Há duas semanas, o regulador do mercado energético britânico (Ofgem) anunciou que a fatura energética média das famílias irá aumentar até 3.549 libras por ano a partir do início de outubro. E o Reino Unido não é, de forma alguma, uma exceção. No resto dos países europeus, as faturas energéticas dos consumidores podem disparar nos próximos dois anos se os governos não interferirem.”Não são os números específicos que importam, mas sim a magnitude destes aumentos”, aponta Alexander Laing, analista e gestor de fundos na Fidelity International.
Os encargos para os consumidores e o efeito sobre a inflação (por exemplo, através de aumentos salariais ou custos mais elevados repercutidos pelas empresas) são tão grandes que é expectável alguma forma de intervenção por parte dos estados. É o que Bruxelas já considera. Segundo o especialista, as autoridades têm três opções.
Subsidiar as empresas de eletricidade
Uma opção é manter ou baixar os preços máximos da energia e subsidiar diretamente as empresas de eletricidade.
Que as empresas de eletricidade assumam défices de tarifa
Outra opção, que está a ser considerada por alguns fornecedores de energia, é que as empresas de eletricidade assumam défices de tarifa, para que registem nas suas contas o preço teórico que cobrariam aos clientes em função dos preços do mercado grossista, mas depois cobrarem uma tarifa mais baixa. “A ideia é repartir os custos mais elevados suportados pelos clientes ao longo de vários anos, e, entretanto, deixar que as empresas de eletricidade suportem o défice nos seus balanços. No entanto, esta ideia exigiria alguma forma de garantia pública para ser viável”, opina.
Intervir no mecanismo de fixação de preços
Uma possível terceira opção implica a intervenção direta no mecanismo de fixação de preços da eletricidade. “Geralmente, o preço capta o preço necessário para incentivar esse pequeno aumento de abastecimento para satisfazer a procura. Na maioria dos países europeus, este abastecimento é geralmente coberto pelo gás. No entanto, num país como Espanha, por exemplo, o gás representa apenas 15% do seu mix energético total. Assim, no início deste ano, Espanha e Portugal criaram um mecanismo que limita o preço do gás natural que os fornecedores de eletricidade podem utilizar, o que se traduz em preços à vista mais baixos do que aconteceria se os preços atuais do gás fossem utilizados", explica.
Efeito dominó
De acordo com o especialista, os mecanismos anteriores são caminhos ligeiramente diferentes para chegar ao mesmo destino: isolar os consumidores do impacto total dos aumentos dos custos grossistas de energia, impedindo as empresas de eletricidade de repercuti-los diretamente.
“Como resultado, as empresas de eletricidade assumem perdas e estas são depois socializadas através de um mecanismo ou outro. Mas isso não é o fim. Por exemplo, os governos que replicarem o mecanismo ibérico terão que considerar o que acontece com as coberturas já contratadas pelos players do mercado. Também preocupa que aumentar os défices orçamentais possa voltar a pôr em destaque as contas públicas de alguns membros da zona euro, o que poderá ter repercussões para a política do BCE”, avisa.