O que pode oferecer o mercado brasileiro aos investidores?

Alexander Gorra BNY Mellon
Cedida

Depois de alguns anos de mau comportamento, a recuperação registada nos últimos meses no mercado acionista brasileiro fez com que muitos investidores se sentissem novamente atraídos pela bolsa carioca. Muitos deles encontraram o caminho para investir no seu mercado. "Não vemos nenhum cisne negro no horizonte. O país está a reaprender a ser atrativo e avança no caminho certo, embora seja difícil saber se será capaz de liderar o mercado dos BRICs. Identificamos duas categorias de risco relacionadas com a incerteza política e a corrupção: o comércio internacional e o risco político. O Brasil poderá ganhar quota de mercado num futuro próximo, pelo que podemos concluir que o mercado acionista do país está relativamente bem posicionado", afirma Alexander Gorra (na foto), estratega sénior de investimentos na BNY Mellon Investment Management.

Para investir neste mercado, a entidade tem o BNY Mellon Brazil Equity, que ostenta o selo de Consistente Funds People. Trata-se de uma estratégia que está em funcionamento desde 1999. Embora tenha mudado desde do seu lançamento, o track record permanece no mesmo foco de investimento a longo prazo em ações brasileiras. "Adotamos um horizonte de investimento de três a cinco anos e centramo-nos, principalmente, nos fundamentais, e não na volatilidade macro a curto prazo. Ou seja, não tomamos decisões com base na inflação do mês que vem ou nos dados do PIB do próximo trimestre. Interessam-nos as empresas de qualidade. Não investimos em empresas de grande cotação, mas sim naquelas que apresentam boas probabilidades de gerar dinheiro e rendibilidade. Aplicamos uma estratégia orientada para o valor; menos volatilidade e mais valor", explica o profissional.

Nos últimos dois anos, o Brasil atravessou uma situação económica e política muito complicada. O país viveu uma mudança política e agora Alexander Gorra vê um potencial ciclo virtuoso de crescimento económico. "Estamos a falar de uma mudança de governo que poderá demorar entre um a três anos, é algo imprevisível, mas podemos esperar um novo ciclo de maior crescimento económico. Ao longo dos últimos dois ou três anos presenciámos uma grande destruição de valor no Brasil e vemos oportunidades em empresas do sector das matérias-primas, como a Petrobras. Quando os preços do petróleo caíram, fixámo-nos em empresas com má gestão e um mau governance e, nos últimos doze meses, encontrámos oportunidades de investimento interessantes neste grupo de empresas. Na hora de modificar a alocação da carteira, é importante considerar quais foram as empresas que foram mais rentáveis num ambiente de crescimento mais normal".

O fundo investe, principalmente, nos sectores das matérias-primas, financeiro e empresas de serviço público (utilities). "O sector das matérias-primas é muito volátil e o binómio rendibilidade-risco é muito atrativo. No caso do sector financeiro, a rendibilidade-risco foi muito boa: em geral, os bancos brasileiros são capazes de sobreviver, cotam a múltiplos muito baixos e contam com uma boa posição de tesouraria. A nossa estratégia de investimento centra-se em empresas de grande qualidade, pelo que evitamos participar em financiamento de projectos, empresas com uma grande capacidade potencial para gerar lucros no futuro e em empresas com elevado risco institucional", afirma.

No que diz respeito à gestão dos riscos, o especialista considera que o risco de liquidez é o mais importante para os investidores, sendo por isso que fazem controlos de liquidez. "Geramos alfa em empresas líquidas de grande capitalização e investimos menos de 10% em small caps, já que apenas investimos em empresas pequenas quando antecipamos um lucro importante, como em 2009. Monitorizamos, de forma constante, a nossas posições com um foco particular no risco de liquidez e nos lucros ajustados à liquidez. As pequenas empresas estão mais orientadas para o consumo e continuam a ficar para trás".

Relativamente aos efeitos que poderá ter o novo presidente dos Estados Unidos sobre o Brasil, Alexander Gorra mostra-se convencido de que o mercado já descontou o risco potencial de Trump para os mercados emergentes. "Se compararmos a evolução do real brasileiro e do peso mexicano desde do início de 2016, observa-se uma diferença de 30% entre as duas moedas. Os investidores consideram que o risco é muito maior para o México do que para o Brasil. Existe um risco internacional que afeta toda a América Latina, mas pouco importante para o Brasil, que apenas exporta cerca de 10-11% do seu PIB. O país olha muito para dentro e está mais exposto a riscos nacionais do que internacionais. O Brasil deveria centrar-se nos seus problemas internos".

Na equipa centram-se nas expetativas sobre o país, sobretudo no que diz respeito a novas eleições e a futuras reformas. "Quem investe no Brasil pode afirmar que pode gerar valor mediante o investimento em matérias-primas (por exemplo, em empresas como a Petrobras) porque é mais fácil prever as quedas nesse sector. Nós seguimos uma estratégia diferente: observámos que uma pequena mudança no governo poderia tornar-se num grande potencial para gerar enormes lucros, o que nos permitiu ter rendibilidades elevadas. Embora o BNY Mellon Brazil Equity se tenha comportado muito bem em 2016, cometemos o erro de estar sobreponderados em consumo discricionário, pelo que não aproveitámos ao máximo", conclui.

Este fundo foi o produto gerido por entidades internacionais que registou a maior rendibilidade no último ano chinês: o do Macaco, tal como a Funds People Portugal relatou aqui. Durante esse período, que ocupou quase todo o ano passado, o fundo registou uma rendibilidade superior a 104%.