Após um período marcado pela incerteza e contração, o mercado de private equity (PE) começou a recuperar dinamismo. Segundo o relatório Global Private Markets Report 2025: Private Equity Emerging from the Fog, da McKinsey & Company, o setor registou, em 2024, um forte aumento na atividade de transações e distribuições. Esta recuperação foi impulsionada pela melhoria das condições de financiamento e pelo aumento da confiança dos investidores.
Apesar da recuperação, persistem desafios como a necessidade de acelerar desinvestimentos e gerir o crescimento num ambiente macroeconómico ainda instável. No entanto, a combinação de novas estratégias de captação de fundos, uma abordagem mais disciplinada na gestão de ativos e a adoção acelerada de tecnologia indicam que o private equity está a entrar num novo ciclo de crescimento sustentado.
O relatório analisa as principais tendências que moldam o futuro do private equity, considerando a perspetiva dos principais agentes do setor: gestores de fundos (GP – General Partners), investidores institucionais (LP – Limited Partners), estruturadores de transações e operadores das empresas em carteira.
O regresso dos dealmakers
A atividade de fusões e aquisições (M&A) no private equity cresceu 14% em 2024, atingindo dois biliões de dólares em transações, tornando-se o terceiro ano mais ativo da história. Esta recuperação foi liderada pelo segmento de grandes operações (acima de 500 milhões de dólares), cujo valor aumentou 37%.
Entre as principais tendências do mercado destacam-se:
- Aumento do apetite por grandes aquisições, com os fundos a retomarem transações de maior dimensão, apoiados por um ambiente financeiro mais favorável.
- Expansão das compras públicas para privadas (P2P), especialmente na Europa, onde o valor dessas transações cresceu 65%, com maior participação de fundos norte-americanos.
- Saídas de ativos pendentes, com um crescimento de 7,6% nos desinvestimentos, embora o setor continue a lidar com um elevado volume de ativos em carteira. O tempo médio de retenção subiu para 6,7 anos, acima da média histórica de 5,7 anos.
Nem todas as regiões acompanharam esta tendência positiva. A Ásia, por exemplo, registou uma queda de 5,5% nos ativos sob gestão (AUM) e uma redução de 32% na captação de fundos, impulsionada sobretudo pela retirada de capital da China.
Novas estruturas e fontes de financiamento
A captação de fundos continua a ser um desafio. Em 2024, o fundraising global caiu 24%, marcando o terceiro ano consecutivo de declínio. No entanto, os gestores de fundos (GP) estão a diversificar as suas fontes de capital através de:
- Estruturas alternativas, como contas segregadas, co-investimentos e parcerias estratégicas.
- Acesso a investidores individuais, aumentando a democratização do mercado alternativo com maior captação de capital entre clientes de alto património através de fundos abertos ou semiabertos.
- Crescimento dos fundos de tamanho médio, com montantes entre 1.000 e 5.000 milhões de dólares, sendo os únicos que mantiveram estável a sua captação em 2024.
O grande desafio para os gestores de private equity é equilibrar as expetativas dos investidores com a realidade do mercado. Apesar da queda na captação, 30% dos LP planeiam aumentar a sua alocação a private equity nos próximos 12 meses, o que demonstra confiança na capacidade do setor para gerar retornos superiores no longo prazo.
Liquidez e rentabilidade: será que os LP já podem respirar de alívio?
Um dos aspetos mais críticos para o setor tem sido a recuperação do cash flow para os investidores institucionais. Em 2024, as distribuições superaram as contribuições pela primeira vez desde 2015, reduzindo a pressão de liquidez sobre os LP.
No entanto, as yields foram mais modestas do que o habitual:
- O retorno interno (IRR) do setor em 2024 foi de 3,8% nos primeiros nove meses do ano, um valor significativamente inferior à média histórica de 14,5%.
- Os buyouts lideraram os retornos, com um IRR de 4,5%, superando os 1,9% do venture capital.
- O mercado secundário cresceu significativamente, com o volume de transações a atingir um máximo histórico de 162 mil milhões de dólares, refletindo a crescente necessidade de liquidez.
Apesar do abrandamento dos retornos, a tendência de longo prazo continua a favorecer o private equity em relação aos mercados públicos. Desde 2000, o setor tem superado o S&P 500 em termos de retorno acumulado, reforçando a confiança dos LP na sua capacidade de geração de valor ao longo do tempo.
Transformação operacional: o motor do novo ciclo de crescimento
Num ambiente de taxas de juro mais altas e um mercado mais exigente, a estratégia de criação de valor tornou-se mais crucial do que nunca. Os gestores de fundos (GP) estão a reforçar as suas operações em diversas áreas-chave.
- O tamanho das equipas operacionais duplicou nos últimos três anos, com o objetivo de otimizar as empresas em carteira e maximizar o desempenho dos investimentos.
- A disciplina financeira tornou-se essencial, com as empresas a priorizar a geração de cash para reduzir a dependência de alavancagem e garantir uma estrutura financeira mais resiliente.
- O uso estratégico de fusões e aquisições ganhou destaque. Em 2024, as aquisições complementares representaram 40% do valor total das transações, consolidando-se como um mecanismo fundamental para o crescimento das empresas em carteira.
- A inteligência artificial (IA) tornou-se um fator diferenciador no setor. A adoção acelerada de IA na gestão de carteiras está a melhorar a eficiência operacional e a análise de dados, facilitando tomadas de decisão estratégicas e otimizando a rentabilidade dos ativos.
A adaptação às novas realidades do mercado será determinante para o futuro do private equity. O setor está a redefinir as suas estratégias, apostando na inovação, disciplina financeira e criação de valor operacional para assegurar um crescimento sustentável nos próximos anos.