Obrigações vs ações: porque é habitual que se comportem da mesma forma

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Créditos: Markus Winkler (Unsplash)

Durante muitas décadas, uma carteira diversificada não era criada sem ser constituída por uma parte em ações e outra em obrigações. No mundo financeiro, na verdade, é conhecida como uma carteira 60/40. E há muitos especialistas que defendem que se trata de um modelo que se tornou obsoleto como forma de diversificação, tendo em conta que a correlação entre ações e obrigações é cada vez menos negativa.

Por exemplo, a gestora J.P.Morgan AM afirma, no seu 2021 Long-Term Capital Market Assumptions que durante a próxima década, uma carteira com a alocação tradicional a ações e obrigações 60-40 do mercado europeu proporciona uma rentabilidade de apenas 3,7% por ano aproximadamente.  E, na Schroders, Sean Markowicz, CFA, estratega, sugere que o facto de as avaliações de ações parecerem cada vez mais caras e de as rentabilidades das obrigações estarem em mínimos históricos, “está a minar a confiança na viabilidade do modelo 60/40”. E defende a inclusão de fundos de ações market neutral (EMN) e multi-estratégia (MS) na carteira para alcançar essa diversificação perdida.

A excecionalidade do século XXI

No entanto, vale a pena perguntar se esta correlação positiva que se vê novamente nos mercados de ações é algo transitório ou, pelo contrário, é o novo normal. E, a julgar pelos dados divulgados pela MFS IM, pode dizer-se que se trata de um regresso à normalidade, mas à do século XX.  “Até às últimas décadas, a correlação tem sido consistentemente positiva, o que faz sentido, porque investir - quer em ações ou em obrigações, quer em mercados privados ou públicos - significa privar-se de consumir agora para fornecer capital para um projeto que deverá compensar os investidores pelo tempo em que o seu dinheiro está imobilizado, bem como pelos riscos inerentes ao investimento”, afirma Robert M. Almeida Jr., gestor de carteiras e estratega de investimento na MFS IM.

Correlações anómalas durante duas décadas

Goldman Sachs Investment Research. Dados de mensais de 31 de julho de 1711 a 31 de agosto de 2021. Dados americanos disponíveis a partir de 1811.

No entanto, esta correlação tornou-se negativa com a entrada do século XXI nas nossas vidas e, sobretudo, com a intervenção dos bancos centrais em funções além do controlo da inflação. “À medida que a intervenção dos bancos centrais se intensificava e as rentabilidades reais caíam, as ações e as obrigações apresentavam uma correlação cada vez mais negativa”, afirma. E o seu prognóstico é o mesmo que se defendeu nos primeiros parágrafos deste artigo. “À medida que a taxa mínima de rentabilidade aumenta, o que esperamos que aconteça, é que também deverão aumentar os prémios de risco, a volatilidade e as correlações entre ativos financeiros”, assegura.