O custo dos fundos: alerta para as tendências que estão a acontecer na indústria

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Nikkibuitendijk, Flickr, Creative Commons

Ao longo dos últimos anos, as gestoras foram reduzindo, de forma vagarosa, mas gradual, as comissões de gestão dos seus fundos e os investidores foram movimentando o seu dinheiro para produtos mais baratos. É uma tendência bastante óbvia nos Estados Unidos, que parece não ter volta a dar. A crescente concorrência na indústria da gestão ativa e a pressão que os produtos de gestão passiva estão a exercer, está a forçar as entidades a reavaliarem constantemente o custo que está ao encargo dos seus participantes. Simultaneamente, os investidores estão cada vez mais sensibilizados para a importância que o custo do produto tem para a rentabilidade total gerada.

A questão é que em 2017 os investidores pagaram os custos mais baixos da história. Pelo menos, foi assim nos Estados Unidos. Segundo dados de um estudo realizado pela Morningstar, no ano passado, em média, a percentagem de gastos totais (TER) ponderada pelo património (excluindo fundos monetários e fundos de fundos) nos Estados Unidos situou-se nos 0,52% no final de 2017, o que representa uma redução de preços na ordem dos 8%, em relação ao ano interior. Trata-se da maior redução anual registada desde que a empresa de análise começou a analisar a tendência das comissões médias ponderadas pelos ativos no ano de 2000. A Morningstar estima que os investidores pouparam no ano passado, aproximadamente, 4.000 milhões de dólares em comissões.

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“Esta diminuição nas comissões é um fator muito positivo para os investidores porque as comissões vão acumulando com o passar do tempo e diminuem as rentabilidades geradas pelos produtos”, recorda Patricia Oey, analista de fundos na Morningstar e autora do estudo. A indústria americana está a responder às necessidades de alguns investidores que exigem produtos mais baratos e, consequentemente, implementando reduções onde o dinheiro dos investidores se encontra. De facto, os maiores cortes foram feitos nas ações americanas, categoria que concentra 42% dos ativos que a indústria de gestão de ativos norte-americanos contém (tanto em produtos de gestão ativa como em ETF).

As comissões dos produtos da bolsa americana reduziram-se em 9%, para 0,45% (comissão média que inclui tanto o custo dos produtos de gestão ativa como passiva). Trata-se de um movimento cujo objetivo é recuperar parte dos fluxos que, ao longo dos últimos anos, foram para ETF e fundos indexados – principalmente aqueles que replicam o S&P 500, cujos patrimónios dispararam – como consequência do mau comportamento registado pelo grosso das estratégias de gestão ativa face ao índice americano. A eficiência do mercado americano e a preocupação dos investidores pelo custo do produto está a ser determinante nesta tendência.

Os produtos incluídos dentro da categoria de ações internacionais também registaram o ano passado uma forte queda no custo. Concretamente, a percentagem de gastos totais ponderada pelos ativos caiu 8% para 0,64%. Dentro desta categoria, o custo dos produtos de gestão passiva reduziu-se para 0,23%, o que representa uma queda de 9% em relação ao ano anterior, a maior registada dentro dos fundos de gestão passiva. Embora pudesse parecer que não existia margem para que o custo dos ETF e fundos indexados pudesse continuar a descer, a verdade é que em 2017 voltaram a ser os produtos onde os gastos totais ponderados pelos ativos mais baixaram.

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No geral, a percentagem de gastos totais ponderada pelo património nas estratégias indexadas reduziu-se 7% em relação ao ano anterior. A média em gestão passiva já está nos 0,15% face a 0,16% de 2016 e a 0,18% de 2015. A comissão mais baixa está na categoria de ações americanas (0,11%). “O facto de a percentagem de gastos totais ponderada pelos ativos ter baixado significativamente deve-se principalmente a duas razões: em primeiro lugar à fuga dos investidores para produtos mais baratos e, em segundo lugar, à redução implementada por alguns fornecedores nas comissões que cobram nalgumas das suas estratégias que simulam índices core”, explica Oey.

No que diz respeito exclusivamente à implementação por parte das entidades, de descidas nas comissões, estas estão a ser especialmente no lado da gestão ativa, onde o ano passado quase 50% dos produtos registaram uma redução nas taxas que cobram aos seus clientes. Trata-se de uma percentagem mais elevada do que a registada tanto em 2015 como em 2016. Os fundos que baixaram comissões foram principalmente aqueles que estão dentro das categorias de ações americanas e internacionais. Relativamente à gestão passiva, a percentagem de produtos que reduziu comissões ficou-se nos 25%. “Se se comparar com os fundos de gestão ativa, é menos provável que os ETF e produtos indexados reduzam comissões”, assinala a especialista.

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