Natixis IM: quatro motores que irão orientar as estratégias dos investidores

Thought Leadership Summit 2023
Thought Leadership Summit 2023. Créditos: FundsPeople

Quatro fatores vão orientar as escolhas dos investidores num futuro próximo. O retorno das obrigações como opção de investimento; a transição climática e, de um modo mais geral, os fatores ESG;  e, por último, os ativos privados, que têm um atrativo global, tanto para os investidores institucionais como para os pequenos investidores. Estas são as linhas traçadas por Gad Amar, responsável da Natixis IM para a Europa Ocidental, no seu discurso na Thought Leadership Summit 2023, realizada em Paris com a imprensa europeia.

“Estou convencido de que há boas oportunidades de nas obrigações em comparação com o passado. Há também um grande interesse em conhecer a evolução dos instrumentos do artigo 9.º da SFDR. De facto, há um apetite crescente por este tipo de produtos”, comentou o especialista.

Impacto geopolítico nas carteiras

No entanto, o contexto macroeconómico em que os investidores se movem não pode ser ignorado. Esta incerteza foi precisamente o foco do debate entre Mabrouk Chetouane, responsável de Estratégia de Mercado Global da Natixis IM Solutions, e Axel Botte, estratega global da Ostrum AM. “A política tem desempenhado um papel central nos últimos anos para os mercados financeiros. Podemos dar alguns exemplos recentes: o Brexit, a eleição de Trump e a consequente guerra comercial com a China, ou a guerra na Ucrânia. Todos estes acontecimentos representaram  momentos de grande volatilidade e nas carteiras os ativos mais seguros tiveram um papel fundamental”, afirmou Chetouane.

Por outro lado, importa recordar que estes eventos também representaram oportunidades importantes. Uma espécie de outra face da moeda. “Se olharmos para o conflito na Ucrânia, teve o grande mérito de fazer com que os investidores repensassem as estratégias energéticas em toda a Europa, onde, até há pouco tempo, não havia”, considera o especialista. Todas estas são questões centrais para os investidores e representam uma oportunidade para estes darem passos em frente nas suas estratégias. “Estou convencido de que diferentes países vão desempenhar papéis centrais, como a Turquia ou mesmo a Índia, e isso é algo que temos de acompanhar de perto e com extrema cautela”, acrescenta.

Outro exemplo de atos políticos que impactam os mercados e a economia é a Lei de Redução da Inflação (IRA), lançada pelo governo do presidente dos EUA, Joe Biden. “Isto também teve consequências na Europa. É uma escolha política que tem repercussões nos mercados, uma vez que a política dos EUA visa proteger o mercado interno. Todas essas escolhas têm um efeito sobre as opções de alocação de ativos.  Nunca são apenas decisões políticas, mas também económicas”, sublinha o especialista em IM da Natixis. Além disso, devemos ter em conta o novo papel da China no tabuleiro geopolítico internacional e entender como isso afetará as carteiras”, acrescenta. Como já foi dito, os EUA estão a tentar proteger a sua economia e, segundo o especialista, a Europa deve fazer o mesmo. “Se queremos evoluir, temos de proteger os nossos mercados e, em geral, todos os setores económicos para tentar promovê-los e incentivar a inovação”.

De acordo com Botte, também será interessante ver quais os países que vão poder beneficiar mais das novas dinâmicas que estão a surgir. Alguns exemplos são a supremacia energética ou tecnológica, ou aquelas que serão capazes de gerar desenvolvimentos tangíveis do ponto de vista das alterações climáticas, que é uma questão realmente central.

Inflação e bancos centrais

Do ponto de vista macroeconómico, a inflação continua a ser um problema grave: “Vimos que é difícil devolver a inflação à meta após anos de taxas zero. Devemos, portanto, concentrar-nos no núcleo da inflação e nos fatores que a impulsionam. Neste momento, o mercado de trabalho tem estado muito forte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa”, explica Chetouane. De acordo com os especialistas da Natixis IM, isto representa uma nova era de inflação alta. E para os bancos centrais não há outra alternativa senão continuar a reagir, como já estão a fazer. “Também é hora de os investidores repensarem uma nova alocação de ativos, enquanto os bancos centrais enfrentam uma situação muito difícil e visam a estabilidade financeira”, conclui Botte. Em todo o caso, se tentarmos comparar as duas principais instituições centrais, o BCE e a Fed, a primeira é surpreendentemente melhor do que a segunda. “Já desde julho que Lagarde começou a aumentar as taxas de juro e, na nossa opinião, vai continuar a fazê-lo até junho. Portanto, o risco não está na Europa porque existe um conjunto de instrumentos de política monetária para lidar com a situação atual.