Romualdo Trancho explica o potencial e a importância da economia circular. Comentário patrocinado pela AllianzGI.
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TRIBUNA de Romualdo Trancho, diretor de Desenvolvimento de Negócio para Portugal da Allianz Global Investors. Comentário patrocinado pela AllianzGI.
O mundo está a ficar sem recursos e começa a ser incrivelmente caro lidar com todos os resíduos produzidos. Até 2050, prevê-se que a procura global de recursos naturais exceda a capacidade de três Terras1. As taxas de consumo de recursos vitais, como a biomassa e os combustíveis fósseis e minerais, deverão duplicar nas próximas quatro décadas, com as previsões a indicarem um aumento de 70% na geração de resíduos2.
Economia Circular
A Economia Circular (EC) é um sistema económico que visa minimizar o desperdício e o esgotamento dos recursos, promovendo o uso contínuo, a reciclagem e o reaproveitamento de materiais e produtos. Em contraste com o modelo económico linear take-make-waste, que envolve a extração de recursos, o investimento em energia e trabalho na fabricação de produtos e, eventualmente, o seu descarte, o modelo EC visa prolongar a vida útil dos produtos e reintegrar e trazer de volta os seus materiais à produção.
Para as empresas, um modelo de negócio circular ajuda a responder às preocupações relacionadas com a volatilidade da oferta e dos preços das matérias-primas, a reduzir os custos e a diminuir o respetivo impacto ambiental e a dependência das importações. Sem dúvida, os impactos ambientais da extração de recursos já são imensos e vão continuar a aumentar. A poluição, a perda de biodiversidade e de serviços ecossistémicos, todos com custos financeiros significativos, são os exemplos mais evidentes destes impactos.
A Economia Circular não é um conceito novo numa diversidade de setores, tendo alguns já abraçado esta oportunidade há décadas. A indústria automóvel, por exemplo, tem um próspero mercado de carros usados e de peças. O setor eletrónico, por outro lado, está menos desenvolvido, com o modelo de negócio de muitas empresas a assentar na obsolescência planeada. O resultado é uma acumulação maciça de resíduos eletrónicos e um processo de fabrico vulnerável à escassez crítica de matérias-primas.
Dado o vasto potencial para a aplicação dos princípios da Economia Circular em todas as indústrias, a circularidade poderá valer 4,5 biliões de dólares para a economia global até 2030 e 25 biliões de dólares até 2050. Mas devemos ter em conta que os quadros regulamentares são fundamentais para a sua evolução.
Regulamentação
Apesar das diferenças regulatórias regionais, identificamos quatro políticas que ajudam a promover a circularidade: (i) metas de reciclagem; (ii) Responsabilidade Alargada do Produtor (EPR, na sigla em inglês)3; (iv) proibição de aterros; e (v) impostos de incineração. Ora, em linha com os objetivos climáticos mais amplos da União Europeia, incluindo a neutralidade carbónica até 2050, os investidores devem estar cientes do número crescente de regulamentações a exigir a sustentabilidade e as zero emissões líquidas.
A Comissão Europeia deixou claro que a estratégia da UE para limitar o impacto económico no planeta não pode ser alcançada sem uma Economia Circular4. Tendo lançado o seu Plano de Ação para a Economia Circular em 2020, vai exigir que 50 mil empresas da UE passem a divulgar o desempenho da EC a partir de 20245. A maior transparência vai ajudar a direcionar o capital especificamente para atividades circulares.
Oportunidades
A Economia Circular representa uma oportunidade para os investidores mitigarem os riscos e promoverem uma adaptação económica genuína ao clima, à biodiversidade e aos desafios sociais através de uma reinvenção radical do ciclo de vida dos produtos. Embora estejamos ainda nas fases iniciais em matéria de dados e relatórios de circularidade, acreditamos que o envolvimento ativo dos investidores com as empresas é essencial para avaliar a sua compreensão e o seu compromisso com a EC e modelos de negócio mais eficientes.
Numa primeira análise, setores como o eletrónico e o têxtil apresentam um maior risco, mas também uma maior oportunidade de adição de valor ao adotarem a circularidade. E esperamos que o aumento da regulamentação global e da UE se consiga combinar com a procura dos consumidores para impulsionar a inovação da Economia Circular, o que deverá alargar ainda mais as oportunidades oferecidas aos investidores.
Sabia que... se fosse adotada uma abordagem circular em apenas cinco setores (aço, alumínio, cimento, plástico e alimentos), poderia realizar-se uma poupança global de 9,3 mil milhões de toneladas de CO₂ em 2050, o equivalente à eliminação das emissões globais dos transportes6? Adotar os princípios da economia circular na Europa em matéria de mobilidade, ambiente construído e alimentação pode oferecer benefícios anuais de 1,8 biliões de euros até 20307.
A trajetória insustentável de consumo e extração
Notas
1 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, 2023, https://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-consumption-production/
2 Eventos Siemens e Reuters, junho de 2023, Towards a circular economy for industrial electronics
3 Um esquema EPR (Extended producer responsibility) é uma medida regulatória que envolve a fixação de taxas para que as empresas paguem pelos custos associados à gestão do fim da vida útil dos seus produtos.
4 Parlamento Europeu, maio de 2023, economia circular: definição, importância e benefícios. https://www.europarl.europa.eu/news/en/headlines/economy/20151201STO05603/circular-economy-definition-importance-and-benefits
5 https://eco-act.com/blog/csrd-non-financial-disclosure-in-eu/
6 Ellen MacArthur Foundation, Growth within: A circular economy vision for a competitive Europe (2015) https://www.ellenmacarthurfoundation.org/ growth-within-a-circular-economy-vision-for-a-competitive-europe
7 Estratégia Accenture, 2015, A Vantagem da Economia Circular https://www.palgrave.com/gp/media-centre/press/waste-to-wealth/10264126