Funds People para a revista 17, não deixam de existir problemas com os quais lidar, principalmente no que toca às erradas percepções do cliente mais tradicional, que por vezes prefere ver as comissões a serem debitadas pelo banco do que “passar um cheque ao intermediário financeiro, com tudo descriminado”.
Gestoras de patrimónios
Todos os procedimentos estão engrenados para estarem em consonância com a diretiva. Foi o que reportaram recentemente as entidades que fazem gestão discricionária em Portugal, altura em que deram também feedback sobre a entrada em vigor da diretiva. Entidades como a Ask Patrimónios falam por exemplo da “total revisão de muitos procedimentos” que foram necessários implementar, nomeadamente nas áreas de legal e IT. “O aumento da documentação fornecida a reguladores, clientes e ao público” foi outro dos aspetos apontados, nomeadamente pela Casa de Investimentos. A Crédito Agrícola Gest juntou a este rol de competências a necessidade de terem de dotar “os sistemas de informação e algumas funções da capacidade de reporte necessária para dar resposta às novas necessidades”.
Outra das componentes apontadas pelas gestoras de patrimónios foi a questão do unbundling research. A este nível, várias entidades reportaram que optaram por suportar os custos no âmbito do research, como foi o caso da GNB Gestão de Ativos. A Bankinter Gestão de Activos, por seu turno, optou por uma “racionalização da utilização dos estudos de investimento produzidos por Bancos de Investimento/Brokers”, estando na entidade a ser feita uma “seleção apertada dos fornecedores” com quem vão trabalhar daqui em diante.
Unbundling research
Precisamente o impacto do unbundling research será obviamente vasto na indústria de fundos de investimento e na área de gestão de ativos. Como recordava João Lampreia, head of research do BiG na revista número 21 da Funds People Portugal, o impacto sentir-se-á tanto do lado do buy side (managers), como no sell side (research).
Do ponto de vista do buy side, e na opinião do profissional, o impacto poderá traduzir-se “numa queda gradual mas sustentada da generalidade de acesso a conteúdos de research, à medida que aumenta o escrutínio sobre o unbundling do research e os portefólio managers são obrigados a selecionar os melhores conteúdos de análise numa lógica de avaliação contínua subjacente ao binómio qualidade-preço”. Resumidamente, o responsável dizia acreditar que o número de providers de research disponíveis para os asset managers deverá comprimir-se substancialmente. João Lampreia escrevia mesmo que em Portugal “um número relevante de agentes de mercado institucionais”, como os fundos de pensões ou os familly offices podem vir a ficar “praticamente sem conteúdos”.