Profissionais de seis gestoras internacionais antecipam o que irá ocorrer hoje nos Estados Unidos com as taxas de juro e identificam os pontos-chave nos quais se irá fixar Janet Yellen quando tomar a palavra.
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Os mercados parecem ter descontado a subida de um quarto de um ponto das taxas de juro que a Reserva Federal poderá aplicar hoje, deixando-as num intervalo entre os 0,75% e o 1%. Será, finalmente, este movimento efetuado? Reunimos as opiniões de seis especialistas de seis gestoras de fundos diferentes, com o objetivo de conhecer a sua opinião relativamente a este importante evento, marcado a vermelho em todos os calendários:
Segundo Anna Stupnytska, economista global da Fidelity, os mercados descontam totalmente uma subida das taxas por parte da Fed a 15 de março, no entanto, os comentários sobre as perspetivas de alterações nas previsões dos participantes (os famosos pontos) serão determinantes. “Durante o mês passado, a inflação subjacente demonstrou uma força especial e, desta forma, se continuarmos a ver uma continuação das pressões sobre os preços ou um retrocesso, também será importante avaliar se a Fed terá que subir as taxas com uma maior rapidez do que se previa anteriormente. Por agora, os dados de crescimento e inflação dos Estados Unidos alteram-se de forma a que a Fed possa subir as taxas de forma oportunista, quando as condições externas e os mercados financeiros demonstrem um bom tom. A aceleração da inflação levará a entidade a pensar que estão atrás da curva e que talvez tenham que subir as taxas sob condições menos favoráveis.
Yves Longchamp, diretor de análise da Ethenea Independent Investors, também vê como uma probabilidade que a Fed suba as taxas de juro nesta reunião. “Os indicadores económicos melhoraram, particularmente aqueles relacionados com o mercado laboral. A inflação também tem aumentado nos últimos meses, devido, essencialmente, aos efeitos base do preço do petróleo. Eliminando os preços do petróleo e dos alimentos, a inflação subjacente tem aumentado lentamente. Além disso, os mercados de ações têm vindo a alcançar novos máximos. Por tudo isto, os dados mostram, de forma clara, um endurecimento das condições de crédito nos Estados Unidos”. Outra coisa é aquilo que se vai suceder durante o resto do ano. A leitura dos preços do mercado indica que a maioria dos investidores estão à espera três subidas das taxas de juro em 2017, o que, segundo Longchamp, é uma visão bastante agressiva e reflete uma alteração de 180 graus na visão dos investidores depois da eleição de Donald Trump.
Jean-Luc Hivert, diretor de investimentos de obrigações na La Française AM, espera que o Federal Open Market Committee decida subir hoje as taxas, mas, ao contrário de Longchamp, parece-lhe razoável assumir que o mercado irá descontar duas subidas adicionais de taxas em 2017, que compara com uma e meia atualmente. “O Federal Open Market Committee da Reserva Federal não necessita de fazer declarações mais duras ou de melhorar as suas previsões económicas, dado que estes provavelmente estarão mais cómodos com as previsões atuais de subida das taxas. A Fed necessita de manter uma atitude dependente dos dados, já que temos uma grande incerteza relativamente ao anúncio da reforma fiscal de Trump”. No que diz respeito à reação do mercado, o especialista acredita que, uma vez que o mercado está preparado para uma subida das taxas e que haverá poucas alterações na comunicação, os mercados de obrigações reagirão ligeiramente de forma mais negativa, ao contrário dos mercados de ações, que deverão responder favoravelmente.
Adrien Pichoud, economista-chefe da SYZ AM, tem poucas dúvidas de que Janet Yellen subirá hoje as taxas de juro em 25 pontos base, sobretudo depois de vários membros da Fed terem declarado, de forma explícita, que as condições económicas atuais justificam outro aumento das taxas. No seu entender, a parte interessante desta reunião estará relacionada com o futuro. “Uma revisão de aumento das expetativas das taxas por parte dos membros da Fed pode indicar que esta está a adquirir cada vez mais confiança na sua capacidade de normalizar a política monetária. Não obstante, é provável que a Fed permaneça cautelosa no meio de um ambiente económico e político positivo, mas altamente incerto. Os elevados níveis de endividamento do setor público e privado fazem com que o crescimento seja demasiado sensível a qualquer endurecimento das condições de financiamento. Do ponto de vista fiscal, resta saber quanto do programa extremamente ambicioso de Trump se irá converter, finalmente, em reformas reais. Neste contexto, é possível que a Fed mantenha a sua estratégia dos últimos meses: manter as opções em aberto até ao último momento, para evitar ser encurralada”.
Stefan Chappot, gestor de títulos corporativos na Vontobel, também acredita que haverá uma subida das taxas, ainda que o fator-chave esteja na comunicação a ser adotada relativamente à dita subida. No seu ponto de vista, a Fed continuará totalmente independente dos dados e continuará com a tarefa, que iniciou há já algum tempo, de normalizar a política monetária. “Existe, neste momento, no mercado americano um elevado nível de esperança e confiança em que as medidas tomadas pela administração Trump pressuponham um imponente impulso para o crescimento económico. Contudo, a esperança nada mais é do que apenas isso, e a Fed baseia a sua política em feitos e dados concretos. Já se passaram quase dois meses desde a tomada de posse de Trump, mas continuam a existir muitas incertezas em quantas das políticas serão postas, finalmente, em prática. Se nos concentrarmos no âmbito fiscal, falou-se de cortes nos impostos, remoção de algumas leis, aumento dos gastos em infraestruturas, etc., mas, no entanto, o certo é que não sabemos o que será implementado de tudo isto, nem quando. Portanto, perante este nível elevado de incerteza, não prevemos grandes alterações nas tendências e políticas da Fed que temos visto até agora”.
Luke Bartholomew, gestor de investimentos da Aberdeen, tem uma visão semelhante à de Chappot. “Não se trata, realmente, de se a Fed subirá as taxas ou não. Esta é uma conclusão previsível. O mais importante serão os sinais que poderão transmitir sobre as próximas subidas das taxas de juro este ano. Estamos a entrar numa fase em que poderão existir quatro subidas das taxas de juro em cima da mesa. Mas os investidores ainda acreditam que só haverão três, pelo que Yellen terá que ter cuidado com o sinal que dá, ou fará com que os mercados estremeçam. O que é realmente importante nesta reunião será o quão bem os mercados de ações se comportam. Isto contrasta de forma notável com 2015 e 2016, quando a mera sugestão de que a Fed poderia considerar a execução de alguma medida provocava, de imediato, volatilidade. Neste momento estão totalmente otimistas, o que é boa notícia. Mas podemos, simplesmente, prever uma dor de cabeça para a Fed, e risco para o mercado, mais lá para a frente. Para evitar o sobreaquecimento da economia, a Fed necessitará de persuadir os mercados de ações para que reajam de tal maneira que as condições financeiras endureçam, como resposta a qualquer subida das taxas”.