Nihon kogyo no tokushu sei

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Cedida

“As particularidades das empresas japonesas”, (no título, em japonês).

Praticamente do outro lado do hemisfério norte, o Japão é um país cuja cultura e hábitos estão tão distantes dos nossos como o próprio país. Keita Kubota, como gestor de investimentos na Aberdeen, especialista em ações japonesas, veio a Portugal conversar com a Funds People sobre as particularidades do mercado e sobre o fundo Consistente Funds People, Aberdeen Global - Japanese Smaller Companies Fund.

Para o especialista são vários os desafios que o investimento em ações de empresas japonesas encerra, mas as questões de corporate governance tomam lugar de destaque. “Em comparação com empresas de outras regiões, o corporate governance no Japão pode ser bastante complicado. O que vemos é que, tradicionalmente, as empresas têm muitos acionistas core onde se incluem, por exemplo, fornecedores ou os próprios empregados. No primeiro caso, mesmo que no mercado operem outros fornecedores que podem disponibilizar as matérias-primas a preços mais reduzidos, a empresa mantém a relação com o fornecedor acionista”, explica Keita Kubota.

Para o profissional, embora em períodos de dificuldade esta estrutura acionista possa proteger o negócio da empresa, também faz com que seja muito difícil para os investidores internacionais pressionarem a administração a tomar decisões que aumentem a eficiência e rentabilidade do negócio.

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O gráfico mostra exatamente a elevada ponderação de negócios com uma margem operacional abaixo de 5% no Japão, em comparação com outras economias desenvolvidas. “Há um elevado número de empresas pouco rentáveis, porque a administração não está a trabalhar para agradar os acionistas minoritários”, acrescenta o especialista.

Uma forma de contornar os problemas de uma estrutura acionista pouco flexível é com um board maioritariamente independente, mas Kubota realça que não é o caso na maioria das empresas japonesas: “Com um conjunto adequado de diretores independentes, existe sempre alguma pressão sobre a administração para melhorar a estrutura de custos ou capital, alienação de operações menos core, entre outras atividades corporativas que podem melhorar a rentabilidade do negócio, mas isso não acontece em grande parte das empresas no Japão”.

O profissional ilustra com um gráfico onde é evidente a disparidade entre a realidade japonesa e a de outros países do mundo desenvolvido, bem como o facto de que 76% dos lugares no board serem ocupados por profissionais que toda a vida trabalharam na empresa.

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Excedentes de liquidez

Outra particularidade do mercado é, segundo Keita Kubota, o nível elevado de liquidez que as empresas detêm no balanço. “Isto acontece porque a economia japonesa tem estado flat durante os últimos 20 anos, o que se reflete no consumo e nas receitas. Desta forma, as empresas não têm o incentivo para reinvestir em projetos de expansão de produção. Enquanto que no mundo ocidental quando perante fortes fluxos de caixa as empresas distribuem o excedente aos acionistas, nas empresas japonesas isso não acontece na mesma amplitude. Isto é resultado do ainda recente trauma dos anos 90, em que os preços do imobiliário colapsaram, o crédito em incumprimento subiu e os bancos, à semelhança da crise de 2008 nos EUA, restringiram significativamente o acesso ao crédito. Assim, as empresas e indivíduos não confiam tanto nos bancos, confiam na liquidez”, explica.

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Como ultrapassar estes obstáculos?

Na gestão do fundo Aberdeen Global - Japanese Smaller Companies Fund, a equipa da entidade gestora escocesa tenta contornar todos estes desafios. “O processo de due diligence é difícil e passa sempre por conhecer a equipa de gestão e perceber se está realmente a trabalhar para nós. Tentamos ser investidores ativos. Por vezes acabamos por ser investidores significativos no capital das empresas e estas escutam-nos, pelo que tentamos incentivar a distribuição de alguma da liquidez em balanço.”

O fundo aposta em empresas cuja capitalização de mercado no momento da tomada de posição era superior a 100 milhões de dólares e inferior a 2.500 milhões de dólares. São empresas de elevada qualidade que operam em mercados nicho onde o poder de fixação de preços é significativo e com uma presença global. A carteira é relativamente concentrada - com apenas 37 posições – o que reflete um elevado grau de convicção.

Kubota destaca isso mesmo na descrição de um processo de investimento que requer o aval de todos os membros da equipa: “Com cinco pessoas em Singapura e seis em Tóquio, a nossa abordagem envolve todos os membros da equipa e requer que todos estejam de acordo antes de executarmos o investimento”. O profissional considera que, apesar de perderem agilidade na tomada de decisões, o processo garante que “todas as dúvidas estão dissipadas no momento da tomada de posição”.