O que esperar dos EUA durante os próximos meses? O olhar das entidades nacionais

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DaveWilsonPhotography, Flickr, Creative Commons

O primeiro trimestre de 2015 deixou muito a desejar para a economia norte-americana. O PIB do país recuou 0,7% nessa altura, e o inverno rigoroso prejudicou ainda mais os dados económicos apresentados. Do Barclays, no seu último seminário levado a cabo em conjunto com a J.P. Morgan AM, recordavam precisamente que os resultados menos favoráveis do PIB norte-americano se ficaram a dever a aspetos conjunturais, como o mau tempo, mas também em parte devido à retração de algumas indústrias por causa da queda do preço do petróleo. Os meses que se seguiram foram de recuperação, e os recentes resultados sobre o segundo trimestre do ano apontam para uma expansão da economia no período, orientada pelo consumo.

Nas perspetivas que as entidades nacionais traçaram para a segunda metade do ano de 2015, indicaram que os dados mais positivos emitidos pela economia norte-americana poderão reforçar as expectativas de que estará para breve o processo de normalização das taxas diretoras. Embora ainda sejam esperadas “melhorias no mercado de trabalho”, como referiu Janet Yellen, depois da última reunião levada a cabo pela Fed na semana passada, setembro ou dezembro continuam a ser alturas prováveis para que a subida de taxas tenha início. Desta forma, a taxa de referência da economia norte-americana manteve-se inalterada neste último encontro, com a presidente da Fed a referir que de facto será necessária uma melhoria adicional no emprego antes do aumento das taxas, estando razoavelmente confiante que a inflação irá avançar para os 2% no médio prazo.

Saliente-se que embora a reunião da passada quarta-feira não tenha trazido grandes novidades, ficou marcada por um incidente. A Reserva Federal já fez saber que, por descuido, incluiu projeções económicas na web de acesso público que na verdade eram, supostamente, confidenciais. Os dados publicados erradamente pela entidade mostravam pessimismo sobre o crescimento real da economia norte-americana tanto para 2015 como para 2016. Indicavam ainda que as taxas médias estariam nos 0,35% no quarto trimestre de 2015, antes de subir para 1,26% em 2016.

Subida para breve: quase inegável

Na visão que as gestoras nacionais emitiram para a restante metade do ano, da Popular Gestão de Activos referiam mesmo que seria um factor surpreendente e inesperado “a não existência de uma subida da taxa de juro de referência por parte da Fed durante todo o ano de 2015”. Da CA Gest, por seu lado, reforçavam que “a expectativa de subida das taxas de juro nos EUA tem sido descontada nas curvas de rendimento da zona ‘core’ e a manutenção da atual tendência de subida das “yields” estará dependente da divulgação de bons números naquele bloco”. Para a Millennium Gestão de Activos (MGA), tal como para outras entidades, uma das dúvidas que fica por responder tem a ver com o ritmo e a dimensão da subida. “Qual a velocidade com que se dissipa o impacto do QE sobre o prémio associado ao investimento por prazos longos que hoje ronda os 25 bps, mas cujo valor nominal é de 120 bps?”, questionavam, considerando este um dos grandes desafios para o segundo semestre do ano.

Agitação: caso taxas permaneçam baixas, caso subam

Apesar do consenso apontar para uma subida das taxas de juro ainda em 2015 por parte da Fed, as entidades acreditam que os perigos podem “espreitar” em duas frentes. O programa de estímulos levado a cabo na economia foi bem sucedido, recorda o ActivoBank, que avisa que a manutenção das taxas de juro baixas por muito tempo “poderá desencadear no médio/longo prazo excessos na concessão de crédito, alterações súbitas da inflação ou sobreaquecimento da economia e dos mercados em geral”.

Por outro lado, da BMO Global AM (antiga F&C Investments) acreditam que “assim que o FOMC comece a subir as taxas é provável que os mercados comecem a luta”. No entanto, embora a subida das taxas possa ser “um duro golpe” para os mercados financeiros, a recuperação não será posta em causa. Igualmente, da MGA, assinalavam que embora a perspetiva de subida das taxas de juro num contexto de crescimento económico positivo não seja negativa, os níveis de volatilidade poderão elevar-se, mais concretamente em termos dos preços dos ativos de risco.