Olga de Tapia (HSBC AM): “Não vamos competir com preços insustentáveis. Isso compromete a viabilidade do negócio”

Olga de Tapia (HSBC AM)
Olga de Tapia. Créditos: Cedida (HSBC AM)

Num contexto marcado pela pressão competitiva e uma vaga de reduções de comissões, algumas gestoras estão a levar os preços dos seus ETF para mínimos históricos com o objetivo de ganhar quota de mercado. Face a essa dinâmica, a HSBC Asset Management aposta numa abordagem prudente e sustentável.

“Não vamos competir com preços insustentáveis. Temos visto grandes casas oferecer ETF abaixo do seu custo real, mas isso compromete a viabilidade do negócio”, alerta Olga de Tapia, diretora global de vendas de ETF e indexação.

Embora estas estratégias possam atrair fluxos no curto prazo, geram dúvidas junto dos investidores institucionais. “Perguntam-nos como vão manter esses preços e acabam por preferir não entrar”, explica. Por isso, a HSBC AM foca-se na consistência, eficiência ajustada ao risco e num modelo operacional robusto.

“Quando cheguei, no final de 2018, o negócio de gestão passiva na HSBC Asset Management tinha pouca visibilidade. Não existiam equipas comerciais nem uma estratégia clara de distribuição. Hoje, seis anos depois, registámos uma das taxas de crescimento mais elevadas da Europa, com 25% de crescimento anual composto”, destaca Olga de Tapia. Atualmente, a gestora ultrapassa os 123 mil milhões de dólares em ativos passivos (ETF e fundos indexados), com dados de final de março de 2025, e ocupa o oitavo lugar em quota de mercado europeia, com cerca de 3%, segundo as suas estimativas.

Inovação estrutural: classes de participação duais em fundos indexados

A HSBC AM introduziu uma estrutura inovadora na Irlanda que permite oferecer classes de participação duais dentro do mesmo fundo indexado. Esta configuração, conhecida como dual share classes, permite ao investidor escolher entre adquirir participações através de um ETF ou por via de subscrições tradicionais junto da gestora, acedendo em ambos os casos ao mesmo veículo de investimento e partilhando a mesma carteira de ativos subjacentes.

Esta estrutura proporciona flexibilidade operacional, liquidez e economias de escala, ao consolidar todos os ativos numa única carteira. A HSBC AM foi a primeira gestora a lançar classes de participações em ETF depois da autorização do Banco Central da Irlanda, tendo sido lançadas em maio de 2023 classes ETF de vários fundos indexados de obrigações, agora rebatizados como UCITS ETF.

Estratégia de produto: core, temáticos e gestão ativa

O plano estratégico da HSBC AM em termos de produto combina escalabilidade, diferenciação e profundidade técnica. Na sua gama core destacam-se veículos como o MSCI World, o EuroStoxx 50 ou o Emerging Markets, que concentram boa parte do fluxo institucional. A estes juntam-se apostas com forte posicionamento estratégico, como o HSBC Hang Seng Tech ETF ou o MSCI China ETF, que permitem uma exposição completa ao universo acionista chinês — algo que alguns grandes concorrentes norte-americanos não conseguem oferecer. Só estas duas estratégias captaram mais de 750 milhões de dólares nos três primeiros meses do ano.

A entidade mantém ainda uma política clara de sustentabilidade: nenhum ETF investe em armamento de destruição maciça. “É um princípio, não uma ação de marketing. Alguns clientes escolhem-nos por isso”, sublinha De Tapia.

A evolução também passa pela gestão ativa. Ao contrário de outras casas que estão agora a iniciar-se neste segmento, a HSBC AM já dispõe de um ETF ativo multifator com mais de oito anos de histórico e cerca de 1.300 milhões de dólares em ativos. A gestora aposta num crescimento prudente, sustentado pela sua equipa de gestão quantitativa, composta por 45 profissionais dedicados, dos quais mais de 20 são doutorados, e com mais de 42.300 milhões de dólares em ativos sob gestão no final de março. “Estamos a avaliar a possibilidade de lançar mais produtos, mas não por modas. Não acreditamos no FOMO do mercado”, afirma.

Um dos elementos diferenciadores da oferta da HSBC AM, que a diretora faz questão de destacar, é a gestão fiscal diária das mais-valias em mercados emergentes. “Aplicamos o método accrual todos os dias, refletindo a rentabilidade real do investidor. A maioria dos concorrentes só o aplica no momento da venda, gerando distorções que só se tornam visíveis na altura da saída”, explica. Esta prática, embora penalize nos rankings de rentabilidade, “evita surpresas desagradáveis ao cliente institucional”. A rentabilidade líquida é a mesma — simplesmente abordamos o tema de forma conservadora.

Distribuição: o retalho continua a ser a grande fronteira

Apesar do forte crescimento nos ativos institucionais, o mercado europeu de ETF continua a enfrentar uma tarefa pendente: a adoção em massa por parte dos investidores de retalho. Enquanto nos Estados Unidos os ETF fazem parte do ecossistema de poupança familiar há décadas, na Europa a adoção tem sido muito mais gradual. “Nos EUA, os ETF compram-se como se fossem pão”, ilustra Olga de Tapia. “Aqui ainda falta cultura financeira e acesso operacional real.”

O enquadramento regulatório também contribuiu para este desfasamento. A diretiva MiFID II está a pressionar para um modelo de distribuição mais transparente, o que tem facilitado a entrada de produtos como os ETF. No entanto, tem havido muito lobby na Europa para travar esse movimento, já que as bancas privadas e os consultores financeiros deixarão de poder cobrar comissões de gestão ocultas.

Olga De Tapia considera que uma possível reforma do enquadramento regulamentar — mais transparente e sem incentivos ocultos, como já acontece no Reino Unido ou nos Países Baixos — será um fator decisivo para acelerar a adoção por parte do retalho europeu. “Estamos preparados para essa mudança. Os ETF serão os grandes beneficiários de uma política de custos clara e direta. E quando isso acontecer, o salto será notável”, conclui.