“No campo das obrigações pense como preparar a carteira dos seus clientes para os próximos dois anos, e não em como se comportou o mercado nos últimos 24 meses”

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“Em obrigações, hoje mais do que nunca, há que pensar como preparar a carteira dos clientes para os próximos dois anos sem pensar no que aconteceu nos anos anteriores”. É a principal recomendação lançada por Jonathan Sachs, especialista de produto de obrigações de retorno absoluto da J.P. Morgan Asset Management. “Com as TIRs em níveis tão baixos e uma Reserva Federal à qual não resta outro caminho se não começar a subir as taxas de juro, as estratégias globais de obrigações flexíveis, fazem neste momento muito sentido dentro de uma carteira”, afirma. Na sua opinião, quem considere que o mercado de obrigações será capaz de se comportar bem num contexto de endurecimento da política monetária nos Estados Unidos engana-se. “Se bem nos lembramos, e se voltarmos à última vez em que a Fed subiu as taxas de juro, entre os anos de 2004 e 2006, recordaremos como a parte longa da curva sofreu especialmente”.

O que aconteceu durante os últimos meses foi um claro aviso neste sentido. “A correção sofrida por alguns segmentos do mercado foi importante e a correlação entre as diferentes classes de ativos aumentou drasticamente”, aponta. Num contexto de TIRs a negociarem em níveis muito deprimidos, isto tem consequências muito sérias para os investidores de obrigações. Dá como exemplo o tempo médio que demoraria um investidor a recuperar o seu investimento via cupão, comparativamente com aquilo que perdeu com a queda do preço das obrigações. O caso das obrigações do Tesouro a 10 anos é especialmente “sangrento”, tendo em conta que é um ativo considerado ‘seguro’. Os investidores que estivessem investidos neste este ativo demorariam 10 anos para recuperar as perdas registadas como consequência da queda do preço das obrigações.

O medo dos investidores de sofrerem perdas nas obrigações é um dos motivos pelos quais – segundo Sachs – os fluxos se concentraram em estratégias de curta duração. A proposta defendida por Sachs é outra. Mais concretamente, é gerida por Bill Eigen (na foto): o JPM Income Opportunity. “Há anos atrás existiam 20 gestores à frente de fundos incluídos dentro da mesma categoria na qual se enquadra este fundo global de obrigações flexíveis. Hoje o número ascendeu a 141”. No entanto, avisa que o investidor deve ser muito cuidadoso no processo de seleção, já que nem todos seguem a mesma filosofia e processo de investimento. Na verdade, no caso do J.P. Morgan AM, trata-se de um produto com três objetivos claros: preservar o capital, obter rentabilidades positivas em períodos de rolling a 12 meses e consegui-lo com uma baixa volatilidade. Este último ponto é, precisamente, um dos aspectos que diferenciariam o JPM Income Opportunity.

“Algumas estratégias têm conseguido os mesmos resultados que nós com volatilidades entre 4% e 6%. No nosso caso, a volatilidade dos últimos três anos está próxima de 1,1%”. O fundo tem capacidade para jogar com a liquidez, fazendo-o de uma maneira muito ativa. “Usamos liquidez para gerir o drawdown e reduir a volatilidade da carteira. Em 2008 a posição em liquidez chegou a ser de 85%. Então era difícil de explicar aos nossos clientes. Hoje é de 60%. Essa posição permite-nos aproveitar as oportunidades quando se apresentam. Em momentos de volatilidade e correção, tem que se ser muito rápido no mercado. Por exemplo, depois da situação sofrida pelas empresas energéticas de high yield, aproveitámos para construir uma posição. Agora temos 5% neste tipo de empresas. O high yield é um dos 'sítios' para se poder estar. Oferece menor correlação, liquidez e TIR”. A este segmento destinam atualmente 24% da carteira.

Esta parte da carteira é a que normalmente se denomina de estratégias de beta, que fazem referência à rotação tática da carteira entre diferentes ativos segundo o lugar onde se apresente a oportunidade. Junto a estas aparecem duas estratégias complementares: as de alpha (estratégias long/short que oferecem rentabilidades descorrelacionadas com as estratégias de beta) e estratégias com cobertura, cujo objetivo é limitar o drawdown e proteger a carteira. Neste último ponto também incluem o cash.A gestão da liquidez é o que verdadeiramente reduz o risco de uma carteira. Permite-te preservar o capital e dá-te a opção de ser agressivo no mercado quando detectas uma oportunidade”, afirma o especialista. Neste sentido, Sachs explica que quando a volatilidade no mercado é alta, os resultados da estratégia nos doze meses seguintes têm sido muito positivos. Quando é baixa, a estratégia sofre.

“Se acredita que durante os próximos meses haverá volatilidade, este é o produto em que deve estar investido. No caso de contração adicional das TIRs, os resultados do fundo vão decepcionar”. Para além da liquidez, na hora de gerir a equipa baseia-se noutros dois aspectos que seguem com especial cuidado: gestão das taxas de juro e a diversificação da carteira (análise das correlações). “Quando se fala da gestão das taxas de juro, a primeira coisa que vem à cabeça é a gestão da duração. No caso do nosso fundo não é assim. A duração tradicionalmente tem oscilado entre zero e 1,5 anos. Pensamos na gestão do risco de taxas em termos de duração, mas também de um ponto de vista técnico, evolução dos spreads...”. O fundo criado em 2007 e com um património que supera quase os 6.000 milhões de euros, ofereceu nos últimos três anos uma rentabilidade anualizada de quase 2% (classe coberta a euros).