Nem tudo se resume aos veículos elétricos: o futuro dos transportes oferece grandes oportunidades

Alastair Bishop. Créditos: Cedida (BlackRock)

Tempos incertos para os investidores. Além dos riscos cíclicos que afetam a economia mundial, estão a ocorrer mudanças estruturais. A pandemia e as tensões geopolíticas combinaram-se para remodelar o equilíbrio económico mundial. A tendência de décadas para uma maior globalização inverteu-se parcialmente, com significativas implicações para os fluxos de capital e expetativas de inflação. Ao mesmo tempo, porém, a preocupação com as alterações climáticas não se alterou, apesar do compromisso dos governos e da sociedade em geral em avançar para uma economia baixa em carbono para evitar os piores efeitos do aquecimento global.

Um cenário complexo e difícil de navegar, mas no qual a transição ecológica e as oportunidades a ela associadas podem ser uma bússola para as decisões de investimento. “A boa notícia é que muitos dos grandes problemas que os investidores enfrentam atualmente irão acelerar significativamente a transição energética, tornando-a um dos temas de investimento mais sólidos desta década”, explica Alastair Bishop, gestor de carteiras da BlackRock. “Além disso, um contexto mais inflacionista para as fontes de energia tradicionais aumenta o interesse relativo em soluções baixas em carbono e energeticamente eficientes”, analisa.

O futuro dos transportes

Entre os temas-chave segundo o gigante do investimento está a mobilidade sustentável e o futuro dos transportes, nos quais o BGF Future of Transport Fund investe. “Os transportes são a segunda maior fonte de emissões de CO₂ e representam aproximadamente metade do consumo de petróleo”, afirma Alastar Bishop. “A transição para abandonar os motores de combustão interna é uma parte essencial dos objetivos de descarbonização e segurança energética do Governo”.

Mas o mercado continua a subestimar o ritmo da transição. “Em 2018, a Agência Internacional de Energia (AIE) previu que em 2022 seriam vendidos 2 milhões de veículos elétricos a bateria. A realidade é que foram vendidos quase 8 milhões de veículos (dados preliminares da LMC Automotive). “A previsão ficou aquém”, conta o gestor. “Este desajuste entre as expetativas e a realidade criou um enorme impulso para as empresas expostas ao tema nos últimos anos”, opina. E, em geral, espera que esta tendência continue nos próximos anos. “Este é um tema global, com o aparecimento de muitos novos fabricantes de veículos elétricos (por exemplo, na China), enquanto os fabricantes de automóveis existentes continuam a investir globalmente, lançando novos modelos de veículos elétricos”, afirma.

Uma ampla gama de temas

“Embora vejamos uma alteração significativa com a eletrificação dos veículos de passageiros, esta questão é claramente muito mais ampla e abrange todas as alterações relacionadas com a sustentabilidade que estão a ocorrer na mobilidade”, afirma Alastair Bishop. Os veículos são cada vez mais inteligentes e seguros. “Os mesmos esforços para descarbonizar o transporte de mercadorias continuam a aumentar”, explica. Este principio de abrangência da mobilidade ecológica sustenta a estratégia do BGF Future of Transport, que investe em toda a cadeira de valor, das matérias-primas às componentes e tecnologias que apoiam a revolução dos transportes. “É muito importante concentrarmo-nos nos fundamentaiss das empresas e tentar perceber como podem beneficiar da sua exposição ao tema”, afirma. 

Atualização da carteira

A equipa gestora está atualmente cautelosa em relação aos fabricantes de veículos elétricos devido à normalização das limitações da cadeia de abastecimento nos últimos anos, que pode provocar um excesso de capacidade e pressões sobre os preços. Em vez disso, prefere as oportunidades na cadeia de abastecimento, focando-se nos materiais e produção de baterias. Outra área especialmente atrativa para o gestor é a tendência para a deslocalização eficiente.

Na sua opinião, encontramo-nos nas primeiras fases de um importante ciclo de investimento industrial nos mercados desenvolvidos, à medida que as empresas procuram reforçar as cadeias de abastecimento e trazer as capacidades de produção para mais perto de casa. “É provável que este ressurgimento da produção ocidental estimule uma procura significativa de soluções de transporte comercial com baixas emissões de carbono. Trata-se de um importante elemento adicional para os potenciais beneficiários”, conclui.