Numa conjuntura em que as correlações tradicionais entre classes de ativos estão distorcidas, o investimento dinâmico em fatores de risco apresenta-se como uma boa alternativa na altura de definir as alocações de uma carteira.
A situação excecional que viveram os mercados desde a crise de 2008 alterou as correlações tradicionais entre as classes de ativos, o que obrigou muito investidores a repensar as estratégias convencionais de diversificação nas suas carteiras. Neste contexto,
o conceito de investimewnto em fatores de risco tem ganho popularidade como alternativa à clássica alocação por classe de ativo. E resulta que, como explicam os especialistas da equipa de análise e estratégia da
Amundi,
"as diferentes classes de ativos mostram uma correlação natural vinculada à sua exposição subjacente a fatores de risco comuns".
"Por exemplo, as ações e a dívida high yield são classes de ativos que mostram diferentes graus de exposição ao risco dos mercados acionistas e que, portanto, estão muito correlacionadas. Esta correlação é amplificada durante as alturas de crise, quando o risco de mercado prevalece perante os restantes". Por isso, é interessante manter presentes estas correlações na altura de construir uma carteira diversificada.
Para os analistas da casa francesa, "a principal vantagem do investimento em factores de risco é que ajuda os investidores a capturar diferentes prémios de risco disponíveis no mercado". Mas também neste caso é importante diversificar. Como pode observar na tabela abaixo, que compara o comportamento de seis fatores de risco do MSCI World, tanto com o índice como com uma carteira que equipondera estes riscos, esta última obteve uma melhor rentabilidade que o MSCI World (8,6% vs. 6%) com um nível de risco ligeiramente inferior e um information ratio significativamente melhor no período de 20 anos analisado.
A análise desenvolvida pela Amundi, demonstra que esta estratégia de diversificação por factores de risco pode melhorar ainda mais mediante alocação dinâmicas em função do momento do ciclo económico, perante a constatação de que nem todos os factores de risco se comportam da mesma maneira nas diferentes fases de expansão, desaceleração, recessão e recuperação (ver gráfico). "Uma carteira baseada neste modelo de alocação dinâmica supera outra que equipondere os factores de risco e raramente se comporta pior que o índice".
A chave residem obviamente, na capacidade do gestor identificar corretamente a fase do ciclo em que se encontra, o que nem sempre resulta bem em momentos de transição de fases ou em períodos, como o atual, em que as políticas monetárias extraordinárias alteraram o normal funcionamento dos mercados.
Os especialistas enfatizam, além disso, que a análise cíclica deve ser completa com critérios de valorização. "Por exemplo, durante a correção que experienciaram as bolsas no verão passado, as ações de maior momentum registaram um comportamento tão melhor que o valor adicional no que respeita os valores de menor momentum justificou a rotação observada em algumas carteiras".
Dificuldades na implementação
No entanto, existem vários aspectos que dificultam a implementação de uma estratégia de alocação dinâmica baseada em factores de risco, como o facto dos índices que medem estes factores costumarem estar expostos a múltiplas fontes de riscos, o que requer o uso de ferramentas de análise capazes de discriminar os diferentes factores de risco aos quais a carteira está exposta.
Para além disso, “o valor de um título deve ser analisado tendo como referência o mercado que negoceia, e o comportamento dos factores de risco pode variar se os diferentes mercados se encontram em momentos diferentes do ciclo. Os indicadores que representam um factor também podem diferir segundo o país, o que sugere que esta estratégia deverá adaptar-se às distintas regiões”. Tanto este aspecto como o anterior implicam uma importante mobilização de recursos de análise que nem sempre estão ao alcance de todos os investidores.
Por último, os investidores devem ter presentes os custos de transação, que podem chegar a ser substanciais – por exemplo, no caso do factor momentum, que exige rodar a carteira com frequência – e que podem reduzir significativamente a rentabilidade destas estratégias. Por isso, os especialistas da Amundi aconselham usar as alocações que têm por base factores de investimento como um complemento ao asset allocation tradicional.