Embora tenham passado relativamente despercebidos, quatro acontecimentos determinaram o sentimento do investidor nestes últimos meses.
Poucos foram os acontecimentos que conseguiram despertar os mercados este verão, mas isto não significa que não tenha acontecido nada. Além dos problemas que ainda dominam os mercados emergentes, numa entrada recente no blogue da Franklin Templeton, Beyond Bulls and Bears, David Zahn, responsável de obrigações europeias da entidade, revê três movimentos de mercado este verão que passaram despercebidos, e um quarto que talvez não tanto.
A sonolência tradicional destes meses foi apenas interrompida pela crise na Turquia. O drama de verão em emergentes acalmou sem danos colaterais aparentes, mas gerou um movimento chave aos olhos de Zahn. A fuga para os ativos de qualidade pressionou ainda mais as obrigações core europeias. Visivelmente, o bund alemão caiu para os 0,30%, em meados de agosto. Um nível que para Zahn “não faz sentido” tendo em conta o contexto macro europeu. Embora o QE do Banco Central Europeu atue como teto para as obrigações europeias, o especialista da Franklin Templeton vê o bund a 10 anos próximo dos 0,70-0,80%, no mínimo.
O tapering confidencial
Nas palavras de Zahn, o acontecimento mais interessante para o mercado de obrigações europeias ocorreu fora da Europa. Mais concretamente, no Japão. Com o BCE na rampa de saída, o Banco do Japão (BOJ) será o último de entre as grandes instituições ainda com um programa ativo de compras. Mas pouco a pouco e sem fanfarras foi reduzindo as suas compras no que Zahn designa de “um tapering confidencial”.
Já na sua reunião nos finais de junho, o BOJ anunciou pequenas alterações na sua política: aumentou 0,10% para os 0,20% a sua tolerância às oscilações dos 10 anos japoneses do seu objetivo, nos 0%. Ou seja, irá permitir uma volatilidade maior.
Sem uma liderança clara na Europa
A falta de notícias também é notícia. “Ficou claro que há um vazio de poder na liderança da Europa”, anuncia Zahn. Nem Angela Merkel, tocada por diferenças com a sua coligação, nem Emmanuel Macron, sem o apoio dos sondagens, parecem ter força suficiente sozinhos, pelo que deverão trabalhar juntos.
Uma união necessária para os próximos meses. O governo italiano tem previsto apresentar o seu orçamento para 2019 em setembro ou outubro. E têm vindo a mostrar que estarão abertos a exceder o déficit para estimular o crescimento económico, ao contrário dos guias que a UE indica. De momento, Zahn acredita que os italianos irão agir com cautela; os fantasmas do que pode acontecer a um país quando os mercados se assustam (o exemplo da Turquia) ainda pairam no ar.
O Brexit, um fracasso de todos
Também não há novidades em relação à frente britânica, mas o tempo esgota-se. Em função das negociações atuais, parece que o Reino Unido sairá da UE a mal: sem acordo definitivo. Isso irá trazer consequências negativas para os restantes membros da UE, segundo Zahn defende, e sobretudo, seria um fracasso do negociador principal da UE, Michel Barnier.
Exatamente por isso, prevê algumas semanas de pressão para a equipa de Barnier e movimentos políticos de última hora no Reino Unido. Como recorda o especialista da Franklin Templeton entramos na temporada de conferências de partidos, o que poderá ser decisivo para a liderança e direção política futura dos grandes partidos políticos no Reino Unido.
“São muitas partes em movimento em alturas onde a estabilidade é o mais necessário”, conclui Zahn.