Os mercados de ações não levantam a cabeça. Caem sem que as recuperações sejam significativas. O arranque do ano está a ser muito complicado para os ativos de risco.
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Os mercados de ações não conseguem “encarrilhar”. O arranque do ano está a ser muito complicado, com fortes quedas que superam os 10%, tanto no caso dos EUA como das bolsas europeias. O S&P 500 acumula um retrocesso de 10,5% em 2016, enquanto que o descalabro do EuroStoxx 50 ascende a 12%. “O que está a afectar os mercados é, de certeza, uma combinação entre a China e o petróleo”, assegura Jeremy Leung, gestor de ações europeias da UBS AM. Tanto a queda do preço do crude como a depreciação do yuan são fenómenos positivos para o crescimento global, embora a curto prazo estas oscilações estejam a causar volatilidade. Não estão a ser mexidas graduais, pelo que estão a provocar um crescimento generalizado na aversão ao risco. Esta maior inquietação não está a afectar apenas as ações. Também outros ativos de risco, como o high yield ou a dívida emergente têm saído prejudicados.
Começando pelo yuan, o NN IP considera que efeito ‘gradual’ é realmente o termo chave. “Em primeiro lugar, a depreciação do yuan pode aumentar a incerteza política chinesa ao acentuar a percepção de que os responsáveis por formular políticas são incompetentes, sobretudo na forma como geriram as turbulências nas bolsas chinesas. Para além disso, uma rápida depreciação prejudicará muitas empresas chinesas, devido à dívida denominada em dólares existente nos seus balanços. A gradualidade também é desejável porque a taxa de câmbio yuan/dólar atua como uma espécie de foco de atenção das expectativas de depreciação das divisas dos mercados emergentes em geral. Neste sentido, uma rápida desvalorização do yuan pode fazer sair da lâmpada o génio da depreciação nos emergentes. Se assim acontecer, poderá esperar-se uma considerável perturbação, já que a força determinante desta desvalorização, ou seja, as massivas fugas de capitais, endurecerão as condições financeiras internas e também a oferta de crédito nos mercados emergentes”.
Segundo a gestora, o equilíbrio destas duas forças (depreciação da taxa de câmbio e o endurecimento das condições financeiras/oferta de crédito) exercerão um efeito negativo sobre o crescimento. Na prática, pode supor-se, com certeza, que em muitos países emergentes, o efeito líquido será negativo. No que diz respeito ao petróleo, a descida do preço do crude supõe uma deterioração adicional das relações de troca dos países produtores de matérias primas, tanto do ponto de vista económico, como do ponto de vista dos mercados.
A preocupar mais os investidores está o facto da descida do preço do petróleo ser um sinal de uma nova desaceleração do crescimento da procura nos ME em particular, e do crescimento global em geral. Estas questões estão a refletir-se nos níveis crescentes de aversão ao risco, embora seja importante perceber se se trata de uma preocupação justificada.
Para Leung, gestor do UBS European Opportunity Unconstrained e do UBS Equity Opportunity Long Short, uma das questões que está a gerar incerteza tem a ver com o facto da procura de petróleo não estar a ser forte. No entanto, mais importante ainda são os efeitos que os preços baixos do petróleo podem ter sobre os distintos sectores. É evidente que um barril mais barato beneficia diretamente sectores como as companhias aéreas, embora estas não tenham escapado à correção bolsista. O impacto muito forte pode também ser sentido não só nas empresas ligadas ao sector energético, mas também nas companhias ligadas ao sector financeiro. “Com um petróleo a 40 dólares, calculava-se que muitas empresas energéticas pudessem sobreviver, mas... e com um barril abaixo dos 30?”, questiona Leung.
Correção técnica ou o fim o bull market: eis a questão
Importa perguntar se por esta altura estamos perante uma correção técnica ou perante um ponto de inversão no caminho da tendência de subida demonstrada pelos mercados durante os últimos seis anos? Para a J.P. Morgan AM trata-se de uma correção técnica que não deverá supor uma ruptura do rally. “O que estamos a viver é uma pedra no caminho. O consumo privado sustentará o crescimento do PIB global, com um crescimento económico moderado, que este ano se traduzirá em rentabilidades positivas para os ativos de risco. As correções que estamos a sofrer nos mercados não respondem a fundamentais, mas sim a aspectos técnicos”, assegura Manuel Arroyo.
Neste sentido, o diretor de Estratégia da J.P. Morgan AM para Ibéria recorda que, desde março de 2009, a bolsa dos EUA tinha subido cerca de 250%. “Quando isto acontece, o mercado torna-se muito sensível. Qualquer desculpa é suficiente para gerar um nível de volatilidade desproporcionado”,
Embora por agora pareça difícil ver uma queda da economia em recessão, o certo é que a principal preocupação dos investidores nestes momentos prende-se com qual será o impacto nas distintas economias (tanto emergentes como desenvolvidas), proveniente do abrandamento do crescimento chinês e também dos resultados empresariais. Não é por acaso que os mercados mais castigados neste turbulento arranque do ano sejam aqueles que são integrados na sua maior parte por empresas com laços com a China (como é o caso do Dax) ou outras regiões que estão a ser diretamente afectadas pelo abrandamento da economia chinesa e pela queda do preço do petróleo (como é o caso do Ibx 35 pela vinculação à Telefonica, Santander e BBVA).