A correção chegou ao mercado de obrigações europeu. Mas a “tempestade” não foi generalizada. Que categorias de fundos saíram imunes do castigo? Simples correção ou fim de ciclo?
Já aconteceu. A correção chegou finalmente ao mercado de obrigações. Nos últimos dias as obrigações europeias sofreram, tanto as core como as periféricas. Na verdade assistiram-se às primeiras perdas dos índices de obrigações soberanas europeias, desde abril de 2013. No caso das bund, o ativo refúgio por excelência, o golpe foi particularmente significativo. Só no último mês, a rentabilidade das obrigações alemãs a 10 anos passou do ponto de oferecer uma TIR negativa, até situar-se próximo dos 0,6%, o que supõe uma queda na ordem de 5% do preço. O mesmo aconteceu com as obrigações periféricas. Estamos perante uma simples correção do mercado ou há algo mais por detrás deste movimento dos mercados?
Depois do fulgurante rally dos mercados europeus no início o ano, muitos atribuem esta correção a factores técnicos. No entanto, a correção foi maior do que o esperado e, por isso, também são muitos os que acreditam que a volatilidade pode continuar. E como têm evoluído nos últimos meses os diferentes segmentos de dívida? A este nível verifica-se que o principal danificado foi o mercado de dívida pública (linha verde), onde a categoria de fundos que investem neste segmento registou perdas superiores a 2,5% durante os últimos 30 dias. A dívida corporativa (linha azul) foi a segunda categoria de produto mais castigada, (-1%), segundo mostra o gráfico elaborado pela Morningstar.
No final de contas o movimento realizado pelo mercado não será mais do que o reflexo da oportunidade que estará representada no mercado de obrigações globais – em geral – e no norte-americano – em particular. É o que refere Manuel Arroyo, diretor de Estratégia da J.P. Morgan AM para Ibéria. “Enquanto que na Europa o QE é descontado, noutros mercados começa a ser descontado o contrário, pelo que a TIR de uma estratégia global é muito maior do que a que pode ser oferecida por um fundo europeu. Quando apostas numa estratégia global, geralmente ganhas em termos de diversificação e segurança e teoricamente perdes em termos de TIR. Agora o que é paradoxal é que também ganhas em TIR”, assegura. A exceção à situação das últimas semanas no mercado de obrigações foi o high yield.
Neste sentido, os fundos de dívida high yield são os que melhor conseguiram resistir à tempestade (linha azul). O que explica este melhor comportamento? “Existem factores técnicos que favorecem o high yield. Entre eles estão a sua menor duração, o facto de não existirem swaps, opções ou futuros sobre esses ativos. Estes foram alguns dos pontos que fizeram com que no último mês este segmento se tenha comportado melhor do que outros segmentos de mercado”, explica Tanguy Le Saout, reponsável de obrigações europeias da Pioneer Investments. Importa acrescentar que esta classe de ativos continua a ser vista por muitos investidores como um refúgio interessante do ponto de vista rentabilidade-risco. “O high yield oferece, pelo menos, uma rentabilidade razoável”, assegura Klaus Kaldemorgen, gestor do Deutsche AWM.