O efeito do COVID-19 nos hedge funds: o património gerido cai abaixo dos três biliões de dólares

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HipolitoLuiz, Flickr Creative Commons

Tal como o vírus não descriminou sectores económicos, também não o fez ao nível da gestão de ativos. Há umas semanas publicávamos como a crise causada pelo Covid-19 deixava a negativo o balanço dos ETF europeus no primeiro trimestre do ano, o primeiro negativo em pelo menos quatro anos. E é previsível que esses reembolsos se tenham repetido também a indústria de fundos ativos. À falta de conhecer esse balanço, o que se publicou foi que o impacto que o Covid-19 teve na indústria de hedge funds e este foi, como era previsível, negativo.

Segundo os dados que recolhe a plataforma de dados Hedge Fund Research (HFR) os hedge funds fecharam o primeiro trimestre do ano com um património inferior aos três biliões de dólares, algo que não acontecia desde o terceiro trimestre de 2016, altura em que o mundo se surpreendeu com a resposta positiva ao Brexit. Em concreto, este tipo de produtos perdeu 366.000 milhões de dólares, o que deixou o seu património nos 2.96 biliões de dólares, 12% menos face ao fecho de 2019.

Neste forte retrocesso de ativos tiveram influência tanto os reembolsos líquidos levados a cabo pelos investidores (foram retirados 33.000 milhões de dólares, o mais número de reembolsos num trimestre desde o segundo trimestre de 2009, segundo os dados da HFR), como o mau comportamento generalizado que tiveram as diferentes estratégias que aplicam os hedge funds.

Assim, o índice HFRI caiu 9,4% durante o trimestre, devido sobretudo à subida de 7% experimentada em março. Por tipo de estratégias, as centradas em event driven foram as que pior comportamento registaram já que o índice HFRI Event-Drive (Total) Index caiu 15,3% no primeiro trimestre do ano. Não obstante, também houve outro tipo de estratégias que se conseguiram salvar daquilo que foi um dos piores trimestres para os mercados em décadas. Trata-se de estratégias centradas em macro. O índice HFRI Macro Total acabou o trimestre com um tímido ganho médio de 0,07%, enquanto o HFRI Macro Currency Index acabou este período com uma subida de 5,1%.

Os investidores reagiram perante o aumento sem precedentes da volatilidade e incerteza provocada pela pandemia mundial de coronavírus com um colapso histórico da tolerância ao risco dos investidores e o maior resgate de capital da indústria de hedge funds desde a crise financeira”, afirma Kenneth J. Heinz, presidente da HFR. “Apesar de a volatilidade e da dinâmica do mercado continuarem a ser fluídas durante os primeiros dois trimestres, as realocações de ativos criadas pela venda indiscriminada da gestão de ativos tradicional criaram importantes oportunidades para os fundos especializados long/short, que provavelmente vão beneficiar tanto os fundos com visão de futuro como os investidores institucionais nos próximos trimestres”, afirma.