O que pode fazer descarrilar o rally do value

rally fundos de ações growth value
Créditos: Joshua Ellish (Unsplash)

Após vários anos de uma clara hegemonia das ações growth face às ações value, 2021 tem sido o ano do ressurgimento deste estilo de investimento que tem Warren Buffett como um dos seus grandes precursores. É percetível nos retornos, uma vez que as categorias value quase duplicam a rentabilidade das categorias growth, e é também percetível nos fluxos.

As causas que estão por detrás desta rotação nas carteiras são várias, embora de acordo com os gestores de fundos value que têm o Selo FundsPeople 2021 em Portugal, Espanha e Itália, podem ser resumidas em três: melhores valorizações, sectores que beneficiam da recuperação económica e beneficiários de uma inflação crescente.

No entanto, a questão é se estes fatores já estão ou não refletidos no preço e se ainda há ou não espaço para o value continuar a comportar-se melhor que o growth a curto prazo. As estatísticas dizem que este rally não deve durar muito mais tempo. De facto, segundo Nisha Thakrar, especialista em soluções para clientes da Capital Group, "desde a crise financeira global, mesmo em 2020, houve vários episódios em que o value, embora tenha começado a recuperar, não se materializou numa rentabilidade decisiva". E ilustra isso com o seguinte gráfico.

Períodos desde a crise financeira global em que o índice MSCI World Value superou o MSCI World Growth

Fonte: Capital Group

Não obstante, para que esta estatística se repita no presente, alguns riscos teriam de se materializar, o que, de momento, não aconteceu. Os gestores destes fundos value com o Selo FundsPeople 2021 em Portugal, Espanha e Itália explicam quais são estes riscos.

DA ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA...

"Antes de os investidores regressarem de forma generalizada às ações growth, penso que teríamos de ver uma continuação do ambiente em que nos encontramos desde o fim da crise financeira global: baixo crescimento económico, inflação e taxas abaixo da tendência", resume Andreas Wosol, gestor do fundo Amundi Funds European Equity Value.

Especificamente, como explicam os gestores dos fundos AXA Rosenberg Equity Alpha Trust e AXA Rosenberg US Equity Alpha Fund, "o risco que vemos, como muitos outros, é que novas variantes do coronavírus abrandem ou impeçam a reabertura total das economias, antecipando a recuperação e prejudicando as ações economicamente sensíveis".

Afinal, um travão no crescimento económico seria uma razão de peso para que os bancos centrais mantenham as taxas baixas durante muito mais tempo do que o esperado e, como os gestores do fundo NN (L) US High Dividend nos lembram, "um choque inesperado no crescimento económico e uma queda correspondente nas taxas de juro mundiais poderia beneficiar o growth durante um breve período. As ações growth são de maior duração, e muitos nomes growth beneficiaram muito com o abrandamento do crescimento económico".

...A UMA QUEDA NOS LUCROS

O outro grande risco é que este abrandamento no crescimento acabará por ter impacto nas avaliações das ações e, mais importante ainda, nas suas expectativas de ganhos. Isto é algo que os gestores não estão a considerar neste momento. "Os spreads, mesmo após um bom começo para as ações value em 2021, continuam ampliados e a favor do value. Também a nível sectorial mostra que os retornos nos sectores value têm mais probabilidades de aumentar dada a forte recuperação económica prevista para este ano", diz a equipa do fundo JPMorgan Funds - US Value Fund.

Além disso, há que ter em conta que um dos setores que mais tem tirado partido do estilo growth tem sido a tecnologia, que é um dos mais expostos a alterações regulamentares, como o que está por detrás do acordo do G7 sobre o imposto de 15% sobre as empresas. "Estas empresas estão também a ser alvo de um maior escrutínio jurídico por parte dos reguladores devido às leis antitrust de ambos os lados do Atlântico. Embora seja demasiado cedo para dizer ao que isto levará, acreditamos que terá um impacto nos modelos de negócio e nos potenciais crescimentos de lucros destas empresas," afirmam os gestores do fundo AB SICAV I - European Equity Portfolio.