O paradoxo que se esconde no crescimento do PIB dos Estados Unidos no 1º trimestre

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Werewolfmayer, Flickr, Creative Commons

O consenso do mercado apontava para um crescimento esperado do PIB dos EUA de 1,1%, no entanto o valor real foi de 0,1% no primeiro trimestre. Como se devem interpretar estes valores? Para Keith Wade, economista-chefe da Schroders, esses 0,1% “significam praticamente nada”, mas ainda assim não descarta a possibilidade do PIB do país ter crescido menos do que o esperado devido ao inverno rigoroso vivido nos EUA. Wade diz que o inverno teve impacto negativo nalguns sectores que contribuem para o PIB, como é o caso do investimento em bens residenciais, veículos a motor e exportações. “Espera-se que cada um desses sectores recupere no trimestre atual, o que elevará o PIB real para os 3%”, diz o economista.

Esclarecido este ponto, Keith Wade concentra-se nos dados macroeconómicos que não são influenciados pelo clima, que levaram o mercado a ter um resultado decepcionante no primeiro trimestre: a surpresa negativa no investimento em bens de equipamento e o ligeiro aumento dos gastos públicos que não se via desde a paralisação dos serviços no último trimestre de 2013. “O fraco investimento é mais problemático do que esperar que as despesas de capital ou investimento em bens de capital – CAPEX – tenham uma contribuição positiva para o PIB deste ano, que iniciou 2014 de forma péssima”, diz o especialista. Isto sugere que por detrás de um mau início poderia haver um problema de gestão de tempo, já que no último trimestre do ano passado se viu uma recuperação, tanto no capex como nas ordens dos bens duradouros. “Estamos conscientes de que o capex foi uma fonte de decepção no ano passado e tem a capacidade de decepcionar novamente caso as empresas continuem a mostrar alguma aversão ao risco”, continua o especialista da Schroders.

Na sua análise, Keith Wade destaca ainda, como factor mais positivo, a recuperação do consumo que aumentou até 3%. Isto traduziu-se num “resultado impulsionado em grande parte pelo programa Obamacare, que levou a um aumento acentuado nas despesas de saúde, e que irá continuar durante o segundo semestre e possivelmente durante mais tempo”. Keith Wade resume as suas observações com uma conclusão final: “Vemos que as políticas estão viradas para o crescimento e para o desemprego, a não ser que a inflação fique abaixo de 1%”.