Muito risco, mas também muita precaução: eis os primeiros três meses do ano

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Little_Pan, Flickr, Creative Commons

Não é novidade. A busca pelo risco por parte dos investidores instalou-se no mercado, e passou a ser tendência quase dominante. “Quase”, porque algumas questões geopolíticas também pesaram na balança do investimento, e as escolhas foram ambíguas. A Funds People pediu aos profissionais nacionais para avaliarem como foi afinal o apetite por risco dos investidores no arranque deste ano. 

Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos, começa por dar conta de uma certa ambiguidade no comportamento dos investidores. A especialista alerta que “a variação nos principais índices bolsistas mundiais neste 1º trimestre foi mista com tendência negativa nos EUA, mista com tendência positiva na Europa, e mista sem tendência definida na Ásia (respectivas tabelas podem ser consultadas aqui). Os dados apresentados pela profissional são o reflexo da “ambiguidade do apetite ao risco por parte do investidor” que foi “conduzido sempre e inevitavelmente pelo contexto macroeconómico e político que se vive de momento, bem como por acontecimentos específicos em determinados títulos”. Enumeradas são as “preocupações com o abrandamento da economia chinesa, ou o aumento das tensões na Crimeia”, que “resultam invariavelmente numa fuga por parte dos investidores dos activos com maior risco”. No que diz respeito à “procura dos investidores na recente onda de financiamento no mercado por parte de todos os países da periferia do euro, exceptuando Portugal”, existe um reflexo  de uma “clara tendência de crescimento do apetite dos investidores por este tipo de títulos que, sendo agora considerados investimentos menos arriscados, são aceites em troca de rendibilidades mais baixas”, explica. 

Procura progressiva

Paulo Monteiro, do Invest Gestão de Activos, e Diogo Serras Lopes, do Banco Best, partilham ambos de que a procura pelo risco tem sido uma espécie de escalada progressiva. “Verifica-se um crescente interesse por alternativas com maior risco, à medida que as taxas de juro dos depósitos vão sendo mais baixas”, começa por dizer o profissional da Invest GA, que realça os “fundos de investimento e os depósitos indexados (têm capital garantido mas existe o risco da remuneração ser nula)”, como as principais alternativas. Do Banco Best é sublinhado que a tendência de procura por risco não se confina apenas a este trimestre. “Os investidores têm-se tornado progressivamente mais dispostos a risco nos seus portfólios, tanto em termos obrigacionistas, como em termos acionistas”. 

Ativos periféricos: forte procura

Jorge Guimarães, da Banif Gestão de Activos, e Ricardo Silva, da CA Gest realçam ambos  o maior interesse pelos ativos da periferia europeia. “Apesar das acções terem registado apenas subidas ligeiras no ano, a forte performance dos activos periféricos (e dos activos de crédito como um todo) indicam um maior apetite dos investidores por activos de risco”, diz o profissional do Banif. Da CA Gest é realçado o facto de se terem reforçado as nuances já verificadas em 2013. “O apetite pelo risco permaneceu elevado em particular por activos da periferia europeia. Temos a convicção que atendendo às valorizações já presenciadas nesta fase do ano, o mercado poderá tornar-se mais selectivo e as subidas menos generalizadas. Nesta fase do ciclo, o efeito liquidez tem-se, inequivocamente, sobreposto aos fundamentais”, acrescenta Ricardo Luís Quintão Duarte. 

Fundos multiativos beneficiam

Uma perspetiva mais abrangente é apresentada pela equipa da Millennium Gestão de Activos, que fala de uma opção em específico. “No primeiro trimestre de 2014 a comercialização dos fundos multi-ativos beneficiou de um impulso comercial, ao conseguirem conciliar a perspetiva de rendimentos adequados a cada perfil de risco”, assinalam. Para a entidade “esta situação foi ainda sustentada pela consecutiva descida de taxas de juro dos produtos bancários e dos produtos financeiros conservadores e pelo aumento de volatilidade dos mercados acionistas, que têm vindo a ser fortemente condicionados pela instabilidade geopolítica na Europa com os conflitos na Ucrânia”. Os clientes da Millennium Gestão de Activos mostraram portanto a sua “preferência por produtos com grande diversificação de classes de ativos e com boas expetativas de rendibilidade.”

Outra das tendências verificadas foi o aumento da procura por produtos de tesouraria, que “se ficou a dever essencialmente à diminuição do peso em produtos de risco acionista e à necessidade de realocação das carteiras em consequência da instabilidade geopolítica na Europa, o que tem estado a afetar uma parte significativa dos mercados acionistas”. Durante as últimas semanas é lembrado que este sentimento foi agravado “com a perceção de que as ações, e em especial as tecnológicas, começam a estar sobrevalorizadas, o que tem levado o índice Nasdaq a destacar-se pela negativa, ao registar a queda  mais acentuada desde novembro de 2011”. Já na Ásia, “por contágio, os índices acionistas também registaram quedas”. Em conclusão a gestora indica que “neste contexto de algum ambiente pessimista, os investidores têm vindo a refugiar-se em ativos de menor risco tais como dívida governamental europeia e norte-americana”.